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Buffett: perdas sem fim para os jornais

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Podre de rico, Buffett acha que jornalismo e papel-jornal não são mais a mesma coisa

Podre de rico, Buffett acha que jornalismo e papel-jornal não são mais a mesma coisa

O segundo homem mais rico do mundo, Warren Buffett, disparou na reunião anual de acionistas da Berkshire Hathaway que não pagaria absolutamente nada pela maioria dos jornais dos EUA. “Existe a possibilidade de eles simplesmente terem perdas sem fim”, disse. Buffett é dono da empresa de investimentos Berkshire, que, por sua vez, é dona do The Buffalo News e grande investidora do The Wall Street Journal.

O raciocínio do bilionário é simples: os jornais (e não o jornalismo) já não seriam mais essenciais ao público. Enquanto eram, também o eram para os anunciantes. Mas agora as notícias podem ser entregues por uma grande variedade de formas, mais notadamente a Internet. Logo, as receitas publicitárias vêm despencando. Mas o empresário fez questão de classificar isso como uma “tragédia nacional”, pois os jornais garantiram, até aqui, “que os governos fossem mais honestos que eles seriam sem os jornais.” As declarações foram publicadas em um post no blog MarketBeat, do The Wall Street Journal.

O Midas que, entre seus primeiros trabalhos, ainda criança, entregava jornais, dissociou publicamente a notícia da mídia que a carrega, algo que ainda é difícil para muita gente. Os vendedores de peixe nas feiras livres agradecem a esses últimos: assim têm garantida a embalagem de seu produto.

Deitados em berço esplêndido

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Enquanto nos EUA vemos os próprios jornalistas arregaçando as mangas e queimando os miolos para salvar os veículos onde trabalham ou pelo menos os seus próprios empregos, no Brasil, as coisas aparentam conforto. Isso estará associado à “marolinha”?

Não há dúvida que a situação da mídia, especialmente a impressa, está muito mais confortável aqui que nos EUA, que atravessa a maior crise da sua história. Segundo o Projeto Inter-Meios, do Meio & Mensagem, em outubro de 2008, os jornais abocanharam R$ 304,6 milhões em publicidade, que representam 4% de aumento em relação do outubro de 2007. As revistas levaram R$ 204,5 milhões no mesmo mês, alta de 9% sobre o ano anterior.

Apesar dos números para cima, os investimentos estão congelados e o facão já passou em várias Redações nesse ano. Revistas e jornais estão mais finos e com conteúdo editorial pior, em parte pelo sacrifício de pratas da casa em favor da contratação de focas, mais baratos.

Então por que ninguém se mexe? Será que necessitamos chegar à beira do abismo, a exemplo da Gringolândia, para colocarmos a massa cinzenta para funcionar?

Receio que o problema seja outro: falta coragem para se mexer em time que está “ganhando”. A mídia impressa continua sendo uma máquina bem azeitada, com faturamentos respeitáveis, que mantém vivas suas casas editoriais. Para seus diretores, que receberão seus gordos bônus mantendo o status quo, não importa que suas equipes de conteúdo digital continuem sendo apenas “a turma da Internet”. Mas o que me dá mais medo é que os colegas que estão na linha de frente da Redação pensem o mesmo e façam de tudo para que nada mude. Naturalmente, eles também não são avaliados pela performance do produto online.

É uma pena muito grande. Como falei no post anterior, 35 ex-jornalistas do agora defunto Rocky Mountain News estão tentando criar um veículo totalmente online para ocupar o lugar do finado periódico. Mas estão tentando fazer isso agora, ao invés de ter arriscado quando o Rocky ainda rodava. Quem é o culpado pelo imobilismo anterior?

Citando novamente o Inter-Meios, a única mídia que teve um crescimento expressivo no ano passado foi a Internet, cujo faturamento de outubro de 2008 foi 45,5% superior ao de outubro de 2007. Lamentavelmente, ela representa ainda apenas 3,5% do bolo publicitário, mas isso poderia ser certamente muito maior, se houvesse mais atitude dos envolvidos.

O botão milagroso

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Clique no botão, assine a revista e salve-a de um destino pior que a morte

Clique no botão, assine a revista e salve-a de um destino pior que a morte

As muitas revistas de uma grande editora onde já trabalhei vêm sofrendo há bastante tempo o mesmo que se observa por aí no mercado: redução nas tiragens, queda na receita publicitária e com assinaturas e diminuição das vendas em bancas. Desde que surgiu, a Internet é apontada internamente como grande vilã desse cenário, o que aliás impede que a empresa invista com seriedade nessa “nova mídia”, temendo que seus próprios sites “canibalizem” (esse é o termo usado) as revistas, roubando-lhes leitores.

Nesse cenário de muita preocupação dos executivos da casa, vira e mexe eles surgem com uma ideia brilhante. Nos últimos dias, foi decretado que os sites de cada publicação deveriam dar destaque ao “botão assine”, aquele que convida o internauta a assinar a revista em papel. E aí vale tudo: jogar o botão para o alto, pintar o bichinho de vermelho e fazê-lo piscar, transformá-lo em uma animação espalhafatosa. Se poluir ainda mais o já complicado layout, azar.

