mídia impressa

Quando o Twitter informa mais que o jornal

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Para Chris Anderson, a chamada “mídia tradicional” perdeu o sentido de ser, o que não quer dizer que se preocupe menos com a qualidade do material informativo

Para Chris Anderson, a chamada “mídia tradicional” perdeu o sentido de ser, o que não quer dizer que se preocupe menos com a qualidade do material informativo

“Eu não uso a palavra jornalismo. eu não uso a palavra mídia. Não uso a palavra notícia. Não acho que essas palavras signifiquem alguma coisa hoje. Elas definem o mundo editorial do século 20. Hoje, são uma barreira. Elas estão bloqueando nosso caminho, como uma carruagem sem cavalos.”

Com essas palavras, Chris Anderson começa a responder as perguntas de Frank Horni, da Der Spiegel. Para o editor-chefe da Wired e autor do best-seller A Cauda Longa, jornais, revistas, televisão, a chamada “mídia tradicional” perderam o sentido de ser. Ele diz não consumir mais jornais e só lê uma reportagem do The New York Times se ela chegar até ele pelo Twitter, por exemplo, depois de passar por um “filtro pessoal” de pessoas em quem confia. O que não quer dizer que se preocupe menos com a qualidade do material informativo: apenas isso agora pode ser produzido e distribuído por qualquer um. “O problema não é que a forma tradicional de escrever não vale mais. O problema é que isso hoje é a minoria. Costumava ser um monopólio.”

Anderson é um conhecido provocador profissional, mas há verdade no que ele diz. A Internet virou de pernas para o ar o modelo de negócios de várias indústrias, como a fonográfica. A bola (de neve) da vez é justamente a mídia, cuja vítima mais evidente é a impressa. A possibilidade de qualquer um produzir e distribuir material jornalístico de qualidade afetou não apenas a economia dos grupos de mídia, mas está redefinindo a maneira de se produzir jornalismo, que, cada vez mais, é analítico e instantâneo, gerado com os recursos disponíveis por quem estiver juntos dos fatos.

O que falta ainda ao jornalismo-cidadão é organização editorial. Por mais que o volume gigantesco de produção possa resultar em qualidade no final, por mais que a relevância concedida pela audiência a cada peça jornalística seja capaz de definir o que deve ser a manchete (e o Google News está aí para mostrar que isso funciona), cada blogueiro escreve sobre o que quer, o que gosta e o que pode. Falta o “norte” a ser perseguido, nem sempre visível para o cidadão comum. E falta recursos para produzir reportagens caras. Por isso, ao contrário do que Anderson provoca e do que Lula sugeriu há pouco mais de um mês no 10º Fórum de Software Livre, o papel e a importância de uma indústria de mídia organizada continuam firmes e fundamentais para a sociedade.

A verdade nas afirmações do jornalista é que o formato, a distribuição e o modelo de negócios precisam ser reinventados. Ninguém ousaria dizer que a música perdeu a sua importância, mas nunca se venderam tão poucos álbuns quanto hoje. Isso é algo que não parará de diminuir até que as pessoas deixem de vez de comprar CDs, para desespero da indústria fonográfica, que não conseguiu ainda encontrar um modelo realmente substituto os disquinhos prateados. Por outro lado, cantores e bandas, igualmente afetados por essa onda, foram mais rápidos e já perceberam que seus ganhos hoje devem vir mais de shows que de CDs. Nesse cenário, a Internet deixa de ser uma inimiga e passa a ser divulgadora de seus trabalhos.

O que sobra aos jornalistas? Acredito que revistas e jornais, no atual formato, sejam os seus “CDs”. Assim como as empresas, os profissionais também precisam redefinir o seu modelo de negócios. Não quer dizer que o jornalismo tenha que ser um emprego de meio-período ou um hobby, como sugere Anderson (até pode ser), mas é improvável que ele continue como é hoje. Hora de os coleguinhas botarem os miolos para funcionar, caso não queiram se tornar obsoletos pela “cauda longa informativa”.

Schwarzenegger quer trocar livros didáticos por conteúdo digital na Califórnia

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Entre as propostas para substituir o livro didático, Schwarzenegger menciona o Facebook, o Twitter e até o conceito de open source, tudo para diminuir o déficit de US$ 24 bilhões do Estado

Entre as propostas para substituir o livro didático, Schwarzenegger menciona o Facebook, o Twitter e até o conceito de open source, tudo para diminuir o déficit de US$ 24 bilhões do Estado

O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, mais conhecido pelos seus papéis no cinema que por suas ações políticas (pelo menos para os moradores de fora do mais populoso Estado americano), anunciou uma iniciativa que visa substituir os livros didáticos usados nas escolas californianas por conteúdo estritamente digital. Em uma palestra a alunos na cidade de Sacramento, o ex-Conan republicano classificou os livros como “antiquados, pesados e caros”. “A Califórnia é sede do Vale do Silício. Somos líderes mundiais de tecnologia e inovação, por isso devemos ter isto em mente”, afirmou.

