Eric Schmidt

Você tem um segredo? Não o publique na Internet!

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Hackers desmentiram todos os selos de segurança da home page do Ashley Madison

Hackers desmentiram todos os selos de segurança da home page do Ashley Madison

No dia 18, hackers expuseram publicamente dados pessoais de 37 milhões de usuários de um site. Isso já seria muito ruim em qualquer caso. Mas, se considerarmos que se tratavam de assinantes do Ashley Madison, site que promove relacionamentos extraconjugais, o acontecimento foi devastador. A questão é: isso poderia ter sido evitado?

Com o slogan “a vida é curta, curta um caso”, o Ashley Madison é o tipo de serviço que deveria ser construído sobre discrição e segurança de dados. Não obstante, os hackers liberaram os arquivos demonstrando que as informações estavam todas lá sem sequer uma criptografia básica.

Os incautos usuários acreditavam que protegiam sua privacidade criando um nome de usuário e um e-mail exclusivo para as puladas de cerca virtuais. Mas, para pagar pelo serviço, precisam informar os dados reais de seu cartão de crédito. E o site armazenou tudo isso. Com o vazamento, pode-se agora buscar, nesse gigantesco banco de dados, o nome verdadeiro de cada assinante, os dados de seu cartão, seu endereço, fotos que postou, as pessoas com quem falou e até mesmo as conversas.

Imaginem a situação dessas pessoas! A polícia canadense investiga dois suicídios que podem ter sido motivados pelo vazamento. Vale lembrar que o Brasil é o segundo país com mais usuários no serviço e São Paulo é a cidade com mais assinantes no mundo.

O Ashley Madison demonstrou grande amadorismo por guardar as informações sem criptografia e por armazenar dados dos cartões de crédito, para dizer o mínimo. Nesse caso, seus usuários não tinham alternativa. Mas será que cuidamos bem das informações que colocamos na Internet o tempo todo?

A resposta simples: não.

Em 2009, Eric Schmidt disse: “se você tiver alguma coisa que não quer que os outros saibam, não a publique na Internet.” O então CEO do Google explicava que não existe segurança absoluta e que eventualmente essa informação aparecerá em um buscador.

 

Superautoexposição

Obviamente ele não estava sugerindo que deixássemos de usar serviços digitais. E o que mais fazemos é colocar a nossa vida na Internet. Os mais espertos ainda usam com inteligência os recursos de privacidade de redes sociais, mas eles são apenas um controle mínimo, facilmente burlável, às vezes até sem querer.

Mas o buraco é mais embaixo. Vivemos em uma época em que as pessoas deliberadamente querem se expor, e fazem isso muitas vezes de maneira irresponsável e até perigosa. O meio digital criou uma falsa sensação de que tudo podemos, sem consequências.

Naturalmente isso não existe. De virtual, nosso “eu digital” não tem nada. Nossa vida online e nossa vida presencial são diferentes representações de uma única realidade.

Em tempos de smartphones que são poderosos computadores permanentemente conectados, compartilhamos nossa vida cada vez mais, muitas vezes sem que saibamos. Ou você acha que aquela oferta de um produto que você deseja em uma loja que está bem a sua frente chegou ao seu celular por pura coincidência?

 

O valor da informação

Algumas empresas já aprenderam a usar esse mar de informações que graciosamente oferecemos para entregar serviços e produtos cada vez mais personalizados e úteis. Ninguém faz isso melhor que o Google e o Facebook. Tudo aparentemente de graça! Mas, se você usa algo sem pagar nada por ele, não se engane: você não é o consumidor, é o produto.

Por mais assustador que isso pareça, é muito pouco provável que alguém deixará de usar produtos do Google ou do Facebook por estarem fazendo dinheiro com nossos dados. Mesmo que essas empresas saibam mais sobre nós que o Grande Irmão da sociedade distópica da obra 1984, de George Orwell, a esmagadora maioria está muito longe de se sentir oprimida por elas. Conscientemente ou não, achamos tudo isso um preço justo pelos produtos e serviços que recebemos em troca.

