Star Wars

A Bruxa dá a maçã envenenada à Branca de Neve, no primeiro longa-metragem animado da história (1938) - Foto: reprodução

Quem matou a veia criativa da Disney?

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Desde que lançou “Branca de Neve e os Sete Anões” em 1938, Walt Disney elevou o conceito das animações a um patamar altíssimo, sendo responsável por algumas das maiores obras-primas do gênero. Seu sucesso se deve a sua obsessão pela excelência.

Infelizmente não dá para manter a barra no alto o tempo todo: de vez em quando, o estúdio fazia algo que não fosse tão incrível. Mas isso é diferente do que se observa agora: uma aparente decisão de trocar a qualidade pela quantidade.

Já faz muito tempo que a Disney não faz nada que seja realmente memorável. A empresa está se especializando em “live actions” –filmes com atores humanos que reproduzem antigos sucessos de animações– sem nenhuma criatividade, até piorando a história para que fique mais palatável ao mercado. Um exemplo disso foi o remake de “Mulan” (2020).

A mais recente vítima da nova política é a recém-lançada animação da outrora brilhante Pixar, “Elementos”, que teve a pior bilheteria de estreia da história do estúdio. Depois de custar US$ 200 milhões, rendeu “míseros” US$ 29,5 milhões nos EUA no fim de semana de estreia. Para comparação, “The Flash”, da Warner Bros, que também está decepcionando, rendeu US$ 55,1 milhões na estreia por lá.

Esse resultado é emblemático, porque a Pixar foi comprada pela Disney em 2006, em uma época em que a última passava por uma seríssima crise criativa, com lançamentos como os pavorosos “Nem Que a Vaca Tussa” (2004) e “O Galinho Chicken Little” (2005). Naqueles anos, a Pixar lançava os fabulosos “Os Incríveis” (2004) e “Carros” (2006).

A compra provocou uma transferência de cérebros para a casa do Mickey, especialmente de John Lasseter, que havia sido demitido da própria Disney em 1983 por querer apostar em animação computadorizada. Voltou como diretor criativo da Pixar e da Walt Disney Feature Animation (depois rebatizada como Walt Disney Animation Studios). Aquilo foi um sopro de inteligência e criatividade, gerando bons títulos para a Disney, como “Enrolados” (2010), “Detona Ralph” (2012) e “Frozen” (2013).

A empresa fez outras duas mega-aquisições para seu portfólio nos anos seguintes: comprou a Marvel (2009) e a Lucasfilm (2012), duas marcas que pareciam ter um “toque de Midas”, produtoras de enormes sucessos em sequência.

E então a coisa começou a desandar de novo.

 

Sai a qualidade, entra a quantidade

Sou um fã histórico de “Star Wars”, daqueles que faz citações dos filmes no cotidiano. Ou fazia: sob o comando da Disney, a saga da família Skywalker pariu filmes enlatados de consumo fácil e qualidade sofrível.

Quando o primeiro deles saiu em 2015, “Episódio VII: O Despertar da Força”, trouxe ideias interessantes: uma protagonista jedi, um stormtrooper negro que mostrava o rosto (literalmente) e com crise de identidade, o resgate dos velhos heróis e cenários mais realistas. Infelizmente pouco disso foi bem desenvolvido, sofrendo ainda com um vilão fraco e um roteiro com buracos. Era o prenúncio para o catastrófico “Episódio VIII: Os Últimos Jedi” (2017) e o fraco “Episódio IX: A Ascensão Skywalker” (2019).

Como resultado, aconteceu o inimaginável: perdi o interesse que tinha em “Star Wars”.

Algo semelhante aconteceu com a Marvel. Depois de anos com uma enxurrada de sucessos, começando pelo “Homem de Ferro” (2008) e culminando em “Vingadores: Ultimato” (2019), o selo tem lançado títulos que não empolgam a base de fãs como antes.

