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Cena de “Black Mirror”, em que se vê o implante ocular digital que aparece em vários episódios, com usos diversos - Foto: Reprodução

IA traz as coisas mais legais e mais sinistras de “Black Mirror” para o nosso cotidiano

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Você gostaria de ter a sua disposição algumas das tecnologias de “Black Mirror”, que praticamente dão “superpoderes” a seus usuários, mesmo que isso possa lhes trazer algum risco? Se a reposta for positiva, prepare-se, pois a inteligência artificial pode fazer algo parecido àquilo se tornar realidade em breve, com tudo de bom e de ruim que oferece.

A série britânica, disponível na Netflix, ficou famosa por mostrar uma realidade alternativa ou um futuro próximo com dispositivos tecnológicos incríveis, capazes de alterar profundamente a vida das pessoas. Mas, via de regra, algo dá errado na história, não pela tecnologia em si, mas pela desvirtuação de seu uso por alguns indivíduos.

Os roteiros promovem reflexões importantes sobre as pessoas estarem preparadas para lidar com tanto poder. Com as novidades tecnológicas já lançadas ou prometidas para os próximos meses, os mesmos dilemas éticos começam a invadir nosso cotidiano, especialmente se (ou quando) as coisas saírem dos trilhos. Diante de problemas inusitados (para dizer o mínimo), quem deve ser responsabilizado: os clientes, por usos inadequados dos produtos, ou seus fabricantes, que não criaram mecanismos de segurança para conter isso?


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Provavelmente o dispositivo mais icônico de “Black Mirror”, que aparece em vários episódios, com diferentes aplicações, é uma espécie de implante ocular capaz de captar tudo que a pessoa vê em sua vida, que fica armazenado em um chip implantado atrás da orelha. Essa memória eterna e detalhada pode ser recuperada a qualquer momento, sendo projetada diretamente no próprio olho ou em uma tela.

Não é difícil imaginar como isso pode ser problemático, especialmente quando outras pessoas têm acesso a memórias alheias. Algumas coisas deveriam ser simplesmente esquecidas ou jamais compartilhadas!

A privacidade se torna um bem cada vez mais valioso em um mundo em que nossas informações pessoais viram dinheiro na mão de empresas que as transformam em dados comercializáveis. Um bom exemplo são equipamentos que vestimos (os chamados “wearables”) que captam informações sobre nossa saúde, muitas delas compartilhadas com os fabricantes. Mas para que esse envio é necessário?

Os relógios inteligentes (os “smart watches”) são o exemplo mais popular desses equipamentos. Mas uma nova geração de dispositivos melhorados pela inteligência artificial aprendem como nosso corpo funciona e nos oferecem informações personalizadas para uma vida melhor.

É o caso do Whoop 4.0, uma pulseira com diversos sensores biométricos, como batimentos cardíacos, oxigênio no sangue, temperatura e taxa de respiração, que afirma ajudar em atividades físicas e até em como dormimos. Já o Oura Smart Ring oferece algo semelhante, porém “escondido” em um simples anel.

Alguns são mais radicais, como a pulseira Pavlok 3. Ela promete ajudar a desenvolver hábitos mais saudáveis, como dormir melhor e até parar de fumar. Quando o dispositivo detecta algo ruim (como fumar), ele emite uma vibração e, se necessário, dá um choque elétrico na pessoa, para associar desconforto ao mau hábito.

Mas dois outros dispositivos lembram mais “Black Mirror”: o Rewind Pendant e o Humane AI Pin. Ainda não são os implantes oculares da série, mas prometem gravar o que acontece a nossa volta e muito mais. Eles pretendem inaugurar a era da “computação invisível”, em que não mais dependeremos de telas, nem mesmo as de celulares ou de óculos de realidades virtual ou aumentada.

O Rewind Pendant é um pequeno pingente que grava tudo que o usuário fala ou ouve. A partir daí, é possível dar comandos simples como “resuma a reunião de ontem” ou “o que meu filho me pediu hoje de manhã”. Como o sistema identifica a voz de quem está falando, o fabricante afirma que só grava alguém se essa pessoa explicitamente autorizar isso por voz.

Já o Humane AI Pin é um discreto broche que funciona como um assistente virtual que conhece nossos hábitos, grava e até projeta imagens em nossa mão. Comunica-se com o usuário por voz e sua inteligência artificial pode até desaconselhar que se coma algo, porque aquilo contém algum ingrediente a que a pessoa seja intolerante.

 

“Babaca digital”

Impossível não se lembrar do Google Glass, óculos inteligentes que a empresa lançou em 2013. Ele rodava diferentes aplicativos e as informações eram projetadas em sua lente, que se tornava uma tela para o usuário.

Apesar de cobiçado, acabou retirado do mercado por questões de privacidade. Ele tirava fotos e filmava sem que os outros soubessem. Além disso, fazia reconhecimento facial de interlocutores, que poderia ser usado para coletar informações adicionais. As pessoas que faziam maus usos do produto passaram a ser chamadas de “glassholes”, um trocadilho que junta “Glass” a “asshole” (algo como “babaca” em inglês).

Isso nos remete novamente a “Black Mirror”. Nenhum desses produtos foi criado para maus usos, mas as pessoas podem fazer o que bem entenderem com eles. E depois que são lançados, fica difícil “colocar o gênio de volta na lâmpada”.

Estamos apenas arranhando as possibilidades oferecidas pela inteligência artificial, que ainda revolucionará vidas e negócios. Tanto poder exigiria grandes responsabilidades, mas não podemos esperar isso das pessoas, e os fabricantes tampouco parecem muito preocupados.

Como exemplo, na semana passada, vimos o caso de alunos do 7º ao 9º ano do Colégio Santo Agostinho, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, usando a inteligência artificial para criar imagens de suas colegas sem roupa. Desenvolvedores desses sistemas proíbem que sejam usados para esse fim, mas é inocência achar que isso será atendido. Tanto que já foram criadas plataformas especificamente para isso.

Quem deve ser responsabilizado por esses “deep nudes”: os alunos, os pais, a escola, o fabricante? Não se pode mais acreditar em qualquer imagem, pois ela pode ter sido sintetizada! Isso potencializa outros problemas, como os golpes de “sextorsão”, em que pessoas são chantageadas para que suas fotos íntimas não sejam divulgadas. Com a “computação invisível”, isso pode se agravar ainda mais!

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925 – 2017) era mesmo o filósofo de nosso tempo, com obras como “Modernidade Líquida” (1999), “Amor Líquido” (2004) e “Vida Líquida” (2005). Não viveu para experimentar a IA ou esses dispositivos, mas seu pensamento antecipou como tudo se tornaria descartável e efêmero na vida, nos relacionamentos, na segurança pessoal e coletiva, no consumo e no próprio sentido da existência.

A inteligência artificial está aí e ela é incrível: não dá para deixar de usá-la! Mas precisamos encontrar mecanismos para não cairmos nas armadilhas que nós mesmos criaremos com seu uso indevido.

 

Quer ficar saudável? Pendure seu corpo na Internet!

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O inabalável doutor McCoy (à esquerda) e suas parafernália tecnológicas de diagnóstico na série original de Star Trek - Imagem: reprodução

O inabalável doutor McCoy (à esquerda) e suas parafernália tecnológicas de diagnóstico na série original de Star Trek

De todas as incríveis tecnologias imaginadas por Star Trek, algumas das que mais me fascinavam eram as ligadas à medicina. Com uma geringonça qualquer, o inabalável doutor McCoy era capaz dos diagnósticos mais precisos e das curas mais efetivas. Mas a nossa realidade pode estar, de alguma forma, superando a ficção. Hoje o médico pode acompanhar nossa saúde a qualquer hora, mesmo que estejamos do outro lado do mundo! E mais: essa conexão do nosso corpo à Internet pode até mesmo antecipar doenças e permitir que tomemos menos remédios, sem qualquer prejuízo.

Longe de ser ficção, isso já acontece graças a combinação de três tecnologias distintas: a rede de comunicação móvel quase onipresente, “wearables” (dispositivos vestíveis, como relógios smart) cada vez mais inovadores e poderosos softwares capazes de analisar gigantescas quantidades de dados a uma incrível velocidade.


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O que me chamou a atenção para esse assunto foi uma solução que conheci há alguns dias. Desenvolvida na Alemanha por uma parceria da SAP com a Roche, o produto monitora continuamente informações médicas, como o nível de glicose, de pessoas diabéticas ou com risco de desenvolver a doença. Esses indicadores são coletados por um “wearable” e transmitidos ao sistema central pelo smartphone do paciente. Do outro lado, o software da SAP analisa continuamente toda a informação de ponto de vista estatístico e individual.

