Monthly Archives: fevereiro 2020

A morte da empatia e o fim da humanidade

By | Educação | No Comments

A política é uma atividade nobre e necessária, mas não podemos sucumbir à luta pelo poder e matar a nossa capacidade de sermos empáticos, arrastando a nossa humanidade para a escuridão, como vem acontecendo no mundo todo, e muito fortemente no Brasil.

Negar a política é inócuo: ela faz parte da nossa natureza. Quando debatemos aqui, estamos fazendo política, que foi criada para nos organizarmos em sociedade e construirmos algo com nossos semelhantes.


Saiba mais sobre esse assunto no vídeo abaixo:


Infelizmente, a política também pode se enviesar e criar algo contrário à sua função essencial. Na luta pelo poder, mentimos, roubamos, matamos. E acreditamos em pessoas que fazem isso em seu benefício.

Isso explica o atual cenário, em que aqueles que pensam diferentemente, mesmo quando estão buscando o bem da sociedade, devem ser calados ou até eliminados. Para desgraça geral, isso não vem sendo feito apenas de maneira figurativa.

Os fatos têm me feito pensar muito sobre isso, e já ensaiei alguns debates nas redes para ajudar na compreensão desse fenômeno perverso que estamos vivendo.

Por exemplo, na quarta passada (19), publiquei um post comentando o atual comercial do WhatsApp, uma peça belíssima, que me tocou muito. Ele mostra como o comunicador, que ficou famoso como a ferramenta mais eficiente para disseminar as “fake news”, as infames notícias falsas, também pode ser usado para fazer o bem. Claro, é só uma ferramenta: o bem e o mal vêm de como as pessoas usam esse recurso!

Dois dias depois, fiz outro post comentando um comercial, nesse caso, da companhia aérea Scandinavian Airlines. Outra peça inspiradora e emocionante, que explica que muito do que os escandinavos se orgulham de ter desenvolvido, como a licença paternidade, o movimento pelos direitos das mulheres, o clipe de papel, e muitas outras coisas, são, na verdade, invenções de outros povos. Mas isso não tira o valor da contribuição dos escandinavos, que melhoraram tudo aquilo. Apesar da bela mensagem, grupos conservadores locais não gostaram da peça, por isso atacaram a campanha e a empresa por supostamente estarem “desrespeitando a cultura escandinava”. A agência que criou a peça chegou a receber uma ameaça de bomba!

Honestamente, a opção política de qualquer um diz respeito apenas a si. Mas opção política é muito diferente de negar a verdade, só porque ela incomoda. E, pior, querer impor sua visão de mundo a todos pela força.

Por exemplo, na quinta, assisti estarrecido a um vídeo que viralizou na Internet, que mostrava alguns homens arrastando para longe da água um tubarão que havia encalhado e estava agonizando em Guaratuba, no Paraná. O animal acabou morrendo asfixiado logo depois. Além de não terem chamado especialistas para salvar o animal, ainda o arrastaram para a areia. Quanto sadismo!

Há também o caso da jornalista Patrícia Campos Mello, da “Folha de S.Paulo”, que vem sendo covardemente atacada por autoridades eleitas e hordas que as seguem. Motivo: fazer um trabalho exemplar, mas que vai contra os interesses desses indivíduos. Apesar de ter tudo documentado, de maneira mais que suficiente para desmentir todas as calúnias contra ela, essa turma continua rejeitando os fatos, para continuar a atacando de maneira sórdida!

Sei que, para muitos, a imprensa é como aquele tubarão na praia: se alguém fizer algo de errado e um jornalista descobrir, ele pode “morder”. E deve fazer isso mesmo! Por isso, esse pessoal acredita que jornalista merece “morrer de antemão”!

Mas, se não é perfeita, a imprensa é essencial para fiscalizar o poder político e econômico, impedindo que ele faça o que bem entender. Vale dizer que a imensa maioria do trabalho jornalístico é muito bem feito, essencial para a manutenção da sociedade.

Então, novamente, podemos e devemos ter suas convicções políticas, religiosas, ideológicas. Mas isso não pode fazer com que busquemos a aniquilação dos diferentes a nós.

