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Schwarzenegger quer trocar livros didáticos por conteúdo digital na Califórnia

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Entre as propostas para substituir o livro didático, Schwarzenegger menciona o Facebook, o Twitter e até o conceito de open source, tudo para diminuir o déficit de US$ 24 bilhões do Estado

Entre as propostas para substituir o livro didático, Schwarzenegger menciona o Facebook, o Twitter e até o conceito de open source, tudo para diminuir o déficit de US$ 24 bilhões do Estado

O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, mais conhecido pelos seus papéis no cinema que por suas ações políticas (pelo menos para os moradores de fora do mais populoso Estado americano), anunciou uma iniciativa que visa substituir os livros didáticos usados nas escolas californianas por conteúdo estritamente digital. Em uma palestra a alunos na cidade de Sacramento, o ex-Conan republicano classificou os livros como “antiquados, pesados e caros”. “A Califórnia é sede do Vale do Silício. Somos líderes mundiais de tecnologia e inovação, por isso devemos ter isto em mente”, afirmou.

A idéia não é uma iniciativa pedagógica: é uma maneira para se tentar reduzir o gigantesco déficit orçamentário do Estado, que bateu nos US$ 24 bilhões. Nos EUA, o preço médio de um livro didático gira entre US$ 75 e US$ 100. A Califórnia gastou US$ 350 milhões em livros no último ano letivo. A ideia é começar a substituição já no início do próximo ano letivo, que lá começa em agosto.

“As crianças estão familiarizadas com a música digital, além de assistirem a televisão e a filmes online, entrando no Twitter e participando do Facebook”, disse Schwarzenegger. Ele chegou a sugerir o uso de ferramentas como essas no processo pedagógico, mas sem dizer como. A iniciativa está sendo supervisionada pela CLRN (sigla em inglês para Rede de Recursos de Aprendizagem da Califórnia). As obras substitutas podem até mesmo ser criadas sob o conceito do open source, com a autoria sob responsabilidade de voluntários.

Não sei… Isso pode funcionar bem na criação de notícias e até de enciclopédias, cujo maior exemplo de sucesso é a Wikipedia, mas, considerando-se o altíssimo nível de exigência para o material didático, algo nessa linha dependeria de uma supervisão muito forte. É efetivamente difícil de ser produzido. Que o diga o Governo do Estado de São Paulo, diante das recentes mancadas, que custaram a cabeça da secretária da Educação anterior, Maria Helena Guimarães de Castro. Há também uma questão pedagógica que –quero crer– os educadores californianos estejam atentos: é muito importante para os alunos –especialmente os menores– “registrar”, escrever em papel de verdade.

Por outro lado, simpatizo com a ideia do governador-Mr. Universo. É verdade que os livros didáticos custam muito dinheiro, não apenas para os Estados, mas também para os pais dos alunos que têm que desembolsar anualmente uma boa grana antes do começo das aulas. Para a classe média, que vive no fio da navalha, isso chega a abalar o orçamento doméstico. Qualquer iniciativa que reduza essa conta é, portanto, digna de análise. Do lado do aluno, os livros pesam… literalmente. Eu me lembro do exercício diário que eu fazia para carregar esse conhecimento de casa para escola e vice-versa. As mochilas com rodinhas atenuam o problema e algumas escolas oferecem armários individuais para que seus alunos deixem lá seus livros, mas eles continuam “antiquados, pesados e caros”.

Assim, por mais bizarra que possa parecer à primeira vista, a idéia tem seus méritos. Tomara que dê resultados ou pelo menos indique um caminho até um novo formato de conteúdo didático. A escola precisa se modernizar –e muito!– tanto do ponto de vista pedagógico quanto organizacional. Nesse sentido, os livros como os conhecemos realmente podem perder o seu lugar.

Download de filmes: legal, mas caro (e, por isso, tolo)

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A Saraiva largou na frente no download de filmes no Brasil, mas os preços altos podem matar a bela iniciativa

A Saraiva largou na frente no download de filmes no Brasil, mas os preços altos podem matar a bela iniciativa

A Livraria Saraiva anunciou hoje um serviço inédito no Brasil, que permite aos internautas fazer downloads de cópias legais de filmes com qualidade de DVD. Batizado de Saraiva Digital, imita serviços internacionais (mais notadamente o iTunes) e permite que o usuário alugue ou compre os filmes. A diferença entre as duas modalidades, além do preço (entre R$ 3,90 e R$ 6,90 no caso de aluguel), reside no fato de que, no modelo de aluguel, o filme não roda mais depois de 24 ou 48 horas e apenas a modalidade de compra permite queimar o filme em um disco.

Parabenizo a Saraiva pela iniciativa: acho que estão no caminho certo! Mas esses preços… Acompanhem o meu raciocínio:

O usuário será obrigado a baixar o filme, o que, de cara, já exige uma banda (bem) larga e muitas horas de download. Até aí, tudo bem, especialmente para aqueles que já são adeptos dos torrents da vida, baixando filmes ilegalmente. Depois, se quiser gravar em disco, precisa somar o custo da mídia. No final, ficará com um DVD com aspecto de pirata, sem extras, encarte, caixinha, nada.

Pois bem: entrei no novo serviço e vi o filme Juno, belíssima história. O download para compra sai por R$ 34,90. A Saraiva.com me entrega o DVD original, com tudo o que o download não me dá, no dia seguinte por… R$ 34.90. Ok, vamos ver outro filme: O Homem de Ferro, aventura com um dos super-heróis mais cafajestes (pelo menos o seu alter-ego) e divertidos que existem. Na Saraiva Digital, a compra me custa R$ 39,90, enquanto, na Saraiva.com, sai por… R$ 39,90! Procurei então na Americanas.com, concorrente direta da Saraiva.com. E esse mesmo DVD me era oferecido por R$ 19,90.

Aí fica difícil, né? Não sou tão desesperado a ponto de PRECISAR ver o filme imediatamente, sem poder esperar até o dia seguinte para a entrega do DVD e todas as suas vantagens sobre o download. Isso sem falar que a segundo opção não é instantânea, pois ela vai levar umas cinco horas fácil para ser concluída.

Uma das razões do sucesso do iTunes, que o transformaram no maior vendedor de músicas do mundo (superando o Wall Mart), é que o usuário pode comprar, com muita facilidade, apenas as faixas musicais que ele quer, sem precisar levar o álbum inteiro. Além disso (e isso é crítico), cada uma sai por míseros US$ 0,99. Esse valor é baixo o suficiente para “sair na urina” do cartão crédito.

Como disse, a Saraiva mandou bem com a iniciativa. Mas tem que ficar mais barato. Não apenas que a concorrência, mas que ela própria.

WSJ abraça o micropagamento enquanto rejeita Kindle

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Murdoch não está surdo aos movimentos do mercado: adotará o micropagamento e deve lançar seu próprio e-reader em breve

Murdoch não está surdo aos movimentos do mercado: adotará o micropagamento e deve lançar seu próprio e-reader em breve

Enquanto a indústria de mídia discute e discute qual será o seu modelo de negócios do futuro, especialmente para o impresso, o The Wall Street Journal anunciou que está criando um sistema de micropagamento que permitirá que pessoas que não assinem o seu serviço acessem notícias e artigos individualmente, pagando por cada um. Além disso, lançará um serviço Premium que oferecerá o serviço noticioso da Dow Jones. Em tempo: o WSJ é dono de um dos poucos bem-sucedidos casos de assinatura paga na Web, com mais de um milhão de usuários desembolsando US$ 100 por ano pelo acesso.

Rupert Murdoch, dono da News Corporation, que, por sua vez, é dona do WSJ, anunciou que o modelo deve ser ampliado para todos os jornais do grupo. Para o mogul das comunicações, a era do conteúdo online grátis logo acabará. Murdoch lidera a resistência dos descontentes com o jeito que a notícia virou commodity com a Internet e condena serviços como o Google News, que cria publicações agregando conteúdos de diferentes fontes.

A metralhadora giratória não poupa nem o Kindle, que acaba de ter uma terceira versão –a DX– anunciada e vem ganhando manchetes como uma possível maneira de se distribuir os “jornais do futuro”. Tanto que o The New York Times –concorrente da News Corp– é uma das estrelas de seu portfólio. “Não vamos dar o nosso conteúdo à boa gente que produz o Kindle”, disparou Murdoch recentemente.

