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O botão milagroso

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Clique no botão, assine a revista e salve-a de um destino pior que a morte

Clique no botão, assine a revista e salve-a de um destino pior que a morte

As muitas revistas de uma grande editora onde já trabalhei vêm sofrendo há bastante tempo o mesmo que se observa por aí no mercado: redução nas tiragens, queda na receita publicitária e com assinaturas e diminuição das vendas em bancas. Desde que surgiu, a Internet é apontada internamente como grande vilã desse cenário, o que aliás impede que a empresa invista com seriedade nessa “nova mídia”, temendo que seus próprios sites “canibalizem” (esse é o termo usado) as revistas, roubando-lhes leitores.

Nesse cenário de muita preocupação dos executivos da casa, vira e mexe eles surgem com uma ideia brilhante. Nos últimos dias, foi decretado que os sites de cada publicação deveriam dar destaque ao “botão assine”, aquele que convida o internauta a assinar a revista em papel. E aí vale tudo: jogar o botão para o alto, pintar o bichinho de vermelho e fazê-lo piscar, transformá-lo em uma animação espalhafatosa. Se poluir ainda mais o já complicado layout, azar.

É a típica visão distorcida dos fatos. Não que os sites não devam “ajudar” suas irmãs em couché, mas o buraco é mais embaixo. Conversando com uma gerente de assinaturas da mesma editora, ela confidenciou que, apesar dessa histeria das Redações diante da “ameaça digital”, que já dura anos, até hoje a Web não provocou diferenças significativas nas vendas de assinaturas e em bancas. Sim, é isso mesmo que você leu! Quem está maculando esses números, segundo ela, são o aumento do preço de capa e a redução dos descontos nas assinaturas.

Na verdade, ela tem uma visão parcial da coisa. Esses ex-consumidores de revistas continuam consumindo informação, mas em outro lugar. E esse lugar é justamente a Web. Eles deixam de investir em papel para consumir o mesmo material jornalístico (ou ainda melhor) em outra mídia, que oferece isso de maneira mais cômoda e mais barata, até de graça.

Daí vem o povo com a história do botão milagroso… Como dizia um velho amigo, “o pior cego é o que não quer ouvir”. Quantos títulos deverão ser fechados antes de pararem de enxergar seus sites como meros complementos das revistas e canais de venda de polpa de madeira impressa?

Os jornais vão acabar?

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Rich Boehne, CEO da E.W. Scripps Co., controladora do Rocky Mountain News, anuncia o fechamento do jornal à equipe

Rich Boehne, CEO da E.W. Scripps Co. (ao centro), controladora do Rocky Mountain News, anuncia o encerramento do jornal à equipe

Quando eu entrei no mundo de mídias digitais, eu já ouvia essa pergunta. Naqueles idos de julho de 1995, a Web não passava de um punhado de páginas feiosas e estáticas, mas a Internet já era temida como uma potencial ameaça aos jornais e às revistas. Afinal, ela era rápida e “grátis”. Ou pelo menos, já naquela época, era muito mais barato publicar algo online que no mais vagabundo dos papéis.

Curiosamente, nos anos 1990, os jornais tentavam mimetizar a televisão com projetos gráficos mais diretos e coloridos. O maior expoente desse movimento foi o USA Today, que se transformou em um ícone (sem trocadilhos, ok?), seguido por uma legião de jornais de todo o mundo, inclusive no Brasil.

Passados quase 13 anos, a Web, muito mais espetacular e indefectivelmente presente na vida do cidadão comum (e não apenas como fonte de notícias), não matou os jornais. Ainda. Mas algo parece estar mudando. Enquanto os números das mídias digitais apontam para cima (depois de uma década de prejuízos retumbantes), a mídia impressa amarga um share publicitário cada vez menor, tiragens reduzidas e êxodo de leitores. A maioria deles vai para a Web. Pesquisa do Pew Research Center indica que o consumo de notícias cai em todas as faixas etárias, exceto entre os 25 a 35 anos. Considerando que esse grupo é a base da sociedade de consumo, é uma boa notícia para os veículos de comunicação. Mas não os impressos: essa turma não põe a mão no jornal ou na revista, apenas Web e algo de TV.

Ruim, né? Na verdade, é pior, especialmente no mercado norte-americano, mais severamente afetado pela atual crise econômica. Receitas cada vez menores andam de mãos dadas com dívidas contraídas há alguns anos, que estão se tornando impagáveis com as vacas magras. Os veículos, alguns deles centenários, estão à beira da falência -ou já estão nela. Muitos cogitam seriamente a possibilidade de passar a existir apenas na Web, com Redações mais enxutas e sem os enormes custos gráficos. Entre eles, estão o Seattle Post-Intelligencer e o Tucson Citizen.

No dia 27 de fevereiro, veio uma baixa significativa: o Rocky Mountain News, de Denver, publicou a sua última edição, a míseros 55 dias de completar 150 anos de jornalismo. Não há lugar para dois jornais na cidade (sobrou o The Denver Post). Não deu “tempo” de abraçar uma versão online apenas.

É uma enorme tristeza. Como escreveu em seu blog o colunista Mike Littwin, “jornais não fecham simplesmente: eles morrem.”

Será que a ameaça de 1995 começa a se concretizar afinal?