Monthly Archives: dezembro 2019

Jesus Cristo (Gregório Duvivier) e seu amigo gay (Fábio Porchat), na sátira “A Primeira Tentação de Cristo”, do Porta dos Fundos - Foto: reprodução

Marchamos firmemente para o inferno

By | Jornalismo | No Comments

Nunca pensei que escreveria um artigo como esse apenas um dia após o Natal, mas acontecimentos recentes exigem um posicionamento rápido e enérgico.

Em pleno dia de Natal, começou a circular no WhatsApp e no YouTube um vídeo do autointitulado “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira”, em que se vê integrantes do grupo atirando três bombas incendiárias caseiras contra a sede da produtora do humorístico Porta dos Fundos, no bairro de Humaitá, no Rio de Janeiro. Segundo a polícia, que o comparou com imagens de câmeras de segurança, ele é autêntico.

O atentado terrorista aconteceu na madrugada do dia 24. Felizmente não houve vítimas, e o incêndio foi controlado por um segurança do local.



Os criminosos afirmam em seu vídeo que o ataque é uma represália ao filme “A Primeira Tentação de Cristo”, produzido pelo Porta dos Fundos e disponível na Netflix desde o dia 3 de dezembro. Na sátira de 46 minutos, Jesus Cristo, interpretado por Gregório Duvivier, volta do jejum de 40 dias no deserto com um amigo, vivido por Fábio Porchat, com quem viveria um romance gay.

A 10ª DP (Botafogo) investiga o caso como crime de explosão, que pode ainda ser enquadrado na Lei Antiterror, por usar explosivo “por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião” com o objetivo de “provocar terror social”.

A Frente Integralista Brasileira divulgou nota em seu site negando qualquer vínculo com os criminosos, e afirmando que integralistas não usam máscaras em suas ações.

Surge então a pergunta: quem são essas pessoas e por que fazem isso?

Tempos de intolerância

Quando li a primeira notícia sobre o atentado terrorista pensei imediatamente: “je suis Charlie”. A frase surgiu em 2015, após o atentado ocorrido no dia 7 de janeiro daquele ano contra a sede da revista semanal satírica francesa Charlie Hebdo: fundamentalistas islâmicos atiraram com fuzis contra a equipe e policiais, matando 12 pessoas e ferindo gravemente outras cinco.

O crime foi uma nova retaliação contra a edição de 2 de novembro de 2011, que apresentava, na capa, uma charge do profeta Maomé como redator-chefe, dizendo “100 chicotadas se você não morrer de rir”. Antes desse fatídico ataque, a revista havia sido atacada com uma bomba incendiária, no mesmo mês da edição acima.

Estamos caminhando para isso aqui no Brasil? Possivelmente!

Surgido ainda na Antiguidade, o humor, por vezes, atua no limite dos costumes e pode flertar perigosamente com temas delicados. Nem por isso deve ser censurado e muito menos humoristas devem ser atacados.

Tenho amigos que se sentiram ofendidos e tenho amigos que riram muito com o filme do Porta dos Fundos. Mas obviamente os primeiros nunca cogitaram um ataque à empresa ou aos humoristas, pois são pessoas decentes e inteligentes, e sabem que um ataque como esse contrariaria a própria fé. Até onde sei, nenhum deles sequer utilizou um instrumento socialmente legítimo para isso, que é recorrer à Justiça. Entenderam que fazer campanha contra o filme em seus círculos pessoais seria o suficiente.

Houve, sim, um abaixo-assinado online pedindo a retirada da produção da Netflix. E, no dia 19, a Justiça do Rio negou liminar a um pedido semelhante. A decisão foi tomada por não haver motivos legais para isso e que isso configuraria “inequivocamente censura decretada pelo Poder Judiciário”.

Esse é o caminho que deve ser seguido por uma sociedade organizada e evoluída.

Vale lembrar que algumas das ditaduras mais sanguinárias da história começaram conquistando apoio popular ao defender uma suposta “moral e bons costumes”. Algumas dessas ditaduras foram eleitas democraticamente, outras chegaram ao poder com golpes de Estado. Impossível não pensar na ascensão do nazismo de Hitler, ou do socialismo soviético consolidado com Stalin, que se apoiaram no povo para fazer valer seu ponto de vista. E quem pensasse de maneira diferente era preso ou, de preferência, morto.

A Justiça deve combater exemplarmente esse tipo de crime, especialmente em um momento em que diferentes governos conservadores incentivam ações extremistas contra tudo e todos que se posicionem contra seus interesses. Eles ganham força pela manipulação de grandes massas populares, que inocentemente acreditam estar defendendo valores nobres.

A imprensa vem sendo atacada sistematicamente, em especial quando faz bem seu trabalho essencial de fiscalizar o governo. Cientistas são desacreditados por demonstrar, de maneira irrefutável, temas que contrariam os interesses de poderosos. Professores são perseguidos e agredidos por grupos conservadores por questões ideológicas. E até as artes são atacadas por aqueles que se acham no direito de julgar e punir sob a sua própria visão distorcida do mundo.

É exatamente o mesmo mecanismo criado pelos nazistas. Por isso, tenho medo de que, muito em breve, assistamos a pessoas literalmente queimando “livros subversivos” ou “arte degenerada” em praça pública.

Quando isso acontecer, aí sim teremos chegado ao inferno.


E aí? Vamos participar do debate? Role até o fim da página e deixe seu comentário. Essa troca é fundamental para a sociedade.


