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Você vai abandonar o PC em 2017? E a sua empresa?

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Imagem: reprodução

No dia 4, a Qualcomm lançou o Snapdragon 835, o mais poderoso processador para celulares já criado. Mais que simples curiosidade tecnológica, a novidade coloca mais um prego no caixão dos PCs e deve impulsionar ainda mais o poder de smartphones. Não é de se estranhar, portanto, que tanta gente esteja literalmente trocando seus computadores por celulares! Mas e as empresas (inclusive a sua), estão preparadas para lidar com essa mudança de hábito dos consumidores? Resposta: a esmagadora maioria não!

A substituição de computadores por smartphones está tão consolidada, que até já aparece nas estatísticas do IBGE. No fim de 2016, o órgão divulgou resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios que demonstraram que, pela primeira vez na história, a quantidade de residências brasileiras com computador diminuiu de um ano para o outro. Em sentido contrário, o número de domicílios com internet cresceu 20% em dois anos.


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Até há alguns anos, essas duas conclusões seriam contraditórias. Hoje fazem todo sentido. Isso porque a imensa maioria dos computadores comprados para residências no pais destinam-se a atividades simples, como pesquisas na Internet, conversas online e produção de textos. Até bem pouco tempo atrás, um computador era a única possibilidade de se fazer isso. Hoje os celulares cumprem essas tarefas tão bem ou até melhor que os PCs e trazem duas vantagens inegáveis: não precisam ser compartilhados com outros membros da família e estão conectados e prontos para uso o tempo todo, onde quer que estejamos.

Nossa vida está de tal forma integrada aos celulares que, se esquecemos nossa carteira em casa, damos um jeito para passar o dia sem ela, mas, se esquecemos o celular, voltamos para buscá-lo. Afinal de contas, as tarefas que desempenhamos com ele estão cada vez mais diversificadas e essenciais. Tanto que a GM usou esse comportamento no comercial abaixo, ainda em abril 2014:



É uma propaganda de carro, mas a coisa mais importante parece ser o celular! Ou seja, a capacidade de se conectar ao seu smartphone se transformou em um argumento de venda do Ônix, “um carro feito para os dias de hoje”.

E como ficam os PCs diante desse avanço dos celulares?

 

Agonia lenta

Não estou dizendo que o PC vai sumir totalmente ou que isso vai acontecer de uma hora para outra. Mas até um cego vê que as vendas de computadores despencando. Segundo o IDC, no Brasil, elas caíram 35% no terceiro trimestre de 2016 em relação ao mesmo período de 2015. Nas residências, o tombo foi de 38%.

O que ainda garante uma sobrevida aos computadores? Existem muitas tarefas que ainda são difíceis de ser executadas em dispositivos móveis, como smartphones e tablets.

Os empecilhos podem ser agrupados em três grandes grupos: interface (um mouse é muito mais preciso que nosso dedo), tamanho da tela e capacidade de processamento. Mas os primeiros vêm sendo resolvidos criativamente pelos designers de interface, enquanto que, para os segundos, as telas estão ficando cada vez maiores. Quanto ao poder da máquina, lançamentos como o da Qualcomm minimizam continuamente a vantagem dos PCs, até que ela desapareça por completo

Mas, como dito acima, para a imensa maioria das pessoas, os celulares atuais já dão conta do recado. Para elas, a conectividade é a coisa mais importante que existe.

Mas então o que as empresas estão fazendo para tirar proveito disso?

 

Primeiro no celular

Quando eu trabalhava no Estadão, lá pelos idos de 2010, começou a ficar popular o conceito de “digital first”, especialmente entre os veículos de comunicação (talvez para tentar compensar o seu imperdoável atraso nisso). Ele preconizava que as empresas, ao pensar em seu negócio, deveriam considerar, desde o primeiro momento, que ele deveria funcionar bem nos meios digitais. Na verdade, se fosse para escolher entre o online e o off line, o primeiro deveria ser privilegiado.

De lá para cá, o “digital first” foi substituído pelo “mobile first”. Ou seja, não basta funcionar bem nos meios digitais: tem que funcionar bem nos celulares. E aí a coisa fica feia.

