mídia impressa

Estudantes de jornalismo não lêem jornais

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Knight: “isso representa um risco maior para a mídia impressa que a crise econômica global ou a perda de receita publicitária para a Web”

Knight: “isso representa um risco maior para a mídia impressa que a crise econômica global ou a perda de receita publicitária para a Web”

Essa veio de longe, literalmente do outro lado do mundo, mas aposto que se aplicaria aqui também: estudantes de Jornalismo australianos não lêem jornais. Não, você não leu errado: os futuros jornalistas fogem do veículo que dá nome a sua profissão. Para eles, jornais são pouco práticos, desajeitados, não têm uma ferramenta de busca, ficam se “desmontando” e sujam as mãos.

A conclusão é resultado de uma pesquisa realizada pelo professor de Jornalismo e Estudos de Mídia Alan Knight, da Universidade de Tecnologia de Queensland, em Brisbane (Austrália). Ele entrevistou 200 alunos de primeiro ano da graduação de Jornalismo, e 90% deles dizem que não lêem jornais. Mas isso não quer dizer que eles não estão atualizados com os acontecimentos: 95% acompanham o noticiário regularmente, mas a mídia preferida é a TV, seguida por uma Internet que cresce rapidamente na preferência dos entrevistados.

“Se os jornalistas do futuro não querem ler jornais, quem lerá?”, disparou o professor no site da própria universidade. “Isso representa um risco maior para a mídia impressa que a crise econômica global ou a perda de receita publicitária para a Web.”

E agora saboreie a cereja do bolo: eles também não gostam de jornais porque tem que pagar pelas notícias. Essa é de matar: os futuros jornalistas não querem pagar para consumir aquilo que, em pouco tempo, será o seu ganha-pão. Como são mesmo aquelas histórias de micropagamento, Kachingle e afins? Espero que essa turma esteja pensando nisso.

Kindle mais barato que jornal

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A salvação dos jornais pode estar em abandonar o papel

A salvação dos jornais pode estar em abandonar o papel

Nicholas Carlson, do The Business Insider, fez um exercício interessante, calculando grosseiramente qual é o custo anual de impressão de um ano do The New York Times para cada um de seus assinantes e depois comparando com o preço de um Kindle. O resultado é, no mínimo, curioso: o e-book da Amazon custa menos que a metade do necessário para se imprimir um ano do NYT. Como já é possível ler o Times no Kindle, ele ventila a idéia de que a direção do jornal deveria considerar presentear seus assinantes com o gadget e economizar milhões de dólares com impressão todos os anos.

A idéia é extravagante, porém emblemática! Mas nem Carlson nem eu estamos sugerindo que a “velha dama cinzenta” faça isso. Primeiro porque o Kindle é bacana, mas ainda não dá para fazer tudo nele. Depois porque uma ação como essa certamente teria impactos em outras partes do negócio, como publicidade ou vendas em bancas. Mas, em tempos de crise brava na mídia, especialmente na americana, não podemos nos dar ao luxo de tapar os ouvidos a idéias inovadoras. A salvação pode estar no rompimento de paradigmas.

Por que todo jornalista deve ter um blog?

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O blog permite ao "coleguinha" se reciclar profissionalmente e ainda colher grande resultados editoriais

O blog permite ao "coleguinha" se reciclar profissionalmente e ainda colher grande resultados editoriais

Esse assunto já foi falado e refalado, mas há muitos irredutíveis “coleguinhas” que “ainda resistem ao invasor”. No caso, essa tal de Internet e como o jornalismo fica cada vez mais interessante nela. Por isso, vou me dar o direito de emitir os meus pitacos.

