formação de professores

Notebook versus lápis

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Tendência aponta que estudantes preferem escrever em notebooks a usar o lápis

Tendência aponta que estudantes preferem escrever em notebooks a usar o lápis

A Folha publicou nesta segunda uma reportagem sobre como escolas já permitem que alunos levem notebooks pessoais para a sala de aula, como parte de seu material escolar. A reportagem me chamou a atenção em dois pontos: primeiramente porque foi a primeira vez que vi isso fora do ensino superior; em segundo lugar, e mais inusitado, porque os alunos começam a questionar o porquê de se escrever à mão.

Esse questionamento pode parecer absurdo -e é, pelo menos enquanto não dispusermos de infra-estrutura tecnológica que nos permita dispensar de vez papel e lápis-, mas é perfeitamente compreensível para alguém que manipula um PC com a mesma naturalidade que a TV. Esses membros da “Geração Z” realizam os seus trabalhos escolares -mesmo os mais prosaicos- em PowerPoint ou em sequências em Flash.

Além disso, a moderna pedagogia prega que as crianças hoje aprendam primeiro a letra bastão (ou, com se costumava dizer, “de forma”) em maiúsculas, passando depois para as minúsculas e apenas então passam à escrita cursiva (as “letras de mão”). Isso parece estar alinhado com o fato de que o mundo não é mais cursivo. Qualquer PC vagabundo com Windows oferece ao usuário dezenas de famílias de fontes para que experimente em seus escritos, e as crianças estão expostas a essa realidade. Dentro desse novo mundo, as pessoas, de todas as faixas etárias, escrevem e lêem mais que nunca. A questão deixa de ser se se deve escrever “à mão ou com letra de forma” e passa a ser se se deve escolher Arial ou Times New Roman para compor o texto.

Não estou advogando pelo fim da escrita à mão: muito pelo contrário. Mas os fatos estão postos. A questão é saber como pais, escolas e editoras lidarão com isso. Todos estão preparados para isso, pedagógica e até psicologicamente? Pais, professores e demais profissionais de educação conseguirão lidar com essa onda inovadora que ganha volume a cada dia, podendo chegar logo à escala de tsunami?

Não estão. Mas essa onda pega!

Entrando no aluguel (que bom!)

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A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo anunciou uma iniciativa que deve melhorar e muito a situação dos laboratórios de informática das escolas estaduais: está trocando o modelo de compra de computadores pela locação de equipamentos. A idéia vem ganhando cada vez mais espaço em empresas, e o motivo é simples: microcomputadores estão entre os itens que ficam obsoletos mais rapidamente em qualquer lugar. Com os contratos de locação ou leasing, as companhias mantêm seu parque de máquinas sempre atualizado, livrando-se do que está ficando velho. É o que o governo quer agora para as escolas do Estado.

Não é pouca coisa: substituição de 75 mil computadores existentes em laboratórios e secretarias das escolas e acréscimo de outros 30 mil. E os equipamentos não são nada modestos: processadores com dois núcleos (dual core), 2 Gbytes de memória RAM, 160 Gbytes de disco e monitor LCD de 17 polegadas. Os equipamentos devem vir com Windows Vista e Office 2007. Preço da brincadeira: R$ 400 milhões por um contrato de 48 meses. Quem levou: o consórcio Educat, formado pelas empresas CTIS e Diebold.

Se a proposta der certo -e tem tudo para dar- é um modelo a ser copiado por todo o país. Em São Paulo, cujas escolas públicas estão em situação (bem) mais favorável que a grande maioria do que se vê pelo Brasil, mais da metade dos equipamentos tem mais de cinco anos de idade. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para inviabilizar o uso de programas mais modernos, justamente aqueles que são capazes de atrair a atenção das crianças: elas já chegam na escola com uma linguagem multimídia e uma capacidade de realizar várias coisas ao mesmo tempo (são “multitarefa”) que a sala de aula e os professores não conseguem acompanhar, mesmo na rede particular. No ensino público, o abismo entre mestres e pupilos fica ainda maior, pois os professores têm uma formação mais deficiente e, portanto, sofrem mais para acompanhar essa demanda.

Resta agora saber se e como os professores receberão algum tipo de capacitação para fazer um bom uso desse poder computacional. E isso não significa apenas saber como ligar a máquina, e sim ser capazes de -e motivados para- constantemente criar atividades pedagógicas que sejam beneficiadas pela informática. Precisam de treinamento, orientação e ferramentas (incluindo softwares educacionais de qualidade). Se não for assim, continuaremos vendo laboratórios fechados porque os professores não sabem o que fazer ali ou porque o diretor tem medo que os equipamentos sejam roubados. Se der certo, a criançada e o país agradecem.