De um lado, isso oferece às equipes médicas análises qualitativas sobre a doença e sobre as populações atendidas, permitindo a criação de programas de saúde mais assertivos. Mas talvez o ganho mais incrível seja o sistema identificar alterações nos indicadores médicos de cada indivíduo para que seus médicos sejam avisados a tempo de agir contra um eventual problema, tomando as devidas ações. Com isso, o controle da doença fica muito mais eficiente entre os diabéticos e pode até mesmo evitar seu surgimento em quem ainda não a desenvolveu.

A capacidade de realizar um atendimento médico totalmente individualizado é o sonho de qualquer médico. Afinal, cada pessoa é um organismo único, com características e reações próprias. Mas até então era impossível fazer esse tipo de acompanhamento, seja pela dificuldade das coletas contínuas, seja pela incapacidade de processar tudo isso de uma maneira efetiva.

A medicina está ficando cada vez menos reativa e mais preventiva.

 

Um tratamento para chamar de meu

Essa combinação de monitoramento contínuo de indicadores médicos dos indivíduos, análise genética de pacientes e de populações inteiras, e extração de informações do “big data” está sendo chamado de “medicina personalizada” ou “medicina de precisão”. Os seus objetivos são pessoas mais saudáveis, e tratamentos mais eficientes e, ao mesmo tempo, baratos.

Um excelente exemplo é a dosagem de remédios. Cada indivíduo reage diferentemente a cada droga que lhe é ministrada. Entretanto, os médicos tradicionalmente não têm essas informações. Não lhes resta, portanto, outra alternativa a não ser prescrever, para uma dada doença, os mesmos remédios e as mesmas dosagens para todos seus pacientes.

Com a medicina personalizada, o profissional saberá como o organismo de cada paciente reage a cada remédio e a possíveis combinações deles. Dessa forma, poderá prescrever, com segurança, apenas os que sejam eficientes para aquele indivíduo e nas dosagens mínimas, reduzindo efeitos colaterais sem prejudicar a eficiência do tratamento. No caso de não haver um histórico daquela pessoa, o sistema pode fazer sugestões cruzando uma grande quantidade de informações de outros pacientes para encontrar padrões confiáveis para uma administração adequada.

Na mesma linha, é possível ainda traçar como populações inteiras reagem a cada tratamento, para a criação de políticas de saúde e remédios mais eficientes. Para se ter uma ideia do tamanho disso tudo, um estudo do Memorial Sloan Kettering Cancer Center calculou que US$ 3 bilhões em remédios contra câncer são literalmente jogados fora todos os anos apenas nos EUA! Tudo porque, como os fabricantes não produzem dosagens para as necessidades de cada paciente, criam ampolas para o “pior caso”. Para todos os demais, o que sobra da medicação vai direto para o lixo.

Em outra iniciativa da SAP, dessa vez com o Hospital Bundang da Universidade Nacional de Seul (Coreia do Sul), seu software foi usado justamente para coletar e analisar 320 indicadores médicos seguindo a cartilha da medicina personalizada. Como resultado, o uso de antibióticos foi reduzido dramaticamente. No pré-operatório, despencaram as dosagens e o tempo de uso (de seis para um dia). Dessa forma, o tempo de internação acabou sendo reduzido, pois caíram também os riscos associados à resistência aos antibióticos.

Mas quem tem acesso a toda essa informação?

 

Privacidade e segurança

A primeira empresa que botou a boca no trombone pela capacidade de seus produtos coletarem dados da saúde de seus usuários e transmiti-los a médicos foi a Apple, com o Apple Watch e o iPhone. Mas logo surgiu uma pergunta bastante pertinente: quem tem acesso a toda essa informação médica coletada dos usuários? Afinal, se isso tem um inestimável valor para as equipes médicas, também pode virar ouro na mão de empresas, inclusive em aspectos para lá de questionáveis.

Imagine, por exemplo, que você vai contatar um plano de saúde para sua família. Se tiver acesso a informações detalhadas do perfil médico de cada integrante (e isso inclui a chance de desenvolver doenças crônicas em curto prazo), a empresa pode majorar seus preços ou simplesmente negar o cliente.

Isso é uma questão muito séria, que pode colocar em xeque a credibilidade de iniciativas muito bem-vindas. Por isso, perguntei a Margareth Amorim, engenheira responsável pelas soluções de saúde da SAP no Brasil, sobre o acesso aos dados dos pacientes. E ela foi categórica: “o acesso às informações é limitado ao médico do paciente, ao próprio paciente e ao administrador do programa de monitoração de crônicos.”

Não podemos pensar mesmo em nada diferente disso.

 

O que vem por aí

Várias outras empresas estão de olho no mercado da tecnologia digital combinada à saúde. Os “wearables” estão entre as principais estrelas. E não podia ser diferente: parece que uma coisa nasceu para se ligar à outra.

Na CES (Consumer Electronics Show) desse ano, que aconteceu em janeiro em Las Vegas (EUA), várias empresas apresentaram “wearables” para saúde. Uma dela foi a Reliefband Technologies, que apresentou o Neurowave, uma pulseira que combates náuseas aplicando pulsações controladas a um nervo na parte inferior de seu pulso.

Grávidas também ganharam uma novidade: o Bloomlife, o adesivo que deve ser colocado sobre a barriga e monitora as contrações, para ver se está tudo certo com a gestação e quando é a hora de ir para o hospital. Já o QardioCore mede continuamente indicadores cardíacos, ritmo de respiração e atividades físicas, enviando tudo isso para o médico. Até a medida de glicose, fundamental para diabéticos e que já foi citada no início desse texto, ganhou um novo “wearable”, o K’Watch Glucose. Ainda em testes, ele promete monitorar o nível de glicose de maneira totalmente indolor, uma vez que só coleta fluido intersticial e não sangue: adeus às incontáveis picadas no dedo.

Como em muitos outros casos, a tecnologia atual já superou as obras de ficção. Resta agora popularizar essas soluções, garantido o acesso de toda a população a esses benefícios. O doutor McCoy ficaria morrendo de inveja.


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Você não sai mais da Internet… ou é a Internet que não sai de você?

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Cena de “Matrix”: ao contrário do filme, a “vida online” é a nossa própria “vida real”, e isso pode ser bom! – Imagem: divulgação

Cena de “Matrix”: ao contrário do filme, a “vida online” é a nossa própria “vida real”, e isso pode ser bom!

Talvez você já tenha passado por isso: está animadamente conversando com alguém, quando, de repente, seu celular “acorda” sozinho. Na tela, o Google está esperando o seu comando de voz para pesquisar algo. Longe de ser um “bug” –afinal, você não invocou o dito cujo– isso reflete uma nova maneira de nos relacionarmos com o meio digital: mais que estarmos o tempo todo online por opção, está muito difícil nos desconectarmos, mesmo se quisermos. E isso é uma mudança maiúscula na vida de todos nós!

Eu me lembro que, lá nos primórdios da Internet comercial, em meados dos anos 1990, eu tinha um fetiche de estar online o tempo todo, pois eu achava que isso me daria uma sensação de onipresença e até de onisciência. Mas isso era impossível naquela época, pois não havia tecnologia de comunicação para tanto.


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Mas, de alguns anos para cá, isso é perfeitamente viável! Os principais responsáveis são nossos celulares, que carregamos o tempo todo e se tornaram computadores poderosíssimos, recheados de sensores e permanentemente pendurados na Internet.

Portanto, agora se vive um dilema contrário àquele meu desejo antigo: ficou muito difícil ficar off line, mesmo de vez em quando. Pois, além de estarmos conectados o tempo todo, estamos permanentemente produzindo –na maioria das vezes de forma involuntária e inconsciente– todo tipo de informação sobre nós mesmos. E esses dados vão direto para um número crescente de empresas, governos e instituições.

Em troca disso, recebemos uma infinidade de serviços que deixam nossas vidas mais fáceis, produtivas e divertidas. O problema é que, na prática, não temos nenhum controle do que farão com essas nossas pegadas digitais. E nem falei de cybercriminosos, que também podem estar nos monitorando.

Ficou preocupado? É melhor ir se acostumando, pois a tendência é que isso se acentue ainda mais.

Mas então não bastaria desligar o computador e deixar o celular em casa para ficarmos off line?

 

“Vigiados” o tempo todo

É verdade que os computadores foram a nossa primeira porta para a Internet, e os celulares nos mantêm conectados o tempo todo. Mas hoje eles estão longe de ser os únicos pontos de contato com o mundo digital. Cada vez mais, temos equipamentos a nossa volta permanentemente online e nos “monitorando”, prontos para nos fornecer todo tipo de serviço –e para coletar nossas informações.

Quer testar? Se você tiver um celular Android, experimente falar, do outro lado da sala, “Ok, Google”. Se seu celular for um iPhone, diga “E aí, Siri“. Esses comandos disparam os assistentes pessoais dos aparelhos, que ficam prontos para ouvir seus comandos por voz, quaisquer que sejam. E eles tentarão nos atender da melhor maneira possível.

Para que isso aconteça, o telefone está literalmente nos ouvindo o tempo todo. Mas o que mais ele está captando além de nossos comandos? Não estou sugerindo que Google ou Apple estejam violando a privacidade de seus clientes. Mas e quanto àqueles incontáveis aplicativos de terceiros que você instalou no celular: dá para confiar totalmente neles?

Outro aparelho presente em praticamente todos os lares vem ganhando espaço nessa arapongagem doméstica: a televisão. As smart TVs são verdadeiros computadores o tempo todo online. Muitas delas vêm equipadas com câmeras e podem ser controladas por voz. Dá até para ligar a TV falando com ela! Ou seja, assim como os smartphones, muitas das TVs também estão permanentemente nos escutando.

Portanto seria razoável perguntar o que impede que um hacker invada a sua TV e passe a ver e ouvir o que acontece na sua casa. Por isso, alguns fabricantes de TV sugerem que não façamos em frente à TV algo que possamos nos arrepender depois.

Entenda isso como quiser.

 

Incansáveis assistentes

O mais curioso dessa história toda é que as pessoas não veem nenhum problema nisso. Na verdade, os incríveis serviços que recebemos aparentemente fazem tudo valer a pena.

Tanto é assim que, nos EUA, a Amazon está puxando a fila de uma nova categoria de produtos: os assistentes digitais domésticos. Tratam-se de pequenos equipamentos de mesa que combinam microfone e alto falante conectados à Internet. Funcionam da mesma forma que os assistentes dos celulares, sempre prontos para ouvir nossos comandos e nos dar respostas imediatas instantaneamente.

Amazon Echo e Google Home

O produto da Amazon é o Echo, um pequeno cilindro negro de 23,5 cm de altura. O Google também já lançou o seu, o Home, ainda mais discreto: apenas 14 cm. Nenhum dos dois ainda é vendido no Brasil, mas funcionam se trazidos para cá.

Já há muitos outros aparelhos que se conectam à Internet para expandir seus recursos, como geladeiras e até carros! A tendência é que todos passem a ter funções controladas por voz, e coletem algum tipo de informação sobre os usuários. Possivelmente chegará a hora em que a nossa mobília estará online para nos brindar com algum recurso adicional!

Há ainda os “dispositivos vestíveis”, os “wearables”, normalmente lembrados pelos relógios smart e óculos de realidade aumentada. Mas eles vão muito além disso, como uma nova pulseira que mede, sem necessidade de coleta de sangue, o nível de glicose de diabéticos, ou um tênis que ajuda atletas a corrigir suas passadas. Tudo integrado com aplicativos no celular e, portanto, com dados prontos para serem compartilhados.

Isso é o que os analistas chamam de “terceira onda digital”, ou “era pós-digital”: um mundo em que a tecnologia está tão presente e tão integrada ao nosso cotidiano, que nos beneficiamos dela o tempo todo, sem mesmo nos darmos conta da sua existência.

Então não tem volta?

 

Simbiose digital

Quando penso que alimentamos uma enorme quantidade de sistemas de diferentes empresas com nossas informações, garantindo-lhes gordos lucros e troca de serviços, eu me lembro do filme Matrix (1999), das irmãs Wachowski. Mas felizmente a nossa realidade é muito menos terrível: nada de uma máquina que escraviza a humanidade, reduzindo-a a meros fornecedores de energia, em troca de uma ilusória “vida normal”.

Mas essa nossa vida online cada vez mais ubíqua se tornou, de fato, a nossa vida. Não existe mais separação da “vida presencial”. Na verdade, entendo que nunca houve isso, pois as duas são apenas diferentes representações de nossa única vida real.

A diferença é que agora estamos integrados, imersos, vinculados com o ciberespaço. Toda essa integração funciona como extensões do nosso próprio ser, dando-nos “poderes” que efetivamente expandem nossos limites.

Portanto, esse é um caminho que não tem volta. Conceitos de privacidade precisam ser revistos, diante da nossa tolerância o compartilhamento de nossa vida. Assim, não há solução para esse “problema”, pelo simples fato de que não há problema afinal. Então, se você é daqueles que tenta resistir a tudo isso, receio que sua tarefa ficará cada vez mais difícil.

Precisamos apenas ser conscientes dessa nossa realidade, para não passarmos por trouxas. Tudo isso pode mesmo ser muito legal e útil! Mas, da próxima vez que assistir à TV, lembre-se que talvez ela também esteja assistindo a você.

E daí curta a programação numa boa!


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