Várias coisas levaram a essa relativa queda da Pixar, da Lucasfilm, da Marvel e da própria Disney. Em primeiro lugar, há um êxodo de cérebros da empresa, que a deixam reclamando de más condições de trabalho. Os prazos ficaram tão exíguos, que os artistas estão tendo que piorar a qualidade dos efeitos especiais, pois não há tempo para os computadores gerá-los como gostariam.

Mas há claramente a política da quantidade a qualquer custo. E aí entra um outro fator determinante: o serviço de streaming Disney+, lançado em 2019. Sua principal força é também seu calcanhar de Aquiles: ele possui todo o conteúdo da Disney, da Pixar, da Marvel, de Star Wars e da National Geographic. E só!

Ele chegou tarde a um mercado amplamente dominado por rivais estabelecidos, liderados pela Netflix. Com força bruta, cavou o seu espaço entre eles. Mas, para isso, precisou iniciar uma corrida frenética de produção de filmes e principalmente séries dessas marcas, muitas delas descartáveis.

Outra decisão polêmica tem afastado o público que não assina a Disney+: a decisão de lançar longas-metragens apenas no streaming, ignorando as salas de cinema. Foi o caso de três títulos da Pixar seguidos: “Soul: Uma Aventura com Alma” (2020), “Luca” (2021) e “Red: Crescer É uma Fera” (2022).

De todas as marcas da casa, a Pixar é justamente a que vem se esforçando mais para manter o nível. Tanto que, apesar da bilheteria decepcionante, “Elementos” conseguiu do público uma nota A nas pesquisas do CinemaScore e ficou com 91% no índice Rotten Tomatoes, na manhã de domingo de estreia. É bom, mas está abaixo do índice na estreia de grandes sucessos da Pixar. E precisamos verificar se se manterá quando o público “menos fã” começar a votar.

O mercado cultural e até Wall Street estão preocupados com essas decisões da Disney. O primeiro lamenta a queda na qualidade média das produções a um nível abaixo da crítica. Já a turma dos investimentos quer saber como isso impactará os negócios desse colosso do entretenimento.

Walt Disney criou seu império apostando na qualidade e fazendo o que os outros não conseguiam para encantar o público. Deve estar se revirando no túmulo ao ver que as ainda existentes boas ideias vêm sendo diluídas em um oceano de filmes e séries de fórmulas fáceis e decisões de negócios que afastam o público de suas produções.

Para uma empresa que nasceu com histórias baseadas em contos de fadas, seus gestores deveriam prestar atenção na fábula de Esopo sobre a “galinha dos ovos de ouro”. Ela conta a história de um casal de camponeses que tinha uma galinha que diariamente botava um ovo de ouro! Movidos pela ganância e achando que no interior do animal haveria grande quantidade do metal, eles a matam. Só para descobrir que, nas entranhas, era como qualquer outra galinha, ficando sem sua dose diária de ouro.

Do jeito que está, sinto que os executivos da Disney já estão amolando a faca…

 

O que Star Wars pode nos ensinar a essa altura do campeonato

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Na quinta passada, o Episódio IX de Star Wars, “A Ascensão Skywalker”, estreou nos cinemas. A saga espacial, criada por George Lucas há 42 anos, chega ao fim com o status de mitologia moderna e incontáveis fãs em três gerações. E, como toda mitologia, suas histórias trazem ensinamentos que servem ao cotidiano de qualquer um, mas que particularmente se aplicam ao momento em que vivemos no Brasil.

Muitos acreditavam que esse seria o ano da virada na economia. Não aconteceu. Apesar de termos saído da recessão, os investimentos continuam baixos e o desemprego nas alturas!

Também foi um ano de desilusão e muito ódio nas relações, dois sentimentos destrutivos, que precisamos combater.

É aí que entra Star Wars, com mensagens de esperança e de união. Assista ao meu vídeo abaixo e veja como Lucas construiu uma narrativa que nos serve muito bem. E depois comente como podemos construir um 2020 mais positivo!