A idéia não é uma iniciativa pedagógica: é uma maneira para se tentar reduzir o gigantesco déficit orçamentário do Estado, que bateu nos US$ 24 bilhões. Nos EUA, o preço médio de um livro didático gira entre US$ 75 e US$ 100. A Califórnia gastou US$ 350 milhões em livros no último ano letivo. A ideia é começar a substituição já no início do próximo ano letivo, que lá começa em agosto.

“As crianças estão familiarizadas com a música digital, além de assistirem a televisão e a filmes online, entrando no Twitter e participando do Facebook”, disse Schwarzenegger. Ele chegou a sugerir o uso de ferramentas como essas no processo pedagógico, mas sem dizer como. A iniciativa está sendo supervisionada pela CLRN (sigla em inglês para Rede de Recursos de Aprendizagem da Califórnia). As obras substitutas podem até mesmo ser criadas sob o conceito do open source, com a autoria sob responsabilidade de voluntários.

Não sei… Isso pode funcionar bem na criação de notícias e até de enciclopédias, cujo maior exemplo de sucesso é a Wikipedia, mas, considerando-se o altíssimo nível de exigência para o material didático, algo nessa linha dependeria de uma supervisão muito forte. É efetivamente difícil de ser produzido. Que o diga o Governo do Estado de São Paulo, diante das recentes mancadas, que custaram a cabeça da secretária da Educação anterior, Maria Helena Guimarães de Castro. Há também uma questão pedagógica que –quero crer– os educadores californianos estejam atentos: é muito importante para os alunos –especialmente os menores– “registrar”, escrever em papel de verdade.

Por outro lado, simpatizo com a ideia do governador-Mr. Universo. É verdade que os livros didáticos custam muito dinheiro, não apenas para os Estados, mas também para os pais dos alunos que têm que desembolsar anualmente uma boa grana antes do começo das aulas. Para a classe média, que vive no fio da navalha, isso chega a abalar o orçamento doméstico. Qualquer iniciativa que reduza essa conta é, portanto, digna de análise. Do lado do aluno, os livros pesam… literalmente. Eu me lembro do exercício diário que eu fazia para carregar esse conhecimento de casa para escola e vice-versa. As mochilas com rodinhas atenuam o problema e algumas escolas oferecem armários individuais para que seus alunos deixem lá seus livros, mas eles continuam “antiquados, pesados e caros”.

Assim, por mais bizarra que possa parecer à primeira vista, a idéia tem seus méritos. Tomara que dê resultados ou pelo menos indique um caminho até um novo formato de conteúdo didático. A escola precisa se modernizar –e muito!– tanto do ponto de vista pedagógico quanto organizacional. Nesse sentido, os livros como os conhecemos realmente podem perder o seu lugar.

Another one bites the dust… now

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Tucson não foi grande o suficiente para manter dois jornais impressos diários, a mesma conversa ouvida em Denver no fim de fevereiro

Tucson não foi grande o suficiente para manter dois jornais impressos diários, a mesma conversa ouvida em Denver no fim de fevereiro

No dia 16 de março, publiquei aqui no Macaco Elétrico um post comentando a notícia de que o Tucson Citizen fecharia as suas portas no dia 21 daquele mês, depois de agonizar por dois meses atrás de um comprador que acabou não aparecendo. Bem, na verdade o fim ainda foi prolongado por outros dois meses, até que a edição final fosse publicada apenas neste sábado, dia 16 de maio, 138 anos, sete meses e um dia após a primeira edição.

“Mudanças dramáticas em nossa indústria combinadas com dificuldades econômicas particularmente nessa região tornaram inviável a produção de dois jornais impressos diários em Tucson”, sentenciou Bob Dickey, presidente da divisão de publicações comunitárias da Gannett Co., proprietária do Citizen. Discurso semelhante já havia sido usado pela E.W. Scripps Co. ao anunciar o encerramento das operações do seu Rocky Mountain News, de Denver, no dia 26 de fevereiro, a míseros 55 dias de completar 150 anos de jornalismo. Lá, sobrou o The Denver Post, da MediaNews Corp, que acaba de anunciar que pretende restringir o conteúdo online de seus 53 jornais a usuários pagantes.

De volta a Tucson, a equipe do Citizen (e até mesmo alguns cidadãos) ainda procura uma maneira de manter o veículo vivo, mesmo que seja apenas online. Parece a repetição da história de ex-funcionários do Rocky que tentaram captar para si os espólios do finado em uma nova publicação exclusivamente digital, o InDenverTimes.com. Para isso, propuseram um modelo de assinaturas que não vingou, pois mais parecia um “patrocínio” de cidadãos simpatizantes que um modelo de negócios bem montado. Apesar do fracasso, ainda não desistiram e procuram agora outro modelo. Espero que sejam bem-sucedidos, servindo de inspiração aos colegas de Tucson e de todo mundo.

A turma do conteúdo fechado bate o bumbo

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Singleton engrossou o coro dos que querem restringir o conteúdo online a pagantes

Singleton engrossou o coro dos que querem restringir o conteúdo online a pagantes

Primeiro foi Rupert Murdoch, presidente da News Corporation, proprietária do The Wall Street Journal. Agora foi a vez de William Dean Singleton, presidente do conselho da Associated Press e CEO da MediaNews Corp, que publica 53 jornais nos EUA. Os dois são as mais proeminentes vozes do coro cada vez mais forte de publishers que pregam que não é mais possível oferecer de graça do seu conteúdo na Internet.