As diferenças sempre existiram, e somos capazes de conviver em harmonia. Precisamos urgentemente resgatar a nossa capacidade de viver em sociedade de maneira civilizada, de construir com o outro, de demostrar empatia.

Se não fizermos isso logo, pode ser tarde demais e a nossa humanidade terá desaparecido para sempre.


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Cena de "Parasita", com o personagem Kim Ki-Woo (esquerda) “analisando a arte” do filho de Park Yeon-Kyo - Foto: reprodução

O ensinamento oculto de “Parasita” para a vida

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No último dia 9, pouco antes da cerimônia do Oscar, a correspondente da rede ABC que cobria o “Tapete Vermelho” fez uma pergunta que muitas pessoas consideraram tola ao diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, sobre seu filme “Parasita”: “o que fez você fazer o filme em coreano, quando outros filmes seus foram em inglês?” Ao que ele respondeu: “quis explorar o tema (da riqueza e da pobreza) com personagens que eu vejo no meu cotidiano na Coreia, em coreano.” Algumas horas depois, o diretor e sua obra se tornaram os grandes vencedores da noite, levando os prêmios de melhor roteiro original, melhor filme internacional, melhor diretor e melhor filme, o primeiro em 92 anos de Oscar a receber o prêmio máximo em um idioma que não fosse inglês.

Como ele conseguiu essa proeza? Na verdade, todos nós podemos aprender algo disso para nossos negócios e a vida.

Fazendo um paralelo, seria como perguntar aos diretores de Hollywood por que criam seus filmes em inglês, sendo que há tantos outros idiomas no mundo. Mas a pergunta da correspondente e a resposta do diretor não são simplórias como podem parecer a princípio. Joon-Ho enxergou o mundo de uma maneira que poucas pessoas conseguem, apesar de todos nós sermos atores no mesmo palco, cada um em seu país, sua cidade, sua vida. E talvez aí resida justamente o sucesso de “Parasita”. E aí podemos aprender com o filme

Como você já deve estar careca de saber a essa altura, “Parasita” conta a história de uma família sul-coreana pobre que dá um jeito de se infiltrar na vida de uma família rica, enganando-os para conseguir para seus membros todos os empregos da casa, o que acaba criando situações inesperadas. É apresentado como um filme sobre “luta de classes”, mas em nenhum momento lembra embates entre “proletários” e “burgueses”. Por um motivo muito simples –que todos nós temos que entender para crescermos: no século XXI, isso não existe mais!

Na versão atual do conflito, ele chega a ser paradoxalmente colaborativo. No lugar de “vermelhos” versus “azuis”, o mundo se transformou em uma amálgama cinza, insípida, indiferenciável. E profissionais, empresas e até políticos que estão se dando bem são aqueles que aprenderam a fazer essa leitura e entregam seus serviços para esse público igualmente amorfo.

Isso não é necessariamente antiético, nem corrupção de valores próprios, e –sim– uma capacidade de se adaptar ao meio. Entretanto, você consegue se adaptar assim?

Quem assiste a “Parasita”, vê isso com as duas famílias se querendo bem e, ao mesmo tempo, criticando os “defeitos” um do outro. Constroem uma relação simbiótica e amistosa, apesar dessas diferenças. Os pobres acham os ricos pessoas boas e honradas, apesar de serem “bobos”. Os ricos acham os pobres trabalhadores e confiáveis, mas são “fedidos”. E a coisa segue, chegando ao ponto de os primeiros usurparem a casa alheia, e dos segundos forçarem os primeiros a se vestirem de índio para agradar o filho mimado.

Não há vilões e mocinhos no embate. Sob determinada ótica, podemos dizer que os dois grupos, apesar de tudo, são formados por boas pessoas, cada um tentando viver a sua vida da melhor maneira possível, apesar de ambos terem visões deturpadas da realidade, justamente por não conhecer o outro, e nem tentar se colocar no seu lugar.

A questão é: até quando esse equilíbrio social instável dura antes que exploda em um conflito irracional?

Onde fica a polarização?

Discute-se muito a polarização que temos vivido há alguns anos e que se acirrou há dois. Eu mesmo discuto isso amplamente nas redes sociais e outros fóruns. Apesar de minhas convicções políticas e sociais, que desafiam a minha lógica diante de algumas coisas que acontecem no mundo e no nosso país, procuro sempre um debate equilibrado e respeitoso. Na maioria das vezes, dá certo, mas é cada vez mais comum ser vítima de apedrejamentos morais, justamente pela intolerância que busco combater.