As empresas já sabem, por exemplo, que precisam ter um bom site. Mas a maioria continua pensando nos computadores quando produzem seus sites. Então possuem uma ótima presença online na Web, mas apenas quando o site é visto em PCs. Se for aberto em um celular, muitas vezes fica inutilizável.

Um erro clássico é insistir em tecnologias ultrapassadas, como, por exemplo, o Flash. É verdade que ele foi fundamental para tornar a Web muito mais bonita e interativa há uns 20 anos, mas se tornou pesado e inseguro, acabando sendo banido dos celulares. Além do mais, hoje é possível fazer a mesma coisa com HTML 5, mais estável e leve. Então por que insistir no Flash?

O negócio é tão sério, que o Google penaliza sites que não aparecem bem em celulares, jogando-os para baixo nos resultados de seu buscador. Outro bom exemplo é The New York Times, que bloqueia o próprio site nos computadores da empresa. O objetivo: forçar os funcionários a usar os produtos nos celulares, para terem a mesma experiência que a maioria dos clientes.

Mas há ainda um outro tipo de erro comum na presença das companhias nos celulares.

 

Use bem a plataforma

Smartphones e tablets são equipamentos incríveis, que permitem aos desenvolvedores criar soluções inovadoras e muito úteis aos usuários, graças a uma enorme quantidade de sensores (como geolocalização), ao fato de se integrar com muitas bases de dados do proprietário (como informações do Facebook e do Google) e por estar continuamente online. Então por que muitas empresas insistem em oferecer aplicativos que se limitam a transpor para a telinha o que eles oferecem na Web?

Fazer isso é muito desperdício de potencial tecnológico! É como ter uma Ferrari e usá-la apenas para ir à padaria da esquina!

Aplicativos de e-commerce são um mau exemplo disso. A maioria não oferece nada além do que está em seu site. Francamente, para que desenvolver um app então?

Mas peguemos o exemplo da Amazon. Seu aplicativo tem um recurso bastante interessante:  quer comprar um produto que você está vendo na sua frente ou em uma imagem? Basta fotografá-lo com o aplicativo! Afinal, todos os celulares têm uma câmera. Em segundos ele o reconhecerá o item e dará o link direto para comprá-lo. Há ainda o caso da Amazon Go, as novas lojas físicas da empresa, em que o consumidor pega os produtos que quer e sai sem precisar passar pelo caixa, discutido aqui recentemente. Nelas, o celular tem um papel essencial na identificação do usuário.

Algumas empresas já aprenderam a se aproveitar da geolocalização –a capacidade do smartphone de saber onde o usuário está em tempo real. Dessa forma, sempre que o cliente se aproximar de uma loja física do varejista –ou de um concorrente– o celular pode jogar na tela uma oferta convincente, com base no perfil de compras do indivíduo.

Esses são apenas alguns exemplos mais óbvios de como qualquer negócio pode tirar muita vantagem dos celulares, mas poderíamos ficar aqui horas debatendo possibilidades para cada caso. Na maioria delas, nem é preciso um grande investimento. Cada vez mais, o único limite fica sendo a criatividade do dono do negócio e do desenvolvedor.

Portanto, pergunte a você mesmo e responda com sinceridade: o seu negócio já abraçou para valer os smartphones? Pois você e seus clientes já fizeram isso! Não dá para descolar uma coisa da outra.


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A melhor defesa é o ataque

By | Jornalismo, Tecnologia | No Comments
O lançamento do Adobe Edge pode representar mais um ataque ao modelo de controle total da Apple, que uma defesa diante de um suposto fim do Flash

O lançamento do Adobe Edge pode representar mais um ataque ao modelo de controle total da Apple, que uma defesa diante de um suposto fim do Flash

Recentemente, a Adobe liberou a primeira versão preliminar do Edge, um novo produto que permite a desenvolvedores criar sites em HTML 5. De imediato, muita gente no mercado disse que a empresa de San Jose (Califórnia) havia se rendido ao movimento contrário ao Flash, que ganhou força porque iPhones e iPads não rodam nada feito com ele. Alguns colegas macmaníacos chegaram a comemorar a morte do Flash, creditando o feito à Apple.