Isso contraria o senso comum vigente, que prega que novos modelos de negócios sejam perseguidos para compensar as quedas nas receitas publicitárias das edições impressas dos veículos. Apesar de a publicidade online estar aumentando, ela não cobre o rombo deixado pelas perdas do impresso.

No dia 7 de maio, Murdoch afirmou publicamente que a News Corp está desenvolvendo um sistema de micropagamento para que os internautas tenham a possibilidade de pagar individualmente por artigos ou serviços de seus veículos online, começando justamente pelo WSJ. No dia seguinte, Singleton enviou um memorando aos funcionários do MediaNews Corp pregando o mesmo caminho. O memorando foi republicado no mesmo dia na coluna de Jim Romenesko no site do Poynter Institute’s.

“Nós continuamos a praticar uma injustiça com nossos assinantes de impressos e a criar a percepção de que nosso conteúdo não tem valor ao colocar online todo o nosso conteúdo impresso de graça”, escreveu Singleton. “Isso não apenas erode nossa circulação impressa, desvaloriza a essência de nosso negócio –o grande jornalismo local que nós (e só nós) produzimos diariamente.”

Nesse momento de crise, é grande a chance dessa tendência de retrocesso vingar. Sem fazer muita força, parece mesmo que faz sentido. Mas, se você concorda com eles, permita-me discordar: acredito que se trata de um movimento de recrudescimento em torno da incapacidade de se adaptar a uma nova realidade econômica. Não estou dizendo, de forma alguma, que empresas ou profissionais trabalhem por amor à arte, pois nem relógio funciona de graça. Mas, ao fechar o conteúdo para tentar fechar o balanço, as empresas perdem a chance de levar seus produtos jornalísticos a um novo patamar, transformando-os em algo muito melhor para seus consumidores e as próprias companhias.

Modelos alternativos já existem e vêm sendo discutidos aqui mesmo nesse blog. Mas todos eles representam mudanças substanciais em questões essenciais das companhias. Admito que não são fáceis para qualquer um, principalmente para quem tem muito a perder. Espero, entretanto, que a inovação vença a resistência.

WSJ abraça o micropagamento enquanto rejeita Kindle

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Murdoch não está surdo aos movimentos do mercado: adotará o micropagamento e deve lançar seu próprio e-reader em breve

Murdoch não está surdo aos movimentos do mercado: adotará o micropagamento e deve lançar seu próprio e-reader em breve

Enquanto a indústria de mídia discute e discute qual será o seu modelo de negócios do futuro, especialmente para o impresso, o The Wall Street Journal anunciou que está criando um sistema de micropagamento que permitirá que pessoas que não assinem o seu serviço acessem notícias e artigos individualmente, pagando por cada um. Além disso, lançará um serviço Premium que oferecerá o serviço noticioso da Dow Jones. Em tempo: o WSJ é dono de um dos poucos bem-sucedidos casos de assinatura paga na Web, com mais de um milhão de usuários desembolsando US$ 100 por ano pelo acesso.

Rupert Murdoch, dono da News Corporation, que, por sua vez, é dona do WSJ, anunciou que o modelo deve ser ampliado para todos os jornais do grupo. Para o mogul das comunicações, a era do conteúdo online grátis logo acabará. Murdoch lidera a resistência dos descontentes com o jeito que a notícia virou commodity com a Internet e condena serviços como o Google News, que cria publicações agregando conteúdos de diferentes fontes.

A metralhadora giratória não poupa nem o Kindle, que acaba de ter uma terceira versão –a DX– anunciada e vem ganhando manchetes como uma possível maneira de se distribuir os “jornais do futuro”. Tanto que o The New York Times –concorrente da News Corp– é uma das estrelas de seu portfólio. “Não vamos dar o nosso conteúdo à boa gente que produz o Kindle”, disparou Murdoch recentemente.

Isso não quer dizer que ele seja contra os e-readers, como o produto da Amazon. Na verdade, o próprio empresário já ventilou que seu conglomerado de mídia estaria desenvolvendo o seu próprio equipamento. Claro, ele não quer dividir a sua margem com outros: o mercado especula que a Amazon fique com 70% do valor das assinaturas de periódicos baixados e lidos pelo Kindle. Nesse sentido, a resistência de Murdoch é compreensível. Mas a News Corp terá força para, por si só, criar uma alternativa viável de produto? De todo jeito, teria que se associar a algum concorrente da Amazon, pois, por mais que confie na qualidade e relevância de seu conteúdo, ele não é suficiente para abocanhar uma fatia significativa desse mercado. A própria Sony, que já está na estrada com o Reader, pena para fazer frente ao Kindle.

Claro, são apostas.Murdoch está fazendo as deles corajosamente, mas muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte. Ele está certo em se posicionar logo e, se as suas idéias se transformarem no modelo vencedor, a News Corp aumentará a sua influência de uma maneira decisiva.