Precisamos apenas (tentar) garantir que nossa intimidade continue só nossa tomando cuidado com o que colocamos na rede. Afinal, nunca se sabe quando um grupo de hackers exporá a todos os segredos do Grande Irmão.

 

Atualização: diante de alguns comentários que este post recebeu, acho importante deixar claro que, de forma alguma, estou julgando os usuários do Ashley Madison. Por mais que, para muita gente, o que eles fazem é errado, essas pessoas foram vítimas tanto da incompetência do serviço, quanto dos hackers que os expuseram. São livres para fazer o que quiserem, e é absolutamente desproporcional alguém perder a própria vida por uma eventual traição conjugal. Meu alerta no post segue a linha do que propôs Eric Schmidt: não podemos simplesmente acreditar que a Internet protegerá magicamente nossas informações. Podemos colocar nela o que quisermos, mas precisamos ter consciência que essa informação nunca estará completamente segura.

“Uso mais que justo”: remunerado

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O Google e a mída: quem carrega quem?

O Google e a mída: quem carrega quem?

Na última reunião anual da Associação de Jornais da América, Eric Schmidt, CEO do Google, defendeu, em sua palestra, que o Google News ajuda os jornais, conduzindo gratuitamente tráfego para seus sites. Assim, os veículos faturariam com publicidade em suas páginas. Seria, portanto, um “uso justo” de porções desses conteúdos para viabilizar o Google News, tentando diminuir a crescente gritaria de que o serviço estaria pirateando trabalho alheio em seu único benefício.

Esse é seu ponto de vista.

No meu post Limites do “uso justo”, no dia 16, analisei essa idéia. Ela é legítima e pesquisas subsidiam e idéia de Schmidt. Só há uma falha nesse raciocínio: por mais que os internautas caiam nas páginas dos veículos, isso não é suficiente para salvá-los do atual desastre econômico. Apesar de o CEO do Google ter parecido arrogante para muitos (e talvez tenha sido mesmo), sou obrigado a dizer que os responsáveis por esse fracasso da mídia na Internet são as próprias casas editoriais, que sempre menosprezaram suas publicações online. Muitas ainda fazem isso, mas agora, com a água no pescoço, bradam palavras de ordem contra a inevitabilidade dos fatos online.

Maureen Dowd, colunista do The New York Times, resumiu esse sentimento em um artigo publicado no último dia 14. Em determinado ponto, ela escreveu: “por que o Google não nos assina um gordo cheque por usar as nossas histórias, de modo que possamos manter salários e balanços e continuemos a oferecer ao buscador nossas histórias?”

Bom, esse é outro ponto de vista válido.

E então vem o renomado consultor de mídia Steve Outing, com quem costumo concordar, e sugere em seu blog que o Google News passe a exibir mais publicidade (hoje ela é bem tímida), distribuindo uma porcentagem de seus ganhos aos provedores de conteúdo que forem clicados em cada uma das páginas do serviço. Dessa forma, o Google ajudaria, segundo Outing, os jornais a saírem da lama em que se encontram e evitaria um movimento non-sense de muitos dinossauros da (grande) mídia, que querem fechar o seu conteúdo apenas para assinantes, algo que não interessaria ao internauta ou ao próprio Google.

Dessa vez, concordo apenas parcialmente com Outing. Não acho que caiba ao Google -ou a qualquer um- salvar jornais de sua própria incompetência econômica. Tampouco gostei do tom quase ameaçador do tipo “ajude-os ou você ficará sem conteúdo”. As coisas não funcionam assim.

O bom jornalismo é algo crítico para todas as sociedades. Sem ele, nossa cidadania se reduz gradativamente. Felizmente a crise atual não acabou com ele: dos recém-entregues Prêmios Pulitzer, muitos foram para alguns dos veículos mais afetados pela situação da economia. O The New York Times levou cinco deles, seu segundo melhor desempenho da história, apesar do prejuízo de US$ 74,5 milhões anunciado na semana passada.

O gigante de buscas já tem acordos com a Associated Press e com a France Presse pelos seus conteúdos usados no Google News. Os jornais podem aprender muito com a turma online sobre como ganhar dinheiro nesse novo cenário econômico. Mas precisam se despir de preconceitos e de idéias vetustas que os levaram ao buraco em que estão.

Limites do “uso justo”

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O CEO do Google insiste na queda de braço do "uso justo" contra os executivos da indústria de mídia

O CEO do Google insiste na queda de braço do "uso justo" contra os executivos da indústria de mídia

No último dia 7, Eric Schmidt, CEO do Google, colocou o dedo na ferida: o Google News mais ajudaria que atrapalharia jornais, revistas e outras fontes de informações. Não é bem o que eles pensam. Na verdade, cresce o coro de executivos da mídia que acha que o serviço se apropria indevidamente de seus conteúdos para gerar a sua página de notícias automática. O Google rebate, afirmando que faz apenas “uso justo” (“fair use“) desse material alheio e que os jornais se beneficiam grandemente do tráfego que ele lhes gera, já que usa apenas pequenas porções de textos e imagens, remetendo os internautas aos sites de origem das notícias.

O discurso de Schmidt aconteceu em plena reunião anual da Associação de Jornais da América e foi seguido de perguntas relativamente comedidas da platéia, formada por líderes da indústria. O momento estava cheio de ganchos para a fala do CEO: a mídia -especialmente jornais dos EUA- está atravessando uma crise sem precedentes, com a bancarrota de vários títulos tradicionalíssimos, o Google começou a veicular anúncios no Google News e a Associated Press resolveu endurecer na proteção dos direitos de propriedade intelectual do material que ela distribui.

Essa discussão não é nova: em março de 2005, a France Presse processou o buscador, pedindo US$ 17,5 milhões de indenização pelo uso de seu material no Google News. O processo foi arquivado dois anos depois com um acordo entre as partes. Os detalhes não foram revelados, mas o Google News pôde continuar publicando material da agência francesa. Um ano antes disso, um acordo semelhante já havia sido firmado com a Associated Press (que nem chegou a processar o Google). E essa briga também remete a outro assunto que já rendeu acalorados debates, mas anda em baixa: o “deep linking“, que significa um site apontar diretamente para matérias ou artigos de outros sites, ignorando suas home pages. Exatamente como fazem os links nesse post, por exemplo.

A discussão atual gira em torno do que é “uso justo” do material de terceiros. Assim como no Brasil, nos EUA é legalmente aceitável usar porções limitadas de produtos alheios (até mesmo de concorrentes), dentro de condições específicas. Um exemplo clássico é o uso de até três minutos de imagens esportivas geradas por emissoras de TV nos programas jornalísticos de outros canais.

Porém, como acontece sempre que existe um juízo de valor envolvido, o limite entre “uso justo” e uso indevido é tênue. O próprio Schmidt disse no evento que isso depende da escola que o jurista seguir, mas fez questão de acrescentar que, na dúvida, a balança deve pender para o lado do consumidor. Nas entrelinhas, jogou a batata quente no colo dos donos de jornais: se não concordassem, poderiam ser taxados de anacrônicos e  contrários aos interesses dos internautas.

Os executivos, por outro lado, sentem-se pressionados para manter suas operações -mais que rentáveis- vivas em meio à crise. Muitos pensam em fechar o seu conteúdo, indo na contra-mão da indústria, outros estudam a adoção de micropagamento ou de outros modelos alternativos. Nesse cenário de incertezas, o Google News pode, em suas visões, ameaçar o “controle” dos produtores de conteúdo.

Então vem o Google e argumenta que, qualquer que seja o modelo de negócios adotado, ele é o maior parceiro do produtor de conteúdo, pois nada lhe geraria mais tráfego individualmente que o Google News e sua tradicional busca. E ele tem razão. Estudo realizado pela empresa de pesquisas Hitwise Intelligence mostra que, de todo o tráfego dos sites de notícias em março, 21,69% foi gerado pelo Google e outros buscadores. Os executivos da mídia sabem disse e declaram que não querem perder um “parceiro” tão importante.

Apenas não querem fornecer o conteúdo para que ele crie as páginas que lhes geram esse tráfego…