A desculpa de sempre dessa turma é “não tenho tempo para escrever para o blog, pois tenho que fechar a revista” (ou o jornal ou o que for). Trabalhei em umas das maiores e mais respeitadas revistas do país, e sua direção não queria que os jornalistas mantivessem blogs, para que “não se distraíssem de seu trabalho”. Na verdade, esse era o pensamento não só da revista, mas da empresa. Tosco! Nada mais dissociado da realidade! Ninguém está falando de -heh- “parar de trabalhar na revista” para se dedicar ao blog. Os posts saem naturalmente do material apurado (e muitas vezes desprezado por falta de espaço ou porque esfriou), de um insight enquanto se pensa na pauta ou se remoi os textos, de uma conversa no cafezinho… Sai na urina! Quem não entende isso ou não consegue fazer isso não merece ser chamado de jornalista!

Esse argumento contrário grotesco acontecia até há bem pouco tempo. Felizmente (para eles), os blogs não são mais proibidos, e são até são incentivados. Alguns (poucos) veículos da casa já dão furos online, especialmente porque as revistas são, em sua maioria, mensais, o que inviabiliza o conteúdo quente.

Mas me dói, depois de tudo que falei, ver a “resistência”, a dificuldade de os colegas perceberem que blogs, ainda por cima, lhes trariam inúmeras vantagens profissionais! Trata-se da chance de exercitarmos um gênero textual novo, inexistente em publicações tradicionais. Os posts podem se tornar verdadeiras conversas com os consumidores de nossos trabalhos, sem intermediários, uma chance de melhorar nossos desempenhos profissionais com consultoria grátis. E daí vem outra vantagem: eles podem nos ensinar a ser mais humildes, a perceber que não estamos acima dos fatos, das leis, das pessoas, algo que falta a nós, jornalistas. E, de quebra, aprendemos a ser mais responsáveis, pois qualquer mancada no nosso blog é culpa só nossa: não dá para dividir com ninguém.

E para não ficar só no discurso vazio, alguns colegas da referida revista em que trabalhei -que desdenhavam os blogs- hoje se enchem de orgulho e batem no peito quando dão um furo em seu pequeno feudo e ele ganha uma chamada na home do UOL. Já vi colega até se esquecer que ainda está no site da revista, referindo-se ao sucesso instantâneo do “seu blog”.

Se nada disso ainda convencer, o colega deve pensar que, quando a publicação dele fechar as portas (a crise está aí!), ele ainda poderá continuar exercendo bom jornalismo. Em um blog.

Another one bites the dust

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Há três dias, publiquei um post aqui comentando sobre o crescente cumprimento do temor de que a Internet acabaria com a mídia impressa, citando o caso da morte do Rocky Mountain News. Quase caí da cadeira agora quando recebi, pelo feed da Editor & Publisher, a informação de que o também americano Tucson Citizen publicará sua última edição no dia 21 de março. O jornal, que foi citado no referido post, vai parar depois de 138 anos de jornalismo. Estava à venda desde janeiro, mas a Gannett Co. Inc., que controla o Citizen, não conseguiu compradores.

Outros grandes jornais dos EUA estão na berlinda. A Hearst Corp. já colocou uma marca de morte na testa do San Francisco Chronicle e do Seattle Post-Intelligencer: o segundo deve ser fechado no mês que vem se não conseguir um comprador. Já o Los Angeles Times, o Chicago Tribune e o The Philadelphia Inquirer pediram concordata recentemente.

Espero que eles tenham mais sorte que os colegas de Denver e de Tucson.

Virando a página

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O Kindle 2, e-book da Amazon que deve vender 500 mil unidades só neste ano

O Kindle 2, e-book da Amazon que deve vender 500 mil unidades só neste ano

O que torna um livro tão especial? Além de questões sensoriais e eventualmente emocionais do leitor (coisas como “gosto do cheiro de livro novo”), ele é sem dúvida um invento brilhante pela sua simplicidade e eficiência no que se propõe, além de uma portabilidade invejável.

Há uma outra coisa o coloca adiante de todos os candidatos a ocupar o seu espaço no coração dos leitores: todo mundo sabe usar um livro. Bobagem? Não é! Aprender qualquer nova tecnologia significa ao usuário sair da sua zona de conforto, e os livros têm 554 anos de dianteira sobre a concorrência, desde que Gutenberg terminou de imprimir a sua primeira Bíblia, em março de 1455.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=9LMQhrXThDk]O vídeo acima, uma esquete norueguesa, ilustra com bom humor o que significa aprender uma nova tecnologia, no caso o uso justamente de um livro, lá pelo século XV.