Para Bezos, Kindle pode salvar jornais em um mundo com menos papel

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Bezos sugere que os jornais "migrem" para seu Kindle a preços mais baixos

Bezos sugere que os jornais "migrem" para seu Kindle a preços mais baixos

Jeff Bezos é um sujeito singular. Ele ficou milionário apostando no comércio eletrônico já em 1994, quando o termo ainda nem havia sido criado. Graças a sua visão de futuro, transformou a Amazon não apenas na maior livraria do mundo (sua origem), mas também na maior vendedora de música e na maior loja de departamentos. Agora ele quer repetir a dose com seu e-reader, o Kindle. Ele espera se firmar como líder no nascente (e cada vez mais explosivo) mercado de livros digitais. Mas também começa a oferecer uma possível saída para a combalida indústria de mídia.

No dia 6 de maio, deu uma nova cartada nessa direção, anunciando o Kindle DX, terceira versão do produto, que vem a público apenas dois meses depois do lançamento do Kindle 2, que continuará sendo vendido. A novidade traz recursos muito interessantes, como a possibilidade de conexão por redes WiFi (e não mais apenas por conexões de celular 3G), o dobro de memória (4 GB, suficientes para guardar, de uma só vez, uma média de 3.500 livros) e a possibilidade de se ler os textos na vertical ou na horizontal, simplesmente rotacionando o equipamento, como acontece com o iPhone. Mas o que chama mais a atenção é a sua tela de 9,7 polegadas, o dobro da do Kindle 2 e quase o tamanho de uma folha de revista. Ok, custa mais caro: US$ 489 contra US$ 359 do Kindle 2.

De todos os recursos do Kindle DX, o que mais chama a atenção é o tamanho da sua tela

De todos os recursos do Kindle DX, o que mais chama a atenção é o tamanho da sua tela

A telona é muito bem-vinda para ler as versões de revistas e jornais para o e-reader. Já estão disponíveis assim as edições diárias de 37 jornais e 28 revistas de seis países, incluindo o The New York Times, a Time e a Newsweek. Mas o que mais chama a atenção é que essas assinaturas digitais podem custar até metade da assinatura do mesmo conteúdo impresso!

Isso faz todo o sentido, já que se elimina o gigantesco custo da impressão. Neste blog mesmo, já havia comentado o interessante exercício feito por Nicholas Carlson, do The Business Insider, que calculou (grosseiramente) que um Kindle 2 custaria metade que o necessário em papel para se imprimir um ano do The New York Times para cada um de seus assinantes. O mesmo jornal anunciou que, até junho, oferecerá assinaturas a preços reduzidos para as cidades onde não há distribuição da versão impressa.

Não sei se Bezos conseguirá repetir seu sucesso com o Kindle, apesar de o produto estar sendo bem recebido. A concorrência está se mexendo (o principal rival é o Reader, da Sony), mas há rumores de que a Apple está preparando o seu produto e que a News Corp, de Rupert Murdoch também entraria nesse mercado. Mas a idéia de os jornais terem, como alternativa, “migrarem” para essa nova plataforma é sem dúvida nenhuma interessante.

Buffett: perdas sem fim para os jornais

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Podre de rico, Buffett acha que jornalismo e papel-jornal não são mais a mesma coisa

Podre de rico, Buffett acha que jornalismo e papel-jornal não são mais a mesma coisa

O segundo homem mais rico do mundo, Warren Buffett, disparou na reunião anual de acionistas da Berkshire Hathaway que não pagaria absolutamente nada pela maioria dos jornais dos EUA. “Existe a possibilidade de eles simplesmente terem perdas sem fim”, disse. Buffett é dono da empresa de investimentos Berkshire, que, por sua vez, é dona do The Buffalo News e grande investidora do The Wall Street Journal.

O raciocínio do bilionário é simples: os jornais (e não o jornalismo) já não seriam mais essenciais ao público. Enquanto eram, também o eram para os anunciantes. Mas agora as notícias podem ser entregues por uma grande variedade de formas, mais notadamente a Internet. Logo, as receitas publicitárias vêm despencando. Mas o empresário fez questão de classificar isso como uma “tragédia nacional”, pois os jornais garantiram, até aqui, “que os governos fossem mais honestos que eles seriam sem os jornais.” As declarações foram publicadas em um post no blog MarketBeat, do The Wall Street Journal.

O Midas que, entre seus primeiros trabalhos, ainda criança, entregava jornais, dissociou publicamente a notícia da mídia que a carrega, algo que ainda é difícil para muita gente. Os vendedores de peixe nas feiras livres agradecem a esses últimos: assim têm garantida a embalagem de seu produto.

“Uso mais que justo”: remunerado

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O Google e a mída: quem carrega quem?

O Google e a mída: quem carrega quem?

Na última reunião anual da Associação de Jornais da América, Eric Schmidt, CEO do Google, defendeu, em sua palestra, que o Google News ajuda os jornais, conduzindo gratuitamente tráfego para seus sites. Assim, os veículos faturariam com publicidade em suas páginas. Seria, portanto, um “uso justo” de porções desses conteúdos para viabilizar o Google News, tentando diminuir a crescente gritaria de que o serviço estaria pirateando trabalho alheio em seu único benefício.

Esse é seu ponto de vista.