Essa também é minha mensagem de fim de ano a vocês. Na semana que vem, excepcionalmente não publicarei meu vídeo às segundas de manhã, voltando no dia 6. Mas, até, lá, nossa conversa continua nas redes!

Vamos construir um 2020 melhor para todos!


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As maiores inovações podem surgir de cópias do que já existe

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De onde vêm as grandes ideias?

Em muitas ocasiões, algo que muda o mundo surge inspirado por um produto já existente -isso quando não acontece uma cópia.

Isso não tem nada a ver com falta de criatividade ou roubo intelectual. De certa forma, é exatamente o contrário disso: criamos produtos a partir da modificação de outros. Nessa linha, os anos 1970 viram o nascimento da Cultura Remix na música, quando novas obras surgiam pela mescla, ainda com equipamentos analógicos, de trechos de outras.

Isso se espalhou para outras formas de arte, mais notoriamente o cinema, e até a indústria de tecnologia. Alguns exemplos notórios da Cultura Remix são Star Wars e o Macintosh, da Apple.

Os meios digitais potencializaram essa nossa natureza, para incrível facilidade de se copiar, transformar e combinar seja lá o que for. Tanto que o conceito se popularizou completamente, tendo nos “memes” um exemplo prosaico e cotidiano disso.

É inevitável pensar em direitos autorais e patentes nessa hora. A Cultura Remix bate de frente com essas proteções, e os advogados andam com bastante trabalho. Entretanto, essa mudança cultural não tem volta. Precisamos aprender a conviver construtivamente com ela, sem coibir a criatividade ou infringir direitos de terceiros.

Entenda melhor a Cultura Remix e seu impacto no nosso cotidiano assistindo ao meu vídeo abaixo. E depois compartilhe conosco como ela faz parte da sua vida.



Ficou com vontade de assistir a “George Lucas Apaixonado”? É só clicar em https://www.youtube.com/watch?v=BDHTUETSLwM

Veja o trecho do filme “Piratas do Vale do Silício”, que ilustra como Steve Jobs usou as inovações da Xerox para criar o Macintosh (e o Lisa, antes dele): https://www.youtube.com/watch?v=0Rvn71r_Oic

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Por que você não pode deixar a verdade ser apenas um ponto de vista

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Darth Sidious, o imperador da saga Star Wars, que chegou ao poder após enganar e manipular aliados e inimigos – Foto: reprodução

Darth Sidious, o imperador da saga Star Wars, que chegou ao poder após enganar e manipular aliados e inimigos

Não sei quanto a você, mas ando muito preocupado com o comportamento das pessoas nas redes sociais, mesmo no LinkedIn, onde o nível médio das discussões sempre foi mais alto! Vejo agressões mútuas por divergências de qualquer natureza, muitas vezes gratuitamente e de maneira desproporcional. Além do ódio injustificado, o grande problema disso é que um espaço que deveria servir para melhorar relacionamentos, fazer negócios e realizar trocas de qualidade vira uma arena destrutiva.

Temos que sair dessa irracionalidade, pelo bem de cada um e de toda a sociedade. Mas como para fazer isso?

Antes de responder, gostaria de esclarecer antecipadamente, até mesmo pelo exposto acima, que esse não é um artigo de cunho político, que não pretendo defender ou atacar qualquer lado de qualquer assunto. Mesmo porque entendo que, quando a discussão chega a esse nível rasteiro, não há mais lado “certo” ou “errado”.

A essência dessa enorme confusão é que ultimamente qualquer versão vale mais que a verdade. É assustador, mas observo, cada vez mais, as pessoas tapando completamente os olhos diante de fatos inegáveis, documentados, escancarados, para continuar acreditando no que lhe convém. O fanatismo das torcidas organizadas de futebol parece ter se espalhado para outras paixões, particularmente a política, carregando suas piores características: a cegueira ideológica e o efeito manada. Por isso, estão dispostos a matar em nome do time (que nunca pediu isso)!

Esse incômodo vem crescendo em mim há mais de um ano. Mas nesta terça, resolvi escrever esse artigo, enquanto assistia pela enésima vez o Episósio III de Star Wars, o sombrio “A Vingança dos Sith”. Percebi que nossa realidade se assemelha muito à trama conduzida pelo personagem Palpatine/Darth Sidious. O senador do planeta Naboo avança politicamente pelos anos, enganado e matando, sempre com um véu de legalidade, até o ponto de criar uma guerra interplanetária para seu benefício. Com sua habilidade de sedução e engodo, consegue apoio de todos até atingir seu objetivo de eliminar (literalmente) seus inimigos e se tornar imperador.

Vale aqui uma nota pessoal: sou fã da saga espacial criada por George Lucas, que é carregada de simbolismos. Costumo usar muitos deles como aprendizado para o cotidiano.

No momento preciso, Palpatine se autoproclama imperador da galáxia, ovacionado pelos senadores. Poucos perceberam a obviedade de que algo ali estava muito errado, entre eles a senadora Padmé Amidala, sentenciando: “então é assim que a liberdade morre, com um aplauso ensurdecedor”.

Qual a semelhança com o que vivemos hoje?

 

Precisamos acreditar em algo

Políticos e outras grandes lideranças manipulam as massas desde sempre para atingir seus objetivos. Já tivemos vários casos na história que, assim como Palpatine, criaram guerras, ao custo de milhões de vidas, apenas para ampliar seu poder.

Mas é a primeira vez que as redes sociais são usadas como instrumento de manipulação. E o resultado tem sido devastadoramente eficiente. Nelas, tudo acontece de maneira mais intensa e mais rapidamente, mesmo a transformação de mentiras em verdades. Isso ganhou até um nome bonito: “fake news”.

A ironia é que nós precisamos acreditar em algo. Faz parte da nossa natureza humana. O aclamado historiador israelense Yuval Noah Harari disse, em seu livro “21 Lições para o Século 21”, lançado no ano passado, que “desde a era da pedra, mitos foram reforçados a serviço da união da coletividade humana. Realmente o Homo sapiens conquistou esse planeta graças, sobretudo à habilidade humana única de criar e disseminar ficções.”

Mas tudo tem limite! Se houver um “desequilíbrio na Força”, essa habilidade essencial passa a fazer com que as pessoas deixem de colaborar entre si, para reforçar seus preconceitos. E é exatamente isso que temos agora.

Não podemos perder a capacidade de dialogar, e isso inclui com as pessoas que não pensam como nós. Aliás, de certa forma, quando nos confrontamos com as diferenças, é quando mais crescemos, pois nos permitimos ver o mundo por outra ótica.

A imprensa desempenha um papel essencial no processo do diálogo, por isso se busca domesticá-la ultimamente. Nenhum espanto até aí: quanto mais totalitário um regime, mais os veículos de comunicação sofrem, até o ponto de serem controlados e colocados em favor da “causa”.

Uma das principais funções da imprensa, crítica para o desenvolvimento de qualquer sociedade, é justamente fiscalizar um governo. Isso não quer dizer persegui-lo, mas certamente inclui apontar tudo que estiver errado ou for suspeito. Por isso, vejo aterrorizado uma quantidade imensa e barulhenta de pessoas, influenciadas por grupos ideológicos de todos os matizes, desqualificando os veículos e agredindo (até mesmo fisicamente) jornalistas.

É verdade que há casos inaceitáveis de notícias propositalmente enviesadas, e veículos e profissionais que se prestam deliberadamente a esse antijornalismo. Isso é lamentável, até mesmo porque oferecem munição para os que querem alvejar a imprensa toda. Portanto, se a seriedade e o equilíbrio sempre foram essenciais para essa profissão, agora ficaram ainda mais indispensáveis, para a manutenção da credibilidade, seu valor mais precioso. Precisamos de jornalismo de alta qualidade!

O mais absurdo dessa história é que o mesmo veículo ou profissional é “acusado” de ser “de direita” ou “de esquerda” (como se posicionamento político fosse um crime), de acordo com o que noticia e do agressor. Ou seja, se o fato desagrada grupos conservadores, são taxados “mentirosos de esquerda”; se forem problemas de grupos liberais, são “mentirosos da direita”.

Obviamente essa equação não fecha.

 

Como escapar dessa armadilha

Se antes a construção dessas mentiras levava anos, graças à manipulação das pessoas pelas redes sociais, isso agora pode ser feito em poucas semanas. De fato, escrevi, em maio do ano passado (portanto muito antes de o resultados das eleições se delinear), que o presidente atual seria eleito em um “videogame”. E foi exatamente isso que aconteceu.

As “fake news profissionais” estão longe de se apenas boataria. Seus produtores sabem como usar as redes sociais para coletar dados dos usuários e identificar seus desejos e seus medos. Dessa forma, não apenas produzem seu material para atender a isso tudo, como “plantam” esse material diretamente naqueles que gostariam que aquilo fosse verdade. E, diante disso, essas pessoas “compram a ideia” facilmente, espalhando-a com força. A partir daí, as infames “bolhas” das rede sociais fazem o trabalho sujo. Exatamente como aconteceu no escândalo Facebook – Cambridge Analytica.

Ou seja, o elo fraco dessa nefasta corrente manipuladora somos nós mesmo, que queremos acreditar na mentira, porque ela nos convém de alguma maneira. E, graças às “bolhas”, que nos colocam em contato com uma multidão de pessoas que pensam da mesma forma, a mentira parece cada vez mais verdadeira.

Esse é o ponto onde estamos.

Portanto, a única maneira de tirarmos essas vendas que nos cegam e colocam familiares, amigos, colegas e desconhecidos em rota de colisão frontal é desconfiar até daquilo que queremos. Como diz o ditado, “quando a esmola é grande, até o santo duvida”. E os santos têm andado muito, muito generosos ultimamente.

Outro personagem-chave de Star Wars, o mestre jedi Obi-Wan Kenobi, disse ao então aprendiz Luke Skywalker que “muitas das verdades a que nos apegamos dependem muito do nosso próprio ponto de vista.” Esse ensinamento aparece no filme “O Retorno de Jedi”, de 1983. Hoje, 36 anos depois, ele nunca foi tão verdadeiro.

Saia de sua zona de conforto! Aprenda com o outro! Não acredite nas obviedades que lhe dizem! Isso pode salvar você do Lado Negro da Força. E torná-lo um cidadão melhor.


E aí? Vamos participar do debate? Role até o fim da página e deixe seu comentário. Essa troca é fundamental para a sociedade.


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Por que as pessoas dependem tanto do WhatsApp?

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Foto: montagem a partir de reproduções

Contrariando todas as expectativas, o item mais comentado nas redes sociais na semana passada não foi a estreia do novo Star Wars, e sim a decisão judicial que tirou o WhatsApp do ar em todo o Brasil. A impossibilidade de se comunicar pelo programa deixou muita gente nervosa. Mas por que esse comunicador ficou tão importante na vida das pessoas?

Para quem não sabe, a decisão da juíza Sandra Regina Nostre Marques, que obrigou as teles a bloquear conexões aos servidores do aplicativo por 48 horas, foi tomada depois que os responsáveis por ele terem repetidamente desrespeitado ordens judiciais. Acabou sendo revertida pelo desembargador Xavier de Souza, 12 horas depois.

O WhatsApp tem cerca de 100 milhões de usuários no Brasil. São pessoas que o usam para trabalhar, para conversar com familiares e amigos. Pela sua rede, passam coisa séria e papagaiada em um volume colossal. Portanto, subitamente impedir o uso desse recurso enfureceu os usuários.

Marques afirmou que a decisão está amparada pelo Código Civil e pelo Marco Civil da Internet, que regula o uso da rede no Brasil. Ironicamente, o mesmo Marco Civil da Internet é a base dos que afirmam que a juíza foi longe demais.

Afinal, apesar de ser um ato extremo para fazer a empresa fazer o que a Justiça determinou, prejudicou diretamente 100 milhões de pessoas que não têm nada a ver com isso. É como se a Justiça determinasse que o serviço telefônico em todo o país fosse suspenso até que as teles cumprissem alguma determinação.

Mas o pessoal não tem como falar de outra forma?

 

Efeito manada

Naturalmente sim. Afinal a humanidade chegou até aqui se comunicando, e o WhatsApp tem apenas seis anos. Sem mencionar que existem vários programas alternativos.

Entretanto os comunicadores instantâneos despertam coisas interessantes em nós. A primeira delas é que caminhamos sempre para onde as pessoas estão. O que faz todo sentido, considerando-se a finalidade do produto. Se o grupo migra para outro sistema, logo vamos atrás.

Tanto é assim que o WhatsApp detém essa liderança hoje, mas ela é bem recente. Quem se lembra do ICQ, messenger com uma primazia aparentemente inabalável no fim dos anos 1990? Tinha uma base de apenas poucos milhões de usuários, mas a própria Internet era muito menor. Acabou sendo superado, depois de alguns anos, pelo MSN Messenger, que passou a parecer inalcançável. A Microsoft tentou depois migrar seus usuários para o Skype, mas não teve sucesso. O espaço já estava sendo ocupado pelo Facebook Messenger e pelo próprio WhatsApp: era lá que as pessoas estavam.

 

Um novo jeito de conversar

Tais programas e seu uso em smartphones oferecem duas possibilidades que estão redefinindo a maneira como conversamos. A primeira delas é que, com eles, podemos falar com quem quisermos, a qualquer hora e em qualquer lugar. E mais: sem incomodar quem estiver ao lado. Para muita gente, é a solução para reuniões intermináveis e aulas chatas.

Outra característica é a possibilidade de falarmos com várias pessoas ao mesmo tempo, seja mantendo várias conversas simultaneamente, seja por enviar mensagens a grupos, aliás um dos recursos mais populares do WhatsApp.

Podem parecer tolices, mas a prática demonstra que isso realmente está alterando a forma como nos comunicamos e até mesmo regras de etiqueta. Não é raro ver, por exemplo, várias pessoas em uma mesa de bar teclando em seus celulares. E podem estar enviando conteúdos para quem está ao seu lado.

As pessoas se apropriaram dessa tecnologia e fizeram do WhatsApp algo central no seu cotidiano. O ato da juíza Marques foi, portanto, inadequado, ainda que justificado do ponto de vista legal. Se o Facebook, dono do WhatsApp, se recusa a cooperar com a Justiça, essa é outra questão delicada, que fica para ser discutida em outro artigo.

A proibição do aplicativo entra para a lista de trapalhadas de decisões que tentaram derrubar serviços online inteiros por conta de questões pontuais. Já passou da hora da Justiça entender o espaço que os recursos digitais ocupam na vida das pessoas.

 

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Por que os jornais não aprendem logo com Star Wars?

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Foto: reprodução

Amanhã estreia no Brasil “O Despertar da Força”, o filme mais aguardado do ano. O sétimo episódio de Star Wars deve movimentar multidões que lotarão as salas de cinema por semanas! Enquanto isso, a mídia impressa continua minguando, abraçada ao argumento de que as pessoas não mais pagam por conteúdo. Nada mais falso e descolado da realidade!

Qual é a diferença essencial entre a saga dos Skywalker e a mídia tradicional, do ponto de vista de negócios? A resposta é simples: a última esqueceu como produzir um produto pelo qual as pessoas estejam dispostas a pagar. Já a história criada por George Lucas continua encantando o mundo.

Não passa de chororô de mau perdedor, então, essa desculpa de que os jornais e as revistas estão morrendo, um após o outro, porque os leitores não querem mais pagar por um conteúdo “de alto valor agregado”. É exatamente o contrário disso! Nunca se pagou tanto por conteúdo! Só para ficar no exemplo do cinema, basta ir às salas IMAX, que estão entre as mais caras da cidade, e comprovar que suas sessões estão sempre cheias. E, pelo que sei, aquelas pessoas não entraram ali de graça.

O problema da mídia tradicional é que as pessoas não querem pagar pelo SEU conteúdo. E isso acontece porque, de alto valor agregado, ele tem muito pouco ou nada! Essa fantasia só existe na mente dos seus publishers.

É só comparar as primeiras páginas dos principais jornais: muito provavelmente elas terão as mesmas manchetes. Há grande chance de as demais chamadas serem também iguais, assim como as fotos. Pior que isso: quase todo o conteúdo provavelmente terá origem em denuncismo ou jornalismo palaciano. Furos e grandes reportagens tornaram-se raridades há anos.

Se analisarmos as revistas semanais, quaisquer que sejam os seus alinhamentos políticos, a situação é ainda pior: vivem um vale-tudo editorial para impor os seus pontos de vista. Claro que isso agrada àqueles que pensam na mesma linha, mas (felizmente) esse tipo de leitor, que não gosta muito de usar o cérebro, vem diminuindo. Aos trancos e barrancos, de uma maneira tortuosa, estamos vendo o surgimento de cidadãos e consumidores mais críticos.

Esse pessoal adora Star Wars. Mas não assina jornais.

 

Novos modelos

O fato é que as pessoas só gastam seu rico dinheirinho com algo em que vejam valor, produtos, serviços e até filantropia que faça sentido para elas. Essa é a razão de os cinemas continuarem cheios e os jornais ficarem cada vez mais finos.

É curioso que é muito fácil conseguir assistir a um filme hoje pagando muito pouco ou nada: discos piratas e torrents estão aí para quem quiser. Entretanto, ir ao cinema é mais que ver um filme, que passa a ser apenas mais um elemento de uma experiência que, como disse antes, o público vê sentido em pagar.

Isso não vem de hoje: a primeira grande vítima dessa mudança de comportamento do consumidor foi a indústria fonográfica, cujo principal negócio, a venda de discos, foi pulverizado. Começou com a troca de arquivos MP3, e se cristalizou com o iTunes, que -veja só- é pago e transformou a Apple de um fabricante de computadores em uma gigantesca empresa de mídia! É interessante observar que esse modelo também já está sendo substituído pelo streaming do Spotify. E a Apple, ao invés de ficar em um mimimi, criou o seu próprio serviço de música por streaming, o Apple Music.

Muitos podem argumentar que nada disso é jornalismo, que as pessoas não querem mais pagar pelo conteúdo de alto valor agregado, que custa caro para se produzir, e blá-blá-blá… Que preguiça desse pessoal!

Existem vários novos veículos jornalísticos surgindo e produzindo conteúdo de altíssima qualidade. No Brasil, sem pensar, eu citaria o Vice Brasil, o Catraca Livre, o Omelete, o Judão. E há ainda grandes veículos supertradicionais, que estão se reinventando e colhendo bons frutos, como The Washington Post, esse aliás impulsionado por Jeff Bezos, criador e dono da Amazon, que comprou o jornalão há dois anos e vem promovendo mudanças incríveis nos modelos de negócios e de produção.

No fim das contas, nenhum deles depende apenas da velha dobradinha publicidade-assinatura. Cada um deles encontrou várias fontes de receita que viabilizam seus negócios. Assim como não dá mais para ganhar dinheiro com música só vendendo discos.

A mídia tradicional deveria olhar com mais atenção para Star Wars.

Que a Força esteja com os publishers do futuro!

 

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