Concluí que a polarização de fato existe, mas na cabeça das pessoas que se preocupam com isso, estejam nos extremos ou no meio deles, como procuro estar. O causador da polarização, por exemplo um político, se preocupa apenas em alimentar a discórdia, pois isso o beneficia. Ele vampiriza o ódio criado por essa dicotomia, e só existe enquanto ela durar.

Essa é uma tática altamente arriscada e explosivamente destrutiva. Os pontos intermediários, onde existe o bom-senso, são aniquilados pelos que pedem o sangue de cada lado. O problema é que o que sobra não se contenta com a existência do outro. E, se em um ambiente de relativa harmonia como em “Parasita”, as diferenças podem se tornar insuportáveis, que dizer quando as partes querem se matar?

Sei que conclamar as pessoas a buscar o equilíbrio, mesmo discordando de alguma coisa, é quase uma utopia no atual cenário em que vivemos. Mas não custa tentar. É possível até fazer uma oposição qualificada, se houver diálogo. Fora disso, continuamos nossa trajetória firme à barbárie.

Após assistir a “Parasita”, fiquei pensando se aquela situação insólita das duas famílias teria alguma chance de continuar indefinidamente. Pouco provável: em algum momento, uma ou mais partes envolvidas deixariam transparecer a sua sombra, e a simbiose estaria condenada.

O grande desafio que todos nós temos, nessa realidade cinza em que fomos metidos, é aprender a conviver de maneira respeitosa e construtiva com o outro, que pode ser muito diferente de nós. Zygmunt Bauman estava absolutamente correto quando dizia que estamos em uma Modernidade Líquida: a mudança é inevitável, incontrolável, imprevisível. Não dá para agarrá-la com as mãos: temos que aprender a navegar nela.


E aí? Vamos participar do debate? Role até o fim da página e deixe seu comentário. Essa troca é fundamental para a sociedade.


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O pacto brasileiro pela mediocridade

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A atual campanha de um dos mais tradicionais fabricantes de chocolates do país é assustadora: ela premia quem reprova em disciplinas na faculdade! Como diz seu slogan, “bombou, ganhou!”

Normalmente os prêmios vão para quem tem desempenho superior em algo, não insuficiente. Essa iniciativa resolveu ir em sentido contrário. O mais triste é que ela não causa o problema: é mais um sintoma dele!


Saiba mais sobre esse assunto no vídeo abaixo:


A proposta da campanha é “lutar contra os vilões que te impedem de curtir com seus amigos. E, para começar o ano, escolhemos a reprovação na faculdade como vilã”.

É verdade que pesquisas indicam que um dos motivos que faz as pessoas mais irem para a escola são os amigos, especialmente as crianças. Apesar de isso ser importante para o desenvolvimento infantil, não é a principal função da escola. E certamente não é –ou não deveria ser– o principal motivo de alguém ir para a faculdade.

Mas me chamou muito a atenção chamar a reprovação de “vilã”.

Oras! O “vilão que te impedem de curtir com seus amigos” não é a reprovação. É uma política educacional medíocre, cuja raiz está no sucateamento do ensino desde a ditadura militar, que vem piorando ininterruptamente desde então e que atingiu seu clímax agora.

É uma política educacional que muda a cada governo que assume, eliminando tudo que foi feito antes, seja bom ou ruim, acabando com qualquer chance de consistência pedagógica. É uma política que desestimula, humilha e agora até persegue os professores, que prioriza números ao invés de aprendizagem ou a formação de cidadãos mais alinhados com o mundo em que vivemos.

Talvez a campanha quisesse ser “divertidinha”. Mas isso não pode ser motivo para fazer piada. Nada justifica premiar um desempenho insuficiente. Isso promove a mediocridade, em um país que cada vez menos se busca a excelência acadêmica e em outras áreas.

Isso está em linha com um país que desmoraliza a ciência e joga contra a educação. A piora nessas áreas nos afasta cada vez mais dos países desenvolvidos. Nunca ocuparemos um lugar de protagonismo no mundo fazendo isso. Sempre seremos uma república de bananas! Basta ver métricas importantes, em que continuamos dando vexame e caindo.