No meu post Limites do “uso justo”, no dia 16, analisei essa idéia. Ela é legítima e pesquisas subsidiam e idéia de Schmidt. Só há uma falha nesse raciocínio: por mais que os internautas caiam nas páginas dos veículos, isso não é suficiente para salvá-los do atual desastre econômico. Apesar de o CEO do Google ter parecido arrogante para muitos (e talvez tenha sido mesmo), sou obrigado a dizer que os responsáveis por esse fracasso da mídia na Internet são as próprias casas editoriais, que sempre menosprezaram suas publicações online. Muitas ainda fazem isso, mas agora, com a água no pescoço, bradam palavras de ordem contra a inevitabilidade dos fatos online.

Maureen Dowd, colunista do The New York Times, resumiu esse sentimento em um artigo publicado no último dia 14. Em determinado ponto, ela escreveu: “por que o Google não nos assina um gordo cheque por usar as nossas histórias, de modo que possamos manter salários e balanços e continuemos a oferecer ao buscador nossas histórias?”

Bom, esse é outro ponto de vista válido.

E então vem o renomado consultor de mídia Steve Outing, com quem costumo concordar, e sugere em seu blog que o Google News passe a exibir mais publicidade (hoje ela é bem tímida), distribuindo uma porcentagem de seus ganhos aos provedores de conteúdo que forem clicados em cada uma das páginas do serviço. Dessa forma, o Google ajudaria, segundo Outing, os jornais a saírem da lama em que se encontram e evitaria um movimento non-sense de muitos dinossauros da (grande) mídia, que querem fechar o seu conteúdo apenas para assinantes, algo que não interessaria ao internauta ou ao próprio Google.

Dessa vez, concordo apenas parcialmente com Outing. Não acho que caiba ao Google -ou a qualquer um- salvar jornais de sua própria incompetência econômica. Tampouco gostei do tom quase ameaçador do tipo “ajude-os ou você ficará sem conteúdo”. As coisas não funcionam assim.

O bom jornalismo é algo crítico para todas as sociedades. Sem ele, nossa cidadania se reduz gradativamente. Felizmente a crise atual não acabou com ele: dos recém-entregues Prêmios Pulitzer, muitos foram para alguns dos veículos mais afetados pela situação da economia. O The New York Times levou cinco deles, seu segundo melhor desempenho da história, apesar do prejuízo de US$ 74,5 milhões anunciado na semana passada.

O gigante de buscas já tem acordos com a Associated Press e com a France Presse pelos seus conteúdos usados no Google News. Os jornais podem aprender muito com a turma online sobre como ganhar dinheiro nesse novo cenário econômico. Mas precisam se despir de preconceitos e de idéias vetustas que os levaram ao buraco em que estão.

Não deu… não daquele jeito

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Pois é, Alex, o modelo de assinaturas não deu certo, mas existem outros!

Pois é, Alex, o modelo de assinaturas não deu certo, mas existem outros!

Esse post é uma atualização do post “Jornalistas salvando jornais“, de três dias atrás. Nele eu mencionei a iniciativa de 35 ex-jornalistas do recém-finado Rocky Mountain News que decidiram lançar um site para tentar ocupar, na Internet, o espaço que o Rocky deixou no jornalismo local de Denver. Nada de papel: apenas online. Para que desse certo, eles calcularam que precisariam de 50.000 assinantes que pagassem US$ 4,99 por mês. O conteúdo do InDenverTimes.com é irrestritamente aberto: os pagantes teriam o privilégio de “fazer parte” do produto, participando de ferramentas de criação de comunidades e, o que mais me chamou a atenção, tendo acesso direto aos jornalistas.

Apesar de criativo, questionei no post anterior que talvez isso não fosse o suficiente em um momento em que as pessoas justamente consomem mais conteúdo que nunca, mas que paradoxalmente não querem mais pagar por ele. E foi o que aconteceu: o deadline que o próprio site se deu para arrebanhar os assinantes foi ontem, quando o Rocky completaria 150 anos. E não deu: não atingiram essa meta.

“Nós acreditamos que existe dinheiro no jornalismo local, feito por jornalistas locais, e que há um oportunidade única em Denver com o fim do Rocky Mountain News”, disse David Milstead, jornalista de economia e um dos criadores do inDenverTimes.com. A equipe buscará agora viabilizar a publicação com modelos de negócios alternativos.

E devem mesmo. O jornalismo local é o jornalismo em sua forma mais essencial (em diferentes acepções da palavra). Em um cidade de quase 600 mil habitantes, como Denver, um único jornal local -no caso, o The Denver Post- é muito pouco. E modelos alternativos também existem. Para um veículo que já se mostrou disposto a inovar na parte editorial, há espaço para inovarem também no seu modelo de negócios.

Deitados em berço esplêndido

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Enquanto nos EUA vemos os próprios jornalistas arregaçando as mangas e queimando os miolos para salvar os veículos onde trabalham ou pelo menos os seus próprios empregos, no Brasil, as coisas aparentam conforto. Isso estará associado à “marolinha”?

Não há dúvida que a situação da mídia, especialmente a impressa, está muito mais confortável aqui que nos EUA, que atravessa a maior crise da sua história. Segundo o Projeto Inter-Meios, do Meio & Mensagem, em outubro de 2008, os jornais abocanharam R$ 304,6 milhões em publicidade, que representam 4% de aumento em relação do outubro de 2007. As revistas levaram R$ 204,5 milhões no mesmo mês, alta de 9% sobre o ano anterior.