É a típica visão distorcida dos fatos. Não que os sites não devam “ajudar” suas irmãs em couché, mas o buraco é mais embaixo. Conversando com uma gerente de assinaturas da mesma editora, ela confidenciou que, apesar dessa histeria das Redações diante da “ameaça digital”, que já dura anos, até hoje a Web não provocou diferenças significativas nas vendas de assinaturas e em bancas. Sim, é isso mesmo que você leu! Quem está maculando esses números, segundo ela, são o aumento do preço de capa e a redução dos descontos nas assinaturas.

Na verdade, ela tem uma visão parcial da coisa. Esses ex-consumidores de revistas continuam consumindo informação, mas em outro lugar. E esse lugar é justamente a Web. Eles deixam de investir em papel para consumir o mesmo material jornalístico (ou ainda melhor) em outra mídia, que oferece isso de maneira mais cômoda e mais barata, até de graça.

Daí vem o povo com a história do botão milagroso… Como dizia um velho amigo, “o pior cego é o que não quer ouvir”. Quantos títulos deverão ser fechados antes de pararem de enxergar seus sites como meros complementos das revistas e canais de venda de polpa de madeira impressa?

Kindle mais barato que jornal

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A salvação dos jornais pode estar em abandonar o papel

A salvação dos jornais pode estar em abandonar o papel

Nicholas Carlson, do The Business Insider, fez um exercício interessante, calculando grosseiramente qual é o custo anual de impressão de um ano do The New York Times para cada um de seus assinantes e depois comparando com o preço de um Kindle. O resultado é, no mínimo, curioso: o e-book da Amazon custa menos que a metade do necessário para se imprimir um ano do NYT. Como já é possível ler o Times no Kindle, ele ventila a idéia de que a direção do jornal deveria considerar presentear seus assinantes com o gadget e economizar milhões de dólares com impressão todos os anos.

A idéia é extravagante, porém emblemática! Mas nem Carlson nem eu estamos sugerindo que a “velha dama cinzenta” faça isso. Primeiro porque o Kindle é bacana, mas ainda não dá para fazer tudo nele. Depois porque uma ação como essa certamente teria impactos em outras partes do negócio, como publicidade ou vendas em bancas. Mas, em tempos de crise brava na mídia, especialmente na americana, não podemos nos dar ao luxo de tapar os ouvidos a idéias inovadoras. A salvação pode estar no rompimento de paradigmas.

Os jornais vão acabar?

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Rich Boehne, CEO da E.W. Scripps Co., controladora do Rocky Mountain News, anuncia o fechamento do jornal à equipe

Rich Boehne, CEO da E.W. Scripps Co. (ao centro), controladora do Rocky Mountain News, anuncia o encerramento do jornal à equipe

Quando eu entrei no mundo de mídias digitais, eu já ouvia essa pergunta. Naqueles idos de julho de 1995, a Web não passava de um punhado de páginas feiosas e estáticas, mas a Internet já era temida como uma potencial ameaça aos jornais e às revistas. Afinal, ela era rápida e “grátis”. Ou pelo menos, já naquela época, era muito mais barato publicar algo online que no mais vagabundo dos papéis.

Curiosamente, nos anos 1990, os jornais tentavam mimetizar a televisão com projetos gráficos mais diretos e coloridos. O maior expoente desse movimento foi o USA Today, que se transformou em um ícone (sem trocadilhos, ok?), seguido por uma legião de jornais de todo o mundo, inclusive no Brasil.

Passados quase 13 anos, a Web, muito mais espetacular e indefectivelmente presente na vida do cidadão comum (e não apenas como fonte de notícias), não matou os jornais. Ainda. Mas algo parece estar mudando. Enquanto os números das mídias digitais apontam para cima (depois de uma década de prejuízos retumbantes), a mídia impressa amarga um share publicitário cada vez menor, tiragens reduzidas e êxodo de leitores. A maioria deles vai para a Web. Pesquisa do Pew Research Center indica que o consumo de notícias cai em todas as faixas etárias, exceto entre os 25 a 35 anos. Considerando que esse grupo é a base da sociedade de consumo, é uma boa notícia para os veículos de comunicação. Mas não os impressos: essa turma não põe a mão no jornal ou na revista, apenas Web e algo de TV.

Ruim, né? Na verdade, é pior, especialmente no mercado norte-americano, mais severamente afetado pela atual crise econômica. Receitas cada vez menores andam de mãos dadas com dívidas contraídas há alguns anos, que estão se tornando impagáveis com as vacas magras. Os veículos, alguns deles centenários, estão à beira da falência -ou já estão nela. Muitos cogitam seriamente a possibilidade de passar a existir apenas na Web, com Redações mais enxutas e sem os enormes custos gráficos. Entre eles, estão o Seattle Post-Intelligencer e o Tucson Citizen.

No dia 27 de fevereiro, veio uma baixa significativa: o Rocky Mountain News, de Denver, publicou a sua última edição, a míseros 55 dias de completar 150 anos de jornalismo. Não há lugar para dois jornais na cidade (sobrou o The Denver Post). Não deu “tempo” de abraçar uma versão online apenas.

É uma enorme tristeza. Como escreveu em seu blog o colunista Mike Littwin, “jornais não fecham simplesmente: eles morrem.”

Será que a ameaça de 1995 começa a se concretizar afinal?