Quem está mais perto de conseguir a proeza de roubar os leitores dos livros tradicionais é o Kindle, e-book da gigante Amazon. Seu principal trunfo é justamente imitar com relativo sucesso um livro: sua tela mimetiza o papel, sem cansar a vista, pode ter suas páginas “viradas” e até permite anotações de rodapé. O tamanho e o peso também lembram um livro. E traz vantagens contra as quais um livro não pode competir: leva uma biblioteca inteira em sua memória (uma média de 1.500 livros), permite comprar livros, audiolivros e periódicos em qualquer lugar (nos EUA) e até mesmo oferece livros mais baratos.

Sim, mais baratos! O conteúdo de um livro pode ser distribuído por diferentes mídias, e papel custa dinheiro. Se você se livra desse custo, nada mais justo que o preço da obra também caia.

Não é de se admirar que os vendedores de enciclopédia não batam mais às nossas portas.

Os jornais vão acabar?

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Rich Boehne, CEO da E.W. Scripps Co., controladora do Rocky Mountain News, anuncia o fechamento do jornal à equipe

Rich Boehne, CEO da E.W. Scripps Co. (ao centro), controladora do Rocky Mountain News, anuncia o encerramento do jornal à equipe

Quando eu entrei no mundo de mídias digitais, eu já ouvia essa pergunta. Naqueles idos de julho de 1995, a Web não passava de um punhado de páginas feiosas e estáticas, mas a Internet já era temida como uma potencial ameaça aos jornais e às revistas. Afinal, ela era rápida e “grátis”. Ou pelo menos, já naquela época, era muito mais barato publicar algo online que no mais vagabundo dos papéis.

Curiosamente, nos anos 1990, os jornais tentavam mimetizar a televisão com projetos gráficos mais diretos e coloridos. O maior expoente desse movimento foi o USA Today, que se transformou em um ícone (sem trocadilhos, ok?), seguido por uma legião de jornais de todo o mundo, inclusive no Brasil.

Passados quase 13 anos, a Web, muito mais espetacular e indefectivelmente presente na vida do cidadão comum (e não apenas como fonte de notícias), não matou os jornais. Ainda. Mas algo parece estar mudando. Enquanto os números das mídias digitais apontam para cima (depois de uma década de prejuízos retumbantes), a mídia impressa amarga um share publicitário cada vez menor, tiragens reduzidas e êxodo de leitores. A maioria deles vai para a Web. Pesquisa do Pew Research Center indica que o consumo de notícias cai em todas as faixas etárias, exceto entre os 25 a 35 anos. Considerando que esse grupo é a base da sociedade de consumo, é uma boa notícia para os veículos de comunicação. Mas não os impressos: essa turma não põe a mão no jornal ou na revista, apenas Web e algo de TV.

Ruim, né? Na verdade, é pior, especialmente no mercado norte-americano, mais severamente afetado pela atual crise econômica. Receitas cada vez menores andam de mãos dadas com dívidas contraídas há alguns anos, que estão se tornando impagáveis com as vacas magras. Os veículos, alguns deles centenários, estão à beira da falência -ou já estão nela. Muitos cogitam seriamente a possibilidade de passar a existir apenas na Web, com Redações mais enxutas e sem os enormes custos gráficos. Entre eles, estão o Seattle Post-Intelligencer e o Tucson Citizen.

No dia 27 de fevereiro, veio uma baixa significativa: o Rocky Mountain News, de Denver, publicou a sua última edição, a míseros 55 dias de completar 150 anos de jornalismo. Não há lugar para dois jornais na cidade (sobrou o The Denver Post). Não deu “tempo” de abraçar uma versão online apenas.

É uma enorme tristeza. Como escreveu em seu blog o colunista Mike Littwin, “jornais não fecham simplesmente: eles morrem.”

Será que a ameaça de 1995 começa a se concretizar afinal?