Apesar dos números para cima, os investimentos estão congelados e o facão já passou em várias Redações nesse ano. Revistas e jornais estão mais finos e com conteúdo editorial pior, em parte pelo sacrifício de pratas da casa em favor da contratação de focas, mais baratos.

Então por que ninguém se mexe? Será que necessitamos chegar à beira do abismo, a exemplo da Gringolândia, para colocarmos a massa cinzenta para funcionar?

Receio que o problema seja outro: falta coragem para se mexer em time que está “ganhando”. A mídia impressa continua sendo uma máquina bem azeitada, com faturamentos respeitáveis, que mantém vivas suas casas editoriais. Para seus diretores, que receberão seus gordos bônus mantendo o status quo, não importa que suas equipes de conteúdo digital continuem sendo apenas “a turma da Internet”. Mas o que me dá mais medo é que os colegas que estão na linha de frente da Redação pensem o mesmo e façam de tudo para que nada mude. Naturalmente, eles também não são avaliados pela performance do produto online.

É uma pena muito grande. Como falei no post anterior, 35 ex-jornalistas do agora defunto Rocky Mountain News estão tentando criar um veículo totalmente online para ocupar o lugar do finado periódico. Mas estão tentando fazer isso agora, ao invés de ter arriscado quando o Rocky ainda rodava. Quem é o culpado pelo imobilismo anterior?

Citando novamente o Inter-Meios, a única mídia que teve um crescimento expressivo no ano passado foi a Internet, cujo faturamento de outubro de 2008 foi 45,5% superior ao de outubro de 2007. Lamentavelmente, ela representa ainda apenas 3,5% do bolo publicitário, mas isso poderia ser certamente muito maior, se houvesse mais atitude dos envolvidos.

Jornalistas salvando jornais

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O InDenverTimes.com, publicação online criada por ex-jornalistas do Rocky, precisa arrebanhar 50 mil assinantes para que deixe de ser beta

O InDenverTimes.com, publicação online criada por ex-jornalistas do Rocky, precisa arrebanhar 50 mil assinantes para que deixe de ser beta

“A necessidade é a mãe das invenções.” O velho ditado explica bem algo que vem sendo observado nos EUA diante da crise vivida pela mídia, especialmente o jornalismo impresso. Lá, jornalistas estão tentando salvar os veículos onde (ainda) trabalham ou tratando de ressuscitar aqueles que já deixaram de circular. E vêm fazendo isso de maneira mais criativa e mais ousada que os donos do próprio negócio jamais pensaram.

Talvez façam isso porque profissionalmente não correm muitos riscos, pois seus empregos já viraram fumaça ou já estão em chamas no modelo de negócios atual. Mas o fato é que os colegas estão se mexendo, enquanto os moguls ficam se debatendo em torno de formas que garantiriam uma sobrevida a seu negócio, de preferência sem realizar grandes mudanças.

Aí reside o problema: chegamos (especialmente a mídia na Gringolândia) a um ponto em que mudanças de monta se fazem necessárias. Por conta do imobilismo, jornais estão fechando suas portas ou pedindo concordata. Os que sobrevivem -e isso certamente vale para a mídia impressa brasileira- estão cada vez mais finos, previsíveis e rasos em sua qualidade.

Qual a saída? A Redação do Star Tribune, em concordata há três meses, não sabe, mas não teve vergonha de vir a público para perguntar. Lançaram uma campanha pública, o Save the Strib. O objetivo do site é sensibilizar a população e eventuais interessados em comprar o jornal, para que ele não morra. Criou um abaixo-assinado e pede idéias e sugestões aos internautas, além de propostas de aquisição.

A novidade aí está na coragem da iniciativa. Mas há outros casos mais interessantes aparecendo em diversas regiões nos EUA. Em Denver, por exemplo, 35 ex-jornalistas do recém-finado Rocky Mountain News juntaram-se a três investidores e criaram o InDenverTimes.com. Atualmente em beta, o lançamento oficial está marcado para o dia 4 de maio, mas isso só acontecerá se conseguir juntar, até o dia 23 de abril (ou seja, quinta), pelo menos 50 mil assinantes dispostos a pagar US$ 4,99 por mês pelo produto. Longe de ser uma coincidência, essa data marcaria o 150º aniversário do Rocky, caso ele tivesse sobrevivido.

O conteúdo do veículo é completamente livre. O que os assinantes ganham? A possibilidade de conversar em tempo real com os jornalistas e também participar da comunidade em torno do site, como fóruns, comentando notícias e por aí vai. Em resumo, de fazer parte da publicação. O desafio da equipe é criar um produto pelo qual os cidadãos de Denver queiram pagar. E é um tremendo desafio, pois eles não conseguiram fazer isso no finado Rocky, impresso ou online. E, se por um lado US$ 5 parece nada, por outro passamos por um momento em que as pessoas cada vez menos querem pagar pelas notícias que consomem.

Para deixar o pacote mais suculento aos assinantes, a publicação promete a maneira de pensar do mundo ponto-com, afastando-se da arrogância típica da “mídia tradicional”, em que os jornalistas estão “acima de tudo e de todos”, dizendo o que é importante para os seus leitores (para dizer o mínimo). A cobertura passa a ter rosto: os jornalistas são pessoas próximas dos internautas, como eles, ao lado deles.

Honestamente, não sei se isso será suficiente para a turma arrebanhar os seus 50 mil assinantes. Como são nomes conhecidos (e muitos deles queridos) da população de Denver, uma cidade de quase 600 mil habitantes, talvez consigam, nem que seja a título de “colaboração” nesse primeiro ano. Mas como será no segundo ano?

De qualquer forma, é uma aposta válida, no mínimo por demonstrar que jornalistas podem fazer muito mais que aquilo a que costumam ser limitados nas grandes Redações e para deixar claro que o jornalismo ainda é um negócio viável.

Limites do “uso justo”

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O CEO do Google insiste na queda de braço do "uso justo" contra os executivos da indústria de mídia

O CEO do Google insiste na queda de braço do "uso justo" contra os executivos da indústria de mídia

No último dia 7, Eric Schmidt, CEO do Google, colocou o dedo na ferida: o Google News mais ajudaria que atrapalharia jornais, revistas e outras fontes de informações. Não é bem o que eles pensam. Na verdade, cresce o coro de executivos da mídia que acha que o serviço se apropria indevidamente de seus conteúdos para gerar a sua página de notícias automática. O Google rebate, afirmando que faz apenas “uso justo” (“fair use“) desse material alheio e que os jornais se beneficiam grandemente do tráfego que ele lhes gera, já que usa apenas pequenas porções de textos e imagens, remetendo os internautas aos sites de origem das notícias.

O discurso de Schmidt aconteceu em plena reunião anual da Associação de Jornais da América e foi seguido de perguntas relativamente comedidas da platéia, formada por líderes da indústria. O momento estava cheio de ganchos para a fala do CEO: a mídia -especialmente jornais dos EUA- está atravessando uma crise sem precedentes, com a bancarrota de vários títulos tradicionalíssimos, o Google começou a veicular anúncios no Google News e a Associated Press resolveu endurecer na proteção dos direitos de propriedade intelectual do material que ela distribui.

Essa discussão não é nova: em março de 2005, a France Presse processou o buscador, pedindo US$ 17,5 milhões de indenização pelo uso de seu material no Google News. O processo foi arquivado dois anos depois com um acordo entre as partes. Os detalhes não foram revelados, mas o Google News pôde continuar publicando material da agência francesa. Um ano antes disso, um acordo semelhante já havia sido firmado com a Associated Press (que nem chegou a processar o Google). E essa briga também remete a outro assunto que já rendeu acalorados debates, mas anda em baixa: o “deep linking“, que significa um site apontar diretamente para matérias ou artigos de outros sites, ignorando suas home pages. Exatamente como fazem os links nesse post, por exemplo.

A discussão atual gira em torno do que é “uso justo” do material de terceiros. Assim como no Brasil, nos EUA é legalmente aceitável usar porções limitadas de produtos alheios (até mesmo de concorrentes), dentro de condições específicas. Um exemplo clássico é o uso de até três minutos de imagens esportivas geradas por emissoras de TV nos programas jornalísticos de outros canais.

Porém, como acontece sempre que existe um juízo de valor envolvido, o limite entre “uso justo” e uso indevido é tênue. O próprio Schmidt disse no evento que isso depende da escola que o jurista seguir, mas fez questão de acrescentar que, na dúvida, a balança deve pender para o lado do consumidor. Nas entrelinhas, jogou a batata quente no colo dos donos de jornais: se não concordassem, poderiam ser taxados de anacrônicos e  contrários aos interesses dos internautas.

Os executivos, por outro lado, sentem-se pressionados para manter suas operações -mais que rentáveis- vivas em meio à crise. Muitos pensam em fechar o seu conteúdo, indo na contra-mão da indústria, outros estudam a adoção de micropagamento ou de outros modelos alternativos. Nesse cenário de incertezas, o Google News pode, em suas visões, ameaçar o “controle” dos produtores de conteúdo.

Então vem o Google e argumenta que, qualquer que seja o modelo de negócios adotado, ele é o maior parceiro do produtor de conteúdo, pois nada lhe geraria mais tráfego individualmente que o Google News e sua tradicional busca. E ele tem razão. Estudo realizado pela empresa de pesquisas Hitwise Intelligence mostra que, de todo o tráfego dos sites de notícias em março, 21,69% foi gerado pelo Google e outros buscadores. Os executivos da mídia sabem disse e declaram que não querem perder um “parceiro” tão importante.

Apenas não querem fornecer o conteúdo para que ele crie as páginas que lhes geram esse tráfego…

O botão milagroso

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Clique no botão, assine a revista e salve-a de um destino pior que a morte

Clique no botão, assine a revista e salve-a de um destino pior que a morte

As muitas revistas de uma grande editora onde já trabalhei vêm sofrendo há bastante tempo o mesmo que se observa por aí no mercado: redução nas tiragens, queda na receita publicitária e com assinaturas e diminuição das vendas em bancas. Desde que surgiu, a Internet é apontada internamente como grande vilã desse cenário, o que aliás impede que a empresa invista com seriedade nessa “nova mídia”, temendo que seus próprios sites “canibalizem” (esse é o termo usado) as revistas, roubando-lhes leitores.

Nesse cenário de muita preocupação dos executivos da casa, vira e mexe eles surgem com uma ideia brilhante. Nos últimos dias, foi decretado que os sites de cada publicação deveriam dar destaque ao “botão assine”, aquele que convida o internauta a assinar a revista em papel. E aí vale tudo: jogar o botão para o alto, pintar o bichinho de vermelho e fazê-lo piscar, transformá-lo em uma animação espalhafatosa. Se poluir ainda mais o já complicado layout, azar.

É a típica visão distorcida dos fatos. Não que os sites não devam “ajudar” suas irmãs em couché, mas o buraco é mais embaixo. Conversando com uma gerente de assinaturas da mesma editora, ela confidenciou que, apesar dessa histeria das Redações diante da “ameaça digital”, que já dura anos, até hoje a Web não provocou diferenças significativas nas vendas de assinaturas e em bancas. Sim, é isso mesmo que você leu! Quem está maculando esses números, segundo ela, são o aumento do preço de capa e a redução dos descontos nas assinaturas.

Na verdade, ela tem uma visão parcial da coisa. Esses ex-consumidores de revistas continuam consumindo informação, mas em outro lugar. E esse lugar é justamente a Web. Eles deixam de investir em papel para consumir o mesmo material jornalístico (ou ainda melhor) em outra mídia, que oferece isso de maneira mais cômoda e mais barata, até de graça.

Daí vem o povo com a história do botão milagroso… Como dizia um velho amigo, “o pior cego é o que não quer ouvir”. Quantos títulos deverão ser fechados antes de pararem de enxergar seus sites como meros complementos das revistas e canais de venda de polpa de madeira impressa?

Qualidade versus quantidade de jornais

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“Eu não acho que seja algo tão ruim ter menos jornais… se eles forem melhores.” A declaração foi publicada há quatro dias no blog FishbowlNY. O autor da fala é Ben Bradlee, editor executivo do The Washington Post na época do escândalo de Watergate e atual vice-presidente do periódico. Ele continua: “quando eu era editor do Post, existiam algo como 7.500 jornais e agora existem 1.200.”

Bradlee está (ou pelo menos disse estar) otimista diante da atual crise da indústria jornalística. Apesar de o Post estar perdendo dinheiro, ele acha que tudo vai se ajeitar com o tempo. “Contanto que os jornais que sobrevivam sejam bons, não será um desastre.”

Não concordo totalmente com isso. A visão acima é de quem está no topo da cadeia alimentar desta indústria, de quem convive cotidianamente com vencedores do Prêmio Pulitzer em um dos jornais mais respeitados do mundo. É uma visão distante do “jornalismo de base”, aquele que cobre o noticiário da comunidade onde circula, o jornalismo em seu estado mais fundamental. O Rocky Mountain News, que deixou de circular no dia 27 de fevereiro, depois de 150 anos de serviço, provavelmente cobria o noticiário de Denver melhor que o The Washington Post. Ok, ainda “sobrou” o The Denver Post (sem relação com o jornal de Washington), mas ele agora está sozinho na cidade: o leitorado local perde muito com essa falta de concorrência.

Já fui editor na Folha e já fui dono de um pequeno jornal. Sei que existem jornais (principalmente os chamados “jornaizinhos” de bairro) que não valem a tinta que os imprime, pois prestam verdadeiros desserviços a suas comunidades. Mas receio que não seja deles que Bradlee falava. E certamente não era o caso do Rocky Mountain News e do Tucson Citizen. Por isso, em nome dos leitores locais, sou a favor da qualidade dos jornais, mas também sou a favor da quantidade de publicações.

“Obamas” podem ficar sem seus jornais

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A cidade do presidente dos EUA é a primeira do país a ter seus dois principais jornais em concordata

A cidade do presidente dos EUA é a primeira do país a ter seus dois principais jornais em concordata

Chicago, cidade onde o presidente americano Barack Obama tem sua residência pessoal, corre o risco de ficar sem seus jornais regionais. A mais recente vítima da crise da imprensa dos EUA é o Sun-Times Media Group, que publica o Chicago Sun-Times e mais 58 jornais. A empresa pediu concordata ontem. O grupo Chicago Tribune Company, que publica o Chicago Tribune, o Los Angeles Times e outros oito jornais (além de ter 23 canais de TV), já está nessa situação desde dezembro.

A capital de Illinois, uma das maiores cidades dos EUA, é a primeira a ter dois de seus principais jornais em estado pré-falimentar. Ambos continuam suas operações sem maiores mudanças, mas seus ativos estão à venda.

Na semana passada, o The New York Times, maior jornal americano, demitiu cem funcionários da área comercial e cortou em 5%, até o fim do ano, o salário de quem ficou. O Washington Post, outro gigante da terra do Tio Sam, anunciou um plano de aposentadoria antecipada para sua equipe. E o Seattle Post-Intelligencer agora só circula na Internet: nada mais de papel.

Demissões, redução de salários, jornais fechando as portas ou se transformando em operação online apenas… Muitas lições podem ser tiradas disso.