No dia 23 de janeiro, por exemplo, o Brasil piorou no relatório de percepção de corrupção da Transparência Internacional, amargando a 106ª posição de um total de 180 países. No dia 3 de dezembro, a OCDE divulgou os resultados do Pisa mais recente, avaliação internacional sobre educação, e o Brasil manteve seu histórico vexatório: ficamos entre os 20% piores países do mundo. No dia 24 de julho, caímos duas posições no Índice Global de Inovação, realizada pela Universidade Cornell, pelo Instituto Europeu de Administração de Empresas e pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual: ficamos na 66ª posição, entre 129 países. E hoje somos a 9ª economia do mundo (pelo tamanho do nossos mercado), mas já fomos a 6ª, há apenas uma década.

Todos esses números, por si só, são motivo de grande vergonha. Todos eles estão interligados. Mas nenhum deles é uma surpresa.

Para revertermos esses indicadores, e tantos outros que vamos mal, temos que investir em uma educação de qualidade e que seja verdadeiramente para todos. Uma educação que promova a excelência acadêmica e também habilidades como respeito a diferenças, tolerância e trabalho em equipe.

Há pelo menos 15 anos folclorizamos a educação deficiente, como se a formação acadêmica fosse algo dispensável. Que bastaria ter vontade, ser espontâneo, fazer “o certo” para se dar bem na vida. Em resumo, que estudar é um tanto dispensável, desnecessário. Junto ao jeitinho brasileiro, criamos um outro câncer social no país: a figura do “bom ignorante”.

Haja chocolate para “curar” isso tudo!


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“Isso não é Facebook!”

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A liberdade de pensamento encara uma nova frente de batalha, no terreno de expressão mais democrático de todos: as redes sociais. Desde antes das últimas eleições, as patrulhas ideológicas que combatem o que é contrário a seu pensamento ganham força gradativamente nessas plataformas. Promovem uma avalanche de desinformação e de críticas ácidas, com o objetivo de desqualificar o assunto e o autor.

A diferença é que os alvos não se resumem mais apenas a jornalistas e outras pessoas de destaque na sociedade: agora qualquer um pode ser alvejado pelas milícias digitais. Isso me entristece e dispara o alerta! Para evitar esses ogros, usuários andam fazendo apenas publicações “seguras” nas redes, especialmente no LinkedIn, onde ainda há conversas de alto nível.


Saiba mais sobre esse assunto no vídeo abaixo:


Pessoas com excelentes ideias estão deixando de publicar assuntos que precisam ser debatidos, com receio das críticas ou simplesmente porque se cansaram de “dar pérolas aos porcos”. Sobram então as que não incomodam ninguém, justamente por não trazer temas impactantes, ficando no sucesso insosso. Com isso, o nível do debate na rede desabou, e ela vem se tornando terreno para propaganda e vivaldinos que enrolam a audiência.

“Isso aqui não é Facebook!” Essa é a mensagem padrão quando alguém acha que um conteúdo publicado no LinkedIn é inadequado para a rede. De fato, cada rede social tem um estilo de conteúdo e uma proposta. Em alguns casos, como no LinkedIn, a própria comunidade de usuários ser ocupa de garantir que isso seja respeitado. Mas esse mecanismo legítimo vem sendo usado para iniciar o processo de censura, em que abordagens contrárias ao pensamento dos censores devem ser banidas do debate.

Os antigos diziam que “política, futebol e religião não se põem à mesa”. Mas, ao contrário do que muitos pensam, discutir esses temas nas redes sociais não é algo ruim. Na verdade, é muito necessário, desde que feito de uma maneira construtiva, com respeito, tolerância e baseado em fatos e bons argumentos.

Esses temas definem o que somos e moldam nossa sociedade. A política faz parte da nossa vida: somos animais políticos! Então, como podemos querer ficar só nas postagens seguras, ou fugir ou bloquear o debate?

Isso é algo que vale a pena e que deve ser perseguido! Justamente debatendo esses temas, melhoramos o nível da rede, que anda inundada de propagandas, de gurus de fórmulas mágicas para tudo e de posts rasos como um pires.

Quando não nos posicionamos, deixamos de mostrar quem somos, deixamos de contribuir com a sociedade, de construir nossa imagem em um mundo que funciona de maneira intimamente ligada ao meio digital. Não deixe de publicar por medo de errar. E não seja “morno” querendo agradar todo mundo, pois isso nunca acontecerá!

Às vezes, quando me posiciono sobre esses temas, sou vítima dessa retórica furiosa, que surge na forma de comentários raivosos e até mal-educados. Sempre sou muito cuidadoso na escolha das palavras e na construção das ideias. Mas isso não é suficiente, pois o intolerante apedreja quem não pensa como ele.

A ironia é que o intolerante faz isso justamente porque eu o aceito como é desde o princípio. Mas, no final, ele continuará sendo intolerante, talvez exercitando isso da maneira ainda mais raivosa. Por isso, a única intolerância justificável é contra a própria intolerância!

Isso acontece há muito tempo no futebol, com as torcidas organizadas. Mas agora estamos vendo isso com força na religião, na política e até na economia. Aliás, essas coisas estão se misturando e criando uma amálgama bem coesa e perigosíssima, pela força que dá à violência.

Não pode haver apenas um time de futebol, nem uma única religião, nem um único partido político! Ou nos tornaremos uma república de fanáticos, que nem percebem seu fanatismo.

A liberdade de defender um ponto de vista não pode superar direitos essenciais do ser humanos, como liberdade de pensamento, direito à vida, à educação, a condições dignas de trabalho, de saúde, de moradia. E todos devem ser iguais perante a lei!

É comum encontrar no LinkedIn a frase “isso não é Facebook”, quando uma publicação é considerada inadequada para a rede. Mas, se as coisas continuarem assim, o LinkedIn pode se tornar justamente um Facebook, pelo menos no quesito de debates socialmente relevantes…

Há uma frase equivocadamente atribuída ao filósofo francês Voltaire, que é muito adequada à situação: “eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.”

Quem aqui está pronto para isso?


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Google Maps completa 15 anos e amplia seu impacto social

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Neste sábado (8), o Google Maps completa 15 anos. Criado com o objetivo nada modesto de mapear toda a Terra, ele se tornou um dos serviços online mais usados do mundo, com mais de 1 bilhão de pessoas pesquisando nele endereços todos os meses.

Na quinta, estive no Google Brasil e conversei com André Kowaltowski, gerente do Google Maps para a América Latina. A entrevista pode ser vista no vídeo a seguir.


Saiba mais sobre esse assunto no vídeo abaixo:


O Google Maps não foi o primeiro serviço da categoria. O título pertence ao MapQuest, lançado nove anos antes (e que ainda existe), mas o Maps definiu um novo padrão de qualidade, que deixou os concorrentes para trás.

O que provavelmente pavimentou seu caminho para o sucesso (sem trocadilhos) foi o lançamento, ainda em 2005, de uma API (atualmente “Google Maps Platform”) que permitiu que qualquer site ou aplicativo incorporasse suas funcionalidades. Hoje mais de cinco milhões deles usam o recurso. Como resultado, o Maps impacta a sociedade de uma maneira que poucos serviços conseguem.

Para comemorar o aniversário, o Google Maps ganhou um novo ícone, e os aplicativos para Android e iOS foram reorganizados em novas abas: “explorar”, “dia a dia”, “salvos”, “contribuir” e “novidades”.

Nas próximas semanas, novos recursos serão adicionados ao serviço. Um dos mais interessantes é um sistema de realidade aumentada, que ajudará as pessoas que usam o aplicativo caminhando por um lugar desconhecido, evitando que andem para o lado errado. Isso é feito porque o Maps reconhecerá o local combinando a imagem capturada pela câmera com sua enorme base de imagens do Street View.

Ao traçar rotas, o Maps trará opções “multimodais”, oferecendo combinações de diferentes tipos de transporte para o usuário chegar mais rápido ao destino, como bicicleta, ônibus, metrô, trem, carros de aplicativo e até caminhando. E, para 61 cidades, o sistema trará a localização dos ônibus em tempo real. Além disso, serão incluídas, com a participação de usuários, informