Por que as pessoas dependem tanto do WhatsApp?

By 22 de dezembro de 2015 Tecnologia No Comments

Foto: montagem a partir de reproduções

Contrariando todas as expectativas, o item mais comentado nas redes sociais na semana passada não foi a estreia do novo Star Wars, e sim a decisão judicial que tirou o WhatsApp do ar em todo o Brasil. A impossibilidade de se comunicar pelo programa deixou muita gente nervosa. Mas por que esse comunicador ficou tão importante na vida das pessoas?

Para quem não sabe, a decisão da juíza Sandra Regina Nostre Marques, que obrigou as teles a bloquear conexões aos servidores do aplicativo por 48 horas, foi tomada depois que os responsáveis por ele terem repetidamente desrespeitado ordens judiciais. Acabou sendo revertida pelo desembargador Xavier de Souza, 12 horas depois.

O WhatsApp tem cerca de 100 milhões de usuários no Brasil. São pessoas que o usam para trabalhar, para conversar com familiares e amigos. Pela sua rede, passam coisa séria e papagaiada em um volume colossal. Portanto, subitamente impedir o uso desse recurso enfureceu os usuários.

Marques afirmou que a decisão está amparada pelo Código Civil e pelo Marco Civil da Internet, que regula o uso da rede no Brasil. Ironicamente, o mesmo Marco Civil da Internet é a base dos que afirmam que a juíza foi longe demais.

Afinal, apesar de ser um ato extremo para fazer a empresa fazer o que a Justiça determinou, prejudicou diretamente 100 milhões de pessoas que não têm nada a ver com isso. É como se a Justiça determinasse que o serviço telefônico em todo o país fosse suspenso até que as teles cumprissem alguma determinação.

Mas o pessoal não tem como falar de outra forma?

 

Efeito manada

Naturalmente sim. Afinal a humanidade chegou até aqui se comunicando, e o WhatsApp tem apenas seis anos. Sem mencionar que existem vários programas alternativos.

Entretanto os comunicadores instantâneos despertam coisas interessantes em nós. A primeira delas é que caminhamos sempre para onde as pessoas estão. O que faz todo sentido, considerando-se a finalidade do produto. Se o grupo migra para outro sistema, logo vamos atrás.

Tanto é assim que o WhatsApp detém essa liderança hoje, mas ela é bem recente. Quem se lembra do ICQ, messenger com uma primazia aparentemente inabalável no fim dos anos 1990? Tinha uma base de apenas poucos milhões de usuários, mas a própria Internet era muito menor. Acabou sendo superado, depois de alguns anos, pelo MSN Messenger, que passou a parecer inalcançável. A Microsoft tentou depois migrar seus usuários para o Skype, mas não teve sucesso. O espaço já estava sendo ocupado pelo Facebook Messenger e pelo próprio WhatsApp: era lá que as pessoas estavam.

 

Um novo jeito de conversar

Tais programas e seu uso em smartphones oferecem duas possibilidades que estão redefinindo a maneira como conversamos. A primeira delas é que, com eles, podemos falar com quem quisermos, a qualquer hora e em qualquer lugar. E mais: sem incomodar quem estiver ao lado. Para muita gente, é a solução para reuniões intermináveis e aulas chatas.

Outra característica é a possibilidade de falarmos com várias pessoas ao mesmo tempo, seja mantendo várias conversas simultaneamente, seja por enviar mensagens a grupos, aliás um dos recursos mais populares do WhatsApp.

Podem parecer tolices, mas a prática demonstra que isso realmente está alterando a forma como nos comunicamos e até mesmo regras de etiqueta. Não é raro ver, por exemplo, várias pessoas em uma mesa de bar teclando em seus celulares. E podem estar enviando conteúdos para quem está ao seu lado.

As pessoas se apropriaram dessa tecnologia e fizeram do WhatsApp algo central no seu cotidiano. O ato da juíza Marques foi, portanto, inadequado, ainda que justificado do ponto de vista legal. Se o Facebook, dono do WhatsApp, se recusa a cooperar com a Justiça, essa é outra questão delicada, que fica para ser discutida em outro artigo.

A proibição do aplicativo entra para a lista de trapalhadas de decisões que tentaram derrubar serviços online inteiros por conta de questões pontuais. Já passou da hora da Justiça entender o espaço que os recursos digitais ocupam na vida das pessoas.

 

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