Muita calma nessa hora! Ele continua bem vivo. Apesar do incômodo para usuários e desenvolvedores causado pela briga entre Adobe e Apple, o Flash continua sendo a primeira e a segunda opção para se criar conteúdo multimídia na Web. Tanto que navegar pela Web com iPhones e iPads ainda é uma experiência frustrante pela sua incapacidade de rodar elementos criados com Flash. A Adobe naturalmente nega que o Edge tenha sido criado para substituir o Flash, sendo apenas sua resposta a uma comunidade de desenvolvedores que deseja explorar o HTML 5.

O que pouca gente notou é que essa nova investida da Adobe pode criar uma enorme dor de cabeça à Apple. Qualquer um que queira criar produtos para iPods, iPhones e iPads tem que se submeter a regras bastante rígidas da Apple. Como a única maneira de se instalar algo nesses produtos é passando pela App Store, a Apple controla com mão de ferro esse desenvolvimento, sumariamente rejeitando qualquer coisa que contrarie seus interesses. Sem sua benção, os usuários não têm acesso a qualquer produto.

Mas a Apple não controla a Web e, consequentemente, o HTML 5. Em um mundo em que as coisas funcionam cada vez mais na “nuvem”, essa linguagem é mais que suficiente para criar aplicaçōes bastante sofisticadas (experimente visitar a Chrome Web Store, do Google). Sofisticadas e livres do controle do império de Steve Jobs.

Por isso, as grandes empresas de mídia, que veem nos tablets uma tábua de salvação frente às dificuldades de seu antigo modelo de negócios, mas que se sentem muito incomodadas com as regras da Apple, começam a prestar atenção no HTML 5. O Financial Times foi o primeiro grande título que substituiu sua aplicativo para iPad por um equivalente na Web. Para o usuário, não há nenhuma perda em sua experiência. Para a empresa, a diferença é enorme, uma vez que não precisa mais limitar seu produto ao que a Apple determina ou dividir sua receita com ela.

É, portanto, um grande negócio para os desenvolvedores e para os usuários. O Edge não é um produto de defesa da Adobe: está mais para um ataque. E o Flash continua vivo, para alegria da multidão de desenvolvedores. Afinal, a Web tampouco morreu. E o Android roda Flash.

Notebook versus lápis

By | Educação, Tecnologia | 6 Comments
Tendência aponta que estudantes preferem escrever em notebooks a usar o lápis

Tendência aponta que estudantes preferem escrever em notebooks a usar o lápis

A Folha publicou nesta segunda uma reportagem sobre como escolas já permitem que alunos levem notebooks pessoais para a sala de aula, como parte de seu material escolar. A reportagem me chamou a atenção em dois pontos: primeiramente porque foi a primeira vez que vi isso fora do ensino superior; em segundo lugar, e mais inusitado, porque os alunos começam a questionar o porquê de se escrever à mão.

Esse questionamento pode parecer absurdo -e é, pelo menos enquanto não dispusermos de infra-estrutura tecnológica que nos permita dispensar de vez papel e lápis-, mas é perfeitamente compreensível para alguém que manipula um PC com a mesma naturalidade que a TV. Esses membros da “Geração Z” realizam os seus trabalhos escolares -mesmo os mais prosaicos- em PowerPoint ou em sequências em Flash.

Além disso, a moderna pedagogia prega que as crianças hoje aprendam primeiro a letra bastão (ou, com se costumava dizer, “de forma”) em maiúsculas, passando depois para as minúsculas e apenas então passam à escrita cursiva (as “letras de mão”). Isso parece estar alinhado com o fato de que o mundo não é mais cursivo. Qualquer PC vagabundo com Windows oferece ao usuário dezenas de famílias de fontes para que experimente em seus escritos, e as crianças estão expostas a essa realidade. Dentro desse novo mundo, as pessoas, de todas as faixas etárias, escrevem e lêem mais que nunca. A questão deixa de ser se se deve escrever “à mão ou com letra de forma” e passa a ser se se deve escolher Arial ou Times New Roman para compor o texto.

Não estou advogando pelo fim da escrita à mão: muito pelo contrário. Mas os fatos estão postos. A questão é saber como pais, escolas e editoras lidarão com isso. Todos estão preparados para isso, pedagógica e até psicologicamente? Pais, professores e demais profissionais de educação conseguirão lidar com essa onda inovadora que ganha volume a cada dia, podendo chegar logo à escala de tsunami?

Não estão. Mas essa onda pega!