Isso não quer dizer que ele seja contra os e-readers, como o produto da Amazon. Na verdade, o próprio empresário já ventilou que seu conglomerado de mídia estaria desenvolvendo o seu próprio equipamento. Claro, ele não quer dividir a sua margem com outros: o mercado especula que a Amazon fique com 70% do valor das assinaturas de periódicos baixados e lidos pelo Kindle. Nesse sentido, a resistência de Murdoch é compreensível. Mas a News Corp terá força para, por si só, criar uma alternativa viável de produto? De todo jeito, teria que se associar a algum concorrente da Amazon, pois, por mais que confie na qualidade e relevância de seu conteúdo, ele não é suficiente para abocanhar uma fatia significativa desse mercado. A própria Sony, que já está na estrada com o Reader, pena para fazer frente ao Kindle.

Claro, são apostas.Murdoch está fazendo as deles corajosamente, mas muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte. Ele está certo em se posicionar logo e, se as suas idéias se transformarem no modelo vencedor, a News Corp aumentará a sua influência de uma maneira decisiva.

Para Bezos, Kindle pode salvar jornais em um mundo com menos papel

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Bezos sugere que os jornais "migrem" para seu Kindle a preços mais baixos

Bezos sugere que os jornais "migrem" para seu Kindle a preços mais baixos

Jeff Bezos é um sujeito singular. Ele ficou milionário apostando no comércio eletrônico já em 1994, quando o termo ainda nem havia sido criado. Graças a sua visão de futuro, transformou a Amazon não apenas na maior livraria do mundo (sua origem), mas também na maior vendedora de música e na maior loja de departamentos. Agora ele quer repetir a dose com seu e-reader, o Kindle. Ele espera se firmar como líder no nascente (e cada vez mais explosivo) mercado de livros digitais. Mas também começa a oferecer uma possível saída para a combalida indústria de mídia.

No dia 6 de maio, deu uma nova cartada nessa direção, anunciando o Kindle DX, terceira versão do produto, que vem a público apenas dois meses depois do lançamento do Kindle 2, que continuará sendo vendido. A novidade traz recursos muito interessantes, como a possibilidade de conexão por redes WiFi (e não mais apenas por conexões de celular 3G), o dobro de memória (4 GB, suficientes para guardar, de uma só vez, uma média de 3.500 livros) e a possibilidade de se ler os textos na vertical ou na horizontal, simplesmente rotacionando o equipamento, como acontece com o iPhone. Mas o que chama mais a atenção é a sua tela de 9,7 polegadas, o dobro da do Kindle 2 e quase o tamanho de uma folha de revista. Ok, custa mais caro: US$ 489 contra US$ 359 do Kindle 2.

De todos os recursos do Kindle DX, o que mais chama a atenção é o tamanho da sua tela

De todos os recursos do Kindle DX, o que mais chama a atenção é o tamanho da sua tela

A telona é muito bem-vinda para ler as versões de revistas e jornais para o e-reader. Já estão disponíveis assim as edições diárias de 37 jornais e 28 revistas de seis países, incluindo o The New York Times, a Time e a Newsweek. Mas o que mais chama a atenção é que essas assinaturas digitais podem custar até metade da assinatura do mesmo conteúdo impresso!

Isso faz todo o sentido, já que se elimina o gigantesco custo da impressão. Neste blog mesmo, já havia comentado o interessante exercício feito por Nicholas Carlson, do The Business Insider, que calculou (grosseiramente) que um Kindle 2 custaria metade que o necessário em papel para se imprimir um ano do The New York Times para cada um de seus assinantes. O mesmo jornal anunciou que, até junho, oferecerá assinaturas a preços reduzidos para as cidades onde não há distribuição da versão impressa.

Não sei se Bezos conseguirá repetir seu sucesso com o Kindle, apesar de o produto estar sendo bem recebido. A concorrência está se mexendo (o principal rival é o Reader, da Sony), mas há rumores de que a Apple está preparando o seu produto e que a News Corp, de Rupert Murdoch também entraria nesse mercado. Mas a idéia de os jornais terem, como alternativa, “migrarem” para essa nova plataforma é sem dúvida nenhuma interessante.

Pirataria: questão política ou de mercado?

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Será que os "piratas" do The Pirate Bay são piratas mesmo?

Será que os "piratas" do The Pirate Bay são piratas mesmo?

A Justiça sueca condenou nesta sexta Frederik Neij, Gottfrid Svartholm Warg, Carl Lundstrom e Peter Sunde, ligados ao site The Pirate Bay, a um ano de prisão e ao pagamento de uma multa de US$ 4,5 milhões. Eles eram acusados de violação de direitos autorais pelo site, o mais importante do mundo no quesito troca de arquivos de áudio e de vídeo, a maioria protegidos por direitos autorais.

Os quatro ainda têm direito a recorrer da sentença de primeira instância, mas já declararam que não pagarão a multa. “Mesmo que eu tivesse dinheiro, eu preferiria queimar tudo o que tenho e não lhes daria nem as cinzas”, disse Sunde, que classificou a sentença de “bizarra”. Eles se defendem argumentando que os servidores do site não guardam sequer um arquivo protegido por copyright, apenas os torrents que ajudam os usuários a encontrá-los pela Internet.

Os representantes da indústria fonográfica comemoraram o resultado, como um exemplo para desencorajar a pirataria, uma guerra cada vez mais inglória, que começou com o processo que soterrou o Napster -o primeiro de todos os compartilhadores de arquivos- em 2001. A queda nas vendas de CDs caem abruptamente desde então, abrindo espaço para lojas virtuais, cuja mais famosa é o iTunes, da Apple, e para a pirataria de CDs nos camelôs. Nesse cenário, quem está se tornando obsoletas são as gravadoras e as grandes distribuidoras de discos (isso sem falar das lojas físicas).

Rickard Falkvinge, líder do Piratpartiet, partido político sueco que é contra o copyright, classificou o julgamento como político, e não criminal. “Os eventos de hoje fazem do compartilhamento de arquivos uma questão política quente e nós vamos levar isso ao Parlamento Europeu”, prometeu.

Não estou colocando em questão que produtores de conteúdo de qualquer natureza deixem de ser remunerados: eu mesmo sou produtor de conteúdo e tenho que garantir o leitinho das crianças. O que vem acontecendo -primeiramente com a indústria de entretenimento e mais recentemente com a mídia- é que modelos de negócios consagrado estão morrendo. Está claro que, quanto mais os detentores desses direitos apertam os “piratas” (na verdade, seus consumidores), mais seu controle da situação se esfarela por entre seus dedos.

É o fim dos direitos autorais então? Produzir conteúdo só poderá ser algo feito como hobby? Claro que não! Mas temos que ter coragem de olhar para uma nova realidade, sairmos de nossa zona de conforto e descobrir como nos reposicionarmos, pois os novos modelos já estão por aí.

Só para ficar na indústria do entretenimento, que motivou a prisão da turma do The Pirate Bay, quem já descobriu um modelo alternativo e está se dando muito bem com ele são as bandas do chamado “tecnobrega”, cujo maior expoente é a Calypso. A banda paraense, originária de uma região de alto índice de pirataria, produz e vende diretamente seus CDs a preços popularíssimos, eliminando assim a pirataria de seus álbuns quase completamente. Afinal, por que comprar um CD pirata se o original custa o mesmo? Com seus CDs assolando o mercado, a banda arrasta multidões ensandecidas que lotam seus shows no Brasil inteiro.

Como dizem na música “Chama Guerreira”, “o que eu mais quero dessa vida é ver meu povo feliz cantar”. Eles estão no caminho certo: um caminho mais perto do The PIrate Bay que das grandes gravadoras.

Mais vale um Twitter na mão que dois na concorrência

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O mercado acredita que o passarinho do Twitter pode cair em breve na arapuca do Google

O mercado acredita que o passarinho do Twitter pode cair em breve na arapuca do Google

Esquentam os rumores de que o Google estaria prestes a fazer uma oferta pelo Twitter. O TechCrunch já colocou até um preço: US$ 250 milhões em dinheiro ou equivalente. O mesmo post afirma que o passarinho já recusou uma oferta de US$ 500 milhões feita pelo Facebook há alguns meses, mas havia a diferença de que, naquele caso, boa parte do pagamento seria feito em ações, que poderiam estar com seu valor inflado.

Você usa o Twitter? Se nem sabe o que é, recomendo que veja o vídeo que pode ser disparado da home page do serviço. Não estou sugerindo que, se não usa, você está por fora da revolução tecnológica. Na verdade, o produto é mais um dos sucessos estrondosos da Internet que a mídia explora à exaustão, como aconteceu com o Second Life há uns três anos. Mas há uma pergunta a ser feita aqui: o que faria o Google despejar quarto de milhão de dólares em algo que muita gente acha que não passa de um hype? Por que não compraram também o Second Life então?

A resposta é que o Twitter tem algo que muito interessa ao Google que o Second Life não tem: informações reais sobre pessoas reais, em tempo real. E é justamente organizando quantidades astronômicas de informação que o Google ganha dinheiro. Eles são capazes de extrair dinheiro ao avaliar os movimentos não apenas do mercado, mas do mundo, da vida cotidiana das pessoas e das empresas. Os caras têm a mão no pulso do planeta. E é exatamente o que o Twitter oferece.

Será que o Google vai pegar esse passarinho? Se conseguir, será mais um golpe na sua concorrência direta: Microsoft e Yahoo!

Internet, essa “coisa malvada”

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O Culto do Amador, que sugere que a Internet vai acabar com tudo

O Culto do Amador, que sugere que a Internet vai acabar com tudo

A Veja desta semana publicou uma resenha sobre o livro “O Culto do Amador”, do cientista político britânico Andrew Keen, que passou de empreendedor digital a ferrenho crítico da Internet. Na obra, tenta demonstrar como a Internet e especialmente o que se convencionou chamar de Web 2.0 se transformaram em um Caixa de Pandora do século XXI, capaz de, como diz logo na capa, “destruir nossa economia, cultura e valores”.

Pelo raciocínio de Keen, a possibilidade de qualquer indivíduo ser capaz de publicar conteúdo na Internet é aterrador. Essa liberdade toda destruiria coisas boas que nossas sociedades construíram ao longo da História, colocando um palpiteiro em pé de igualdade com especialistas. E mais: a rede aparece como destruidora do direito autoral e até como responsável pela crise dos jornais nos EUA.

Bem, como diria uma velha professora, “calma com o andor, que o santo é de barro”. A Internet é uma ferramenta que de fato nos dá poder para amplificarmos tudo o que somos. E isso vale para o bem e para o mal. Mas o bem e o mal não foram criados pela Internet: colocamos nela apenas o que somos (toda a sociedade). A Grande Rede funciona apenas como um espelho disso.

Andrew Keen, que passou de empreendedor digital a crítico da Internet

Andrew Keen, que passou de empreendedor digital a crítico da Internet

Keen cita a Wikipedia como o exemplo acabado da vitória da massa ignorante sobre os especialistas. E isso é absolutamente tendencioso! Não quero parecer um deslumbrado que acha que a Wikipedia é a “perfeição pelas mãos de todos”, mas todas as enciclopédias erram. O autor não citou (talvez tenha se esquecido) estudo feito pela Nature, a revista científica mais séria do mundo (e conduzida por especialistas), que concluiu que a Wikipedia e a Enciclopédia Britannica possuem proporcionalmente a mesma incidência de erros e imprecisões. Também conta meias verdades quando diz que as pessoas navegam completamente anônimas, livres para cometer todo tipo de crime e barbaridade.

Qual seria a “solução” para isso? Aceitar a idéia que Elton John teve em 2007, propondo o fim da Internet, pois ela estaria “destruindo a indústria musical e as relações interpessoais”? Acho que não. Gosto das músicas dele e lamento que ele esteja vendendo menos CDs, mas sempre temos -todos nós- que nos adaptar a mudanças. A Internet é só mais uma.

Para arrematar, Keen compara a Web 2.0 ao conceito de que, se um grupo de macacos batucasse infinitamente sobre máquinas de escrever, eventualmente comporiam uma obra coerente algum dia. Bom, prefiro 30 obras coerentes de um milhão de macacos que apenas uma feita por cem biólogos do zoológico. É um direito dos macacos e eles têm algo a dizer.

Mas talvez eu seja um pouco suspeito ao defender macacos 😉

Notebook versus lápis

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Tendência aponta que estudantes preferem escrever em notebooks a usar o lápis

Tendência aponta que estudantes preferem escrever em notebooks a usar o lápis

A Folha publicou nesta segunda uma reportagem sobre como escolas já permitem que alunos levem notebooks pessoais para a sala de aula, como parte de seu material escolar. A reportagem me chamou a atenção em dois pontos: primeiramente porque foi a primeira vez que vi isso fora do ensino superior; em segundo lugar, e mais inusitado, porque os alunos começam a questionar o porquê de se escrever à mão.

Esse questionamento pode parecer absurdo -e é, pelo menos enquanto não dispusermos de infra-estrutura tecnológica que nos permita dispensar de vez papel e lápis-, mas é perfeitamente compreensível para alguém que manipula um PC com a mesma naturalidade que a TV. Esses membros da “Geração Z” realizam os seus trabalhos escolares -mesmo os mais prosaicos- em PowerPoint ou em sequências em Flash.

Além disso, a moderna pedagogia prega que as crianças hoje aprendam primeiro a letra bastão (ou, com se costumava dizer, “de forma”) em maiúsculas, passando depois para as minúsculas e apenas então passam à escrita cursiva (as “letras de mão”). Isso parece estar alinhado com o fato de que o mundo não é mais cursivo. Qualquer PC vagabundo com Windows oferece ao usuário dezenas de famílias de fontes para que experimente em seus escritos, e as crianças estão expostas a essa realidade. Dentro desse novo mundo, as pessoas, de todas as faixas etárias, escrevem e lêem mais que nunca. A questão deixa de ser se se deve escrever “à mão ou com letra de forma” e passa a ser se se deve escolher Arial ou Times New Roman para compor o texto.

Não estou advogando pelo fim da escrita à mão: muito pelo contrário. Mas os fatos estão postos. A questão é saber como pais, escolas e editoras lidarão com isso. Todos estão preparados para isso, pedagógica e até psicologicamente? Pais, professores e demais profissionais de educação conseguirão lidar com essa onda inovadora que ganha volume a cada dia, podendo chegar logo à escala de tsunami?

Não estão. Mas essa onda pega!

Kindle mais barato que jornal

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A salvação dos jornais pode estar em abandonar o papel

A salvação dos jornais pode estar em abandonar o papel

Nicholas Carlson, do The Business Insider, fez um exercício interessante, calculando grosseiramente qual é o custo anual de impressão de um ano do The New York Times para cada um de seus assinantes e depois comparando com o preço de um Kindle. O resultado é, no mínimo, curioso: o e-book da Amazon custa menos que a metade do necessário para se imprimir um ano do NYT. Como já é possível ler o Times no Kindle, ele ventila a idéia de que a direção do jornal deveria considerar presentear seus assinantes com o gadget e economizar milhões de dólares com impressão todos os anos.

A idéia é extravagante, porém emblemática! Mas nem Carlson nem eu estamos sugerindo que a “velha dama cinzenta” faça isso. Primeiro porque o Kindle é bacana, mas ainda não dá para fazer tudo nele. Depois porque uma ação como essa certamente teria impactos em outras partes do negócio, como publicidade ou vendas em bancas. Mas, em tempos de crise brava na mídia, especialmente na americana, não podemos nos dar ao luxo de tapar os ouvidos a idéias inovadoras. A salvação pode estar no rompimento de paradigmas.

Por que todo jornalista deve ter um blog?

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O blog permite ao "coleguinha" se reciclar profissionalmente e ainda colher grande resultados editoriais

O blog permite ao "coleguinha" se reciclar profissionalmente e ainda colher grande resultados editoriais

Esse assunto já foi falado e refalado, mas há muitos irredutíveis “coleguinhas” que “ainda resistem ao invasor”. No caso, essa tal de Internet e como o jornalismo fica cada vez mais interessante nela. Por isso, vou me dar o direito de emitir os meus pitacos.

A desculpa de sempre dessa turma é “não tenho tempo para escrever para o blog, pois tenho que fechar a revista” (ou o jornal ou o que for). Trabalhei em umas das maiores e mais respeitadas revistas do país, e sua direção não queria que os jornalistas mantivessem blogs, para que “não se distraíssem de seu trabalho”. Na verdade, esse era o pensamento não só da revista, mas da empresa. Tosco! Nada mais dissociado da realidade! Ninguém está falando de -heh- “parar de trabalhar na revista” para se dedicar ao blog. Os posts saem naturalmente do material apurado (e muitas vezes desprezado por falta de espaço ou porque esfriou), de um insight enquanto se pensa na pauta ou se remoi os textos, de uma conversa no cafezinho… Sai na urina! Quem não entende isso ou não consegue fazer isso não merece ser chamado de jornalista!

Esse argumento contrário grotesco acontecia até há bem pouco tempo. Felizmente (para eles), os blogs não são mais proibidos, e são até são incentivados. Alguns (poucos) veículos da casa já dão furos online, especialmente porque as revistas são, em sua maioria, mensais, o que inviabiliza o conteúdo quente.

Mas me dói, depois de tudo que falei, ver a “resistência”, a dificuldade de os colegas perceberem que blogs, ainda por cima, lhes trariam inúmeras vantagens profissionais! Trata-se da chance de exercitarmos um gênero textual novo, inexistente em publicações tradicionais. Os posts podem se tornar verdadeiras conversas com os consumidores de nossos trabalhos, sem intermediários, uma chance de melhorar nossos desempenhos profissionais com consultoria grátis. E daí vem outra vantagem: eles podem nos ensinar a ser mais humildes, a perceber que não estamos acima dos fatos, das leis, das pessoas, algo que falta a nós, jornalistas. E, de quebra, aprendemos a ser mais responsáveis, pois qualquer mancada no nosso blog é culpa só nossa: não dá para dividir com ninguém.

E para não ficar só no discurso vazio, alguns colegas da referida revista em que trabalhei -que desdenhavam os blogs- hoje se enchem de orgulho e batem no peito quando dão um furo em seu pequeno feudo e ele ganha uma chamada na home do UOL. Já vi colega até se esquecer que ainda está no site da revista, referindo-se ao sucesso instantâneo do “seu blog”.

Se nada disso ainda convencer, o colega deve pensar que, quando a publicação dele fechar as portas (a crise está aí!), ele ainda poderá continuar exercendo bom jornalismo. Em um blog.

Virando a página

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O Kindle 2, e-book da Amazon que deve vender 500 mil unidades só neste ano

O Kindle 2, e-book da Amazon que deve vender 500 mil unidades só neste ano

O que torna um livro tão especial? Além de questões sensoriais e eventualmente emocionais do leitor (coisas como “gosto do cheiro de livro novo”), ele é sem dúvida um invento brilhante pela sua simplicidade e eficiência no que se propõe, além de uma portabilidade invejável.

Há uma outra coisa o coloca adiante de todos os candidatos a ocupar o seu espaço no coração dos leitores: todo mundo sabe usar um livro. Bobagem? Não é! Aprender qualquer nova tecnologia significa ao usuário sair da sua zona de conforto, e os livros têm 554 anos de dianteira sobre a concorrência, desde que Gutenberg terminou de imprimir a sua primeira Bíblia, em março de 1455.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=9LMQhrXThDk]O vídeo acima, uma esquete norueguesa, ilustra com bom humor o que significa aprender uma nova tecnologia, no caso o uso justamente de um livro, lá pelo século XV.

Quem está mais perto de conseguir a proeza de roubar os leitores dos livros tradicionais é o Kindle, e-book da gigante Amazon. Seu principal trunfo é justamente imitar com relativo sucesso um livro: sua tela mimetiza o papel, sem cansar a vista, pode ter suas páginas “viradas” e até permite anotações de rodapé. O tamanho e o peso também lembram um livro. E traz vantagens contra as quais um livro não pode competir: leva uma biblioteca inteira em sua memória (uma média de 1.500 livros), permite comprar livros, audiolivros e periódicos em qualquer lugar (nos EUA) e até mesmo oferece livros mais baratos.

Sim, mais baratos! O conteúdo de um livro pode ser distribuído por diferentes mídias, e papel custa dinheiro. Se você se livra desse custo, nada mais justo que o preço da obra também caia.

Não é de se admirar que os vendedores de enciclopédia não batam mais às nossas portas.