Green Dam

Até onde vai o vale-tudo na China?

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David Drummond, principal executivo jurídico do Google - Foto: divulgação

Drummond botou a boca no trombone, mas o que realmente há por trás da reação do Google?

Pergunte a qualquer grande empresário se ele gostaria de ter uma operação na China e a resposta provavelmente será sim. Entrar no gigante vermelho é quase como uma medalha de mérito, pois representa acesso a um mercado gigantesco e ainda com muito espaço, com custos de produção muito baixos que levam também a exportações para todo mundo de maneira muito competitiva.

Mas, há seis dias, David Drummond, principal executivo jurídico do Google publicou o post “uma nova abordagem para a China” no blog oficial da empresa, informando que a empresa e dezenas de outras foram alvos de ataques de hackers chineses. Até aí, nada demais. Mas o vice-presidente afirmou categoricamente que os ataques tinham, como alvo, contas de e-mail de ativistas de direitos humanos daquele país. Ainda que não tenha dito explicitamente, ficou no ar a ideia de que o governo chinês poderia estar por trás daquelas ações.

O Google afirma que, diante disso, mudará a postura de sua operação local, não mais aceitando a interferência e as regras do governo de Pequim, que obriga a empresa, por exemplo, a censurar os resultados de seu buscador, eliminando links para páginas que o governo considera contrárias a seus interesses. Quando foi anunciada, essa censura causou grande desconforto entre os usuários, inclusive maculando o mote informal do Google, “don’t be evil” (“não seja mau”).

Algumas empresas declararam apoio ao Google –como o Yahoo!– e outras nem tanto –como a Microsoft. E, apesar de a secretária de Estado do EUA, Hillary Clinton, ter dito que as acusações do Google “motivam preocupações e questionamentos muito sérios”, é pouco provável que o incidente provoque alguma crise política entre Washington e Pequim.

Vamos aos fatos! Qualquer empresa que quiser operar no mercado chinês tem que aceitar as regras e a interferência do governo local, e isso não vai mudar. Yao Jian, porta-voz do ministério do Comércio chinês já reiterou isso, após negar que o governo tenha relação com os ataques. Todas as empresas, de qualquer indústria, aceitam essa regra e os computadores vendidos no país vêm com um software-espião, batizado de Green Dam (“barragem verde”).

MAS… será que a China é a única “malvada”? Com toda essa gritaria, alguém se lembrou que as mesmas empresas também colaboram com o governo americano, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001? O próprio CEO do Google, Eric Schmidt, sugeriu publicamente, no fim do ano passado, que ninguém deve colocar na Internet algum tipo de informação da qual possa se arrepender, pois a privacidade total não existe. No final das contas, há mesmo uma diferença nas investidas dos governos dos EUA e da China contra a privacidade? E tem ainda o nosso senador Eduardo Azeredo e seu famigerado projeto de lei, que quer “regular” a Internet brasileira.

Como se pode ver, tá todo mundo com o rabo preso.

O que a “Green Dam” quer barrar

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Para o governo do premiê Wen Jiabao, a pornografia provoca "sérios desvios de conduta e de moral" nos jovens chineses, por isso, deve ser bloqueada

Para o governo do premiê Wen Jiabao, a pornografia provoca "sérios desvios de conduta e de moral" nos jovens chineses, por isso deve ser bloqueada, mas será só isso mesmo?

Hoje era a data definida pelo governo chinês para que todos os computadores domésticos vendidos no país viessem com o software “Green Dam-Youth Escort” pré-instalados. Pela explicação oficial, o programa impedirá que crianças e jovens tenham acesso a pornografia e outros “conteúdos impróprios” na Internet. Na prática, pode impedir que o internauta acesse qualquer tipo de conteúdo online que desagrade o governo, como sites que promovam a democracia, a libertação ao Tibete ou contrários ao Partido Comunista.

Desde que foi oficialmente anunciado no dia 9, o “Green Dam” (literalmente “barragem verde”) vem causado uma enorme gritaria. A única fabricante que confirmou que cumpriria a determinação foi a Acer. Os EUA, a Comunidade Européia e a OMC (Organização Mundial do Comércio) pediram que o governo chinês retirasse a exigência, que representaria um “sério risco à segurança, privacidade e direito de escolha do usuário”. Na sua véspera, a data-limite foi postergada, em data ainda não informada.

A pornografia é considerada crime na China. Ainda assim, estima-se que metade dos jovens consome algum tipo de pornografia online. O governo afirma que “graves desvios emocionais e de conduta” se devem a isso e ao uso de games violentos. Por isso, a “barragem” protegeria crianças e jovens.

Conversa fiada de ambos os lados! Privacidade, liberdade de expressão e de escolha são coisas que não existem na cabeça dos governantes de Pequim. Por outro lado, os 316 milhões de internautas chineses são um mercado em que qualquer empresa quer colocar as mãos. O que o indivíduo realmente quer pouco importa.

O usuário supostamente poderá desinstalar o “Green Dam”. Por outro lado, pais também poderão ampliar a lista de sites censurados para seus filhos. Mas, na prática, quantas pessoas são capazes de fazer isso?

Acho esse software mais uma aberração governamental contra as liberdades individuais. Sou fortemente contrário a ele, não por causa dessa conversinha dos EUA e da Europa, mas por um posicionamento filosófico, íntimo. Os chineses deveriam continuar navegando livremente, limitados apenas pela sua boa educação e moral. Mas receio que o seu governo prefira o jeito mais fácil –e confortável– e o “Green Dam” logo inundará os computadores do pais.

Uma ressalva final: não pensem que só o “gigante vermelho malvado” quer controlar a Internet. Nos anos 1990, o Congresso dos EUA, berço da liberdade e blá-blá-blá-etc., quase aprovou o “Ato de Decência nas Comunicações”, que, na prática, censuraria fortemente o conteúdo publicado na Internet. E, se quiser algo mais próximo e mais recente, olhemos para o nosso próprio umbigo, com o Congresso Nacional brasileiro tramitando aquela que é conhecida como “Lei Azeredo”, que determina várias ações que, no mínimo, ferem as liberdades individuais.

Pois é: liberdade e educação sempre amedrontam os donos do poder.