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O que Star Wars pode nos ensinar a essa altura do campeonato

By | Educação | No Comments

Na quinta passada, o Episódio IX de Star Wars, “A Ascensão Skywalker”, estreou nos cinemas. A saga espacial, criada por George Lucas há 42 anos, chega ao fim com o status de mitologia moderna e incontáveis fãs em três gerações. E, como toda mitologia, suas histórias trazem ensinamentos que servem ao cotidiano de qualquer um, mas que particularmente se aplicam ao momento em que vivemos no Brasil.

Muitos acreditavam que esse seria o ano da virada na economia. Não aconteceu. Apesar de termos saído da recessão, os investimentos continuam baixos e o desemprego nas alturas!

Também foi um ano de desilusão e muito ódio nas relações, dois sentimentos destrutivos, que precisamos combater.

É aí que entra Star Wars, com mensagens de esperança e de união. Assista ao meu vídeo abaixo e veja como Lucas construiu uma narrativa que nos serve muito bem. E depois comente como podemos construir um 2020 mais positivo!



Essa também é minha mensagem de fim de ano a vocês. Na semana que vem, excepcionalmente não publicarei meu vídeo às segundas de manhã, voltando no dia 6. Mas, até, lá, nossa conversa continua nas redes!

Vamos construir um 2020 melhor para todos!


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Cobras têm pernas, e isso interessa muito a você!

By | Educação | No Comments

Por mais absurdo que seja, eu não me surpreenderia se, de repente, começasse a ver nas redes sociais um grupo crescente de pessoas que defendesse que cobras têm pequenas pernas. Bastaria que isso fosse apoiado por algum estudo obscuro e publicado em algum site mais obscuro ainda.

Mas o ingrediente secreto para o sucesso de uma aberração com essa seria as pernas ofídicas atenderem algum interesse econômico, político ou ideológico.

Isso não é loucura! Como repórter de ciência, certa vez me deparei com um estudo “sério” que sugeria que cerveja emagrecia. Ele havia sido financiado por uma fabricante da bebida.

Claro que não publiquei aquilo! Talvez fosse verdade, mas antes precisaria ser chancelado pela comunidade científica, que diz o contrário.

Na quarta passada, um post que fiz sobre a ambientalista sueca Greta Thunberg ter sido escolhida como pessoa do ano da revista Time tornou-se uma guerra ideológica nos comentários. Um dos argumentos mais usados foi o de que o aquecimento global não existe, apoiando-se em muita fantasia e alguns estudos questionados pela comunidade científica.

Por que as pessoas acreditam e defendem ferozmente barbaridades como essa? Veja no meu vídeo abaixo o motivo e como evitar que isso coloque em risco a própria sociedade.



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Crise no trabalho começo com nosso vexame na educação

By | Educação | No Comments

Na terça passada, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou os resultados do Pisa, avaliação internacional sobre educação. O Brasil manteve seu histórico vexatório: ficamos entre os 20% piores países do mundo.

Não sei o que é pior: nosso já tradicional desempenho pífio ou a completa falta de perspectiva de melhora, diante da ausência de uma liderança minimamente qualificada no governo para o tema. A situação fica ainda mais dramática porque o Brasil forma cidadãos e profissionais deficientes não apenas em conteúdos acadêmicos, mas também em habilidades cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho, como resiliência, empatia, trabalho em equipe e capacidade de viver construtivamente com quem pensa de maneira diferente de si.

Portanto, a crise no mercado de trabalho começa com a crise na nossa educação. O mundo se transforma a passos largos, exigindo pessoas capazes de se reinventar continuamente. Mas, para isso, elas precisam de uma sólida educação. Sem isso, engrossaremos as filas de desemprego não apenas pela crise econômica, mas também por estarmos sendo substituídos por robôs.

A educação é de todos, e esse problema precisa ser resolvido com a participação de toda a sociedade. O dilema tem solução, mas exige seriedade e muito trabalho. Veja o que precisa ser feito no vídeo abaixo. E depois compartilhe suas opiniões nos comentários.



Veja o estudo sobre o resultado brasileiro no Pisa 2015, feito por pesquisadores da USP e do Insper. É só clicar em https://www.insper.edu.br/wp-content/uploads/2018/08/Por-que-Brasil-vai-mal-PISA-Analise-Determinantes-Desempenho.pdf


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Aumento de concorrentes da Netflix pode reacender a pirataria

By | Tecnologia | No Comments

Prepare-se: a pirataria está voltando com força!

Depois de serviços como Netflix e Spotify diminuírem drasticamente as cópias ilegais de vídeo e de música, elas podem voltar com força. Ironicamente o motivo é a entrada de novos concorrentes desses serviços.

Ao contrário do Spotify e afins, que têm em seus acervos virtualmente toda música que alguém possa querer ouvir, de todos as gravadoras e de produtores independentes, os streamings de vídeos têm ofertas bem mais reduzidas. Além disso, apostam na exclusividade de suas produções próprias como diferencial.

O problema é que, apesar de ser razoável pagar pela assinatura de um, talvez dois desses serviços, se alguém quisesse ficar por dentro de todos os grandes lançamentos, teria que pagar por pelo menos cinco deles, o que torna a conta salgada demais para a imensa maioria da população.

É aí que a pirataria ganha força!

Entenda esse fenômeno assistindo ao meu vídeo abaixo. E depois compartilhe nos comentários se assina algum serviço de streaming de vídeo ou de música, e se acha que a proliferação deles combate ou favorece a pirataria.



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