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“Vc tc” assim? Seu português pode melhorar!

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A Dra. Clare Wood, da Coventry University - Foto: divulgação

Para Clare Wood, o "internetês" não só não corrompe o idioma, como funciona como um poderoso instrumento para desenvolver habilidades ligadas à leitura e à escrita

A agilidade típica de conversas pela Internet (como em mensagens instantâneas) e em SMS popularizou de vez o uso de abreviaturas, acrônimos, siglas, neologismos embutidas nas frases, o que deixa educadores e pais de cabelo em pé. Para eles, expressões como “vc”, “tc”, “LOL” distorcem o idioma, produzindo uma geração de semianalfabetos.

Essa preocupação não existe apenas no Brasil. Tanto que pesquisa realizada por Clare Wood, na Coventry University (Reino Unido), procurou avaliar o que há de verdade nesses temores. E o resultado foi incrível: o uso de “texting” -como essa prática é conhecida em inglês- não apenas não representa uma ameaça, como paradoxal e surpreendentemente auxilia as crianças a desenvolver habilidades necessárias para a leitura e a escrita.

Segundo as conclusões da pesquisadora, a prática ajuda o “conhecimento fonológico”, que permite a uma pessoa detectar, isolar e manipular padrões sonoros na fala. Esse mecanismo é necessário, por exemplo, para saber se uma palavra rima com outra, ou o que sobra dela se removermos uma de suas letras. Para Wood, o “texting”, na verdade, ajuda as crianças a aumentar o seu contato com o idioma escrito.

“Esperamos instigar uma mudança na atitude de professores e pais, reconhecendo o potencial de exercícios baseados em texto para envolver crianças em atividades de conhecimento fonológico”, diz Wood. E vai mais longe: “se estamos vendo um declínio nos padrões literários de nossas crianças, isso acontece apesar de mensagens de texto, e não devido a elas.”

Por mais que isso possa se chocar com o senso comum, a pesquisadora está correta. E, se não for por qualquer outro motivo, já bastaria dizer que a língua é uma coisa viva, sempre disposta a ampliar os limites rígidos impostos pela norma culta. Peguemos o exemplo de “vc”, provavelmente o neologismo derivado dos chats mais popular em português. Ele significa “você”, palavra dicionarizada há muito, muito tempo. Mas alguém se lembra que “você” é uma evolução de “vosmicê”, que, por sua vez, derivou-se de “vossa mercê”? Não por acaso é um pronome de tratamento. Pois é, “vc” vem de “vossa mercê”, e isso está em linha com o que Wood afirma.

Por isso, apoio a sugestão dada dois parágrafos acima. Mas cabe a pergunta: quem vai capacitar os professores para isso? Sim, pois infelizmente lhes falta muito para abraçar uma causa linguística-tecnológica desse porte. Inicialmente porque precisam se despir de alguns preconceitos pedagógicos que há muito já deveriam estar enterrados. Depois porque precisam entender (no sentido amplo da palavra) que a tecnologia é uma enorme aliada pedagógica que eles possuem, e não uma ameaça. E finalmente eles precisam aprender a criar as tais atividades valendo-se da tecnologia e do que dela deriva, como o próprio “texting”.

Mas fica a pergunta: quem vai cumprir esse papel de educar os educadores? As editoras? Os governos? Os sindicatos? Honestamente, esse é um trabalho que toda a sociedade precisa abraçar. Nossos mestres estão tomando uma surra de inovação de seus discípulos, que acabam sendo as grandes vítimas desse processo, pois todo esse seu potencial acaba sendo desperdiçado em escolas que ainda estão no século passado (e não nas suas últimas décadas). Basta ver os exemplos da pequena Abbey e das crianças da Robin Hood School, nos posts anteriores.

As crianças podem ser muito mais (e elas querem isso), se forem adequadamente conduzidas. E esse é justamente o trabalho do professor moderno. Flw?

Até onde vai o vale-tudo na China?

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David Drummond, principal executivo jurídico do Google - Foto: divulgação

Drummond botou a boca no trombone, mas o que realmente há por trás da reação do Google?

Pergunte a qualquer grande empresário se ele gostaria de ter uma operação na China e a resposta provavelmente será sim. Entrar no gigante vermelho é quase como uma medalha de mérito, pois representa acesso a um mercado gigantesco e ainda com muito espaço, com custos de produção muito baixos que levam também a exportações para todo mundo de maneira muito competitiva.

Mas, há seis dias, David Drummond, principal executivo jurídico do Google publicou o post “uma nova abordagem para a China” no blog oficial da empresa, informando que a empresa e dezenas de outras foram alvos de ataques de hackers chineses. Até aí, nada demais. Mas o vice-presidente afirmou categoricamente que os ataques tinham, como alvo, contas de e-mail de ativistas de direitos humanos daquele país. Ainda que não tenha dito explicitamente, ficou no ar a ideia de que o governo chinês poderia estar por trás daquelas ações.

O Google afirma que, diante disso, mudará a postura de sua operação local, não mais aceitando a interferência e as regras do governo de Pequim, que obriga a empresa, por exemplo, a censurar os resultados de seu buscador, eliminando links para páginas que o governo considera contrárias a seus interesses. Quando foi anunciada, essa censura causou grande desconforto entre os usuários, inclusive maculando o mote informal do Google, “don’t be evil” (“não seja mau”).

Algumas empresas declararam apoio ao Google –como o Yahoo!– e outras nem tanto –como a Microsoft. E, apesar de a secretária de Estado do EUA, Hillary Clinton, ter dito que as acusações do Google “motivam preocupações e questionamentos muito sérios”, é pouco provável que o incidente provoque alguma crise política entre Washington e Pequim.

Vamos aos fatos! Qualquer empresa que quiser operar no mercado chinês tem que aceitar as regras e a interferência do governo local, e isso não vai mudar. Yao Jian, porta-voz do ministério do Comércio chinês já reiterou isso, após negar que o governo tenha relação com os ataques. Todas as empresas, de qualquer indústria, aceitam essa regra e os computadores vendidos no país vêm com um software-espião, batizado de Green Dam (“barragem verde”).

MAS… será que a China é a única “malvada”? Com toda essa gritaria, alguém se lembrou que as mesmas empresas também colaboram com o governo americano, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001? O próprio CEO do Google, Eric Schmidt, sugeriu publicamente, no fim do ano passado, que ninguém deve colocar na Internet algum tipo de informação da qual possa se arrepender, pois a privacidade total não existe. No final das contas, há mesmo uma diferença nas investidas dos governos dos EUA e da China contra a privacidade? E tem ainda o nosso senador Eduardo Azeredo e seu famigerado projeto de lei, que quer “regular” a Internet brasileira.

Como se pode ver, tá todo mundo com o rabo preso.

O Volp da discórdia

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Linguistas brasileiros estão questionando a iniciativa da ABL (Academia Brasileira de Letras) de lançar a quinta edição do “Volp”, o “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”. A publicação traz a grafia “oficial” das palavras do idioma, segundo as regras do acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa, em vigor desde o dia 1º de janeiro.

Os críticos argumentam -com razão- que a obra foi organizada unilateralmente pela ABL, sem ouvir Portugal ou os outros países signatários, que podem questionar a grafia adotada pelos brasileiros para palavras polêmicas diante das novas regras. A maioria das dúvidas se refere a palavras grafadas com hífen (ou não).

A ABL se defende, dizendo que suas decisões foram bem embasadas e que não devem gerar polêmica com os outros países. Pode ser mesmo que estejam certos, mas a atitude foi um tanto arrogante. Se outros países contestarem o Volp, será legítimo.

Em entrevista à Folha, Evanildo Bechara, que coordenou o Volp, disparou: “se os portugueses seguirem o acordo que eles assinaram, o vocabulário será igual.” Feio! Muito feio! Quem lhe deu a autoridade para dizer isso?

Ora pois!

Fazendo água além-mar

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Se os brasileiros parecem estar dispostos a abraçar o novo acordo ortográfico, o mesmo não acontece entre os lusos. Pesquisa realizada em Portugal aponta que 57,3% deles são contrários ao acordo, sendo que 66,3% afirmam que não adotarão as novas regras. A situação é pior entre os mais jovens e os menos escolarizados.

Pode-se argumentar que se trata de um acordo de gabinete, criado sem apoio popular. Mas pensando friamente: haveria outro jeito de se fazer isso?

Particularmente as reações não me espantam: um acordo desse tira as pessoas de uma de suas maiores zonas de conforto, que é a maneira de escrever. Mas as regras estão aí, os governos estão apoiando o acordo. A grande imprensa e editoras têm papel fundamental para que isso aconteça, ainda que a longo prazo (uma década, provavelmente).

Em tempo: a pesquisa foi feita pela empresa Aximage, sob encomenda do “Correio da Manhã”. Trata-se do jornal mais vendido em Portugal. E que ainda não adota as novas normas em suas páginas. Ora pois!

Tirando o trema da linguiça

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Capa da quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa

Capa da quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa

A ABL (Academia Brasileira de Letras) finalmente lança, no dia 19 de março , o novo “Volp”, o “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”, publicação que funciona como guia para todos os dicionários do país. Não se trata de um “dicionário-pai”, mas de um volume que traz a grafia correta das palavras do nosso idioma. Apesar de estar organizado em ordem alfabética, como um dicionário, ele não traz nenhuma definição, apenas classificações gramaticais.

Essa quinta edição da obra, com seus 349.737 palavras, foi muito aguardada, pois é a primeira que contempla as novas grafias do acordo ortográfico entre os países de Língua Portuguesa, que passou a valer no dia 1º de janeiro. Ironicamente, apesar de as regras terem sido criadas para unificar a grafia entre os países, elas deixaram várias dúvidas por incluírem, em sua redação, juízos de valor (como “consagradas pela tradição”) ou escalas imprecisas (como “em certa medida”).

Vale perguntar o que acontecerá com todos os dicionários que a maioria das editoras se apressaram para lançar no ano passado, na ânsia de colher uns cobres colocando um selo “conforme o novo acordo ortográfico” na capa. Elas não estavam mentindo: de fato, essas edições foram revistas à luz das novas regras. Mas é improvável que qualquer um deles tenha acertado em todos os casos duvidosos. Com isso, essas obras ficam imprecisas diante do novo “Volp” e necessitarão ser revistas. Apesar de percentualmente essas palavras representarem quase uma nulidade, estarão lá. Pior para quem já comprou.

Curiosamente a Microsoft decidiu aguardar a liberação do Volp para atualizar os seus corretores ortográficos, como os que verificam as palavras do Office. Decisão acertada.

Agora só falta convencer os outros países que a grafia do “Volp” para os casos duvidosos são as que devem valer. E o Brasil proporá isso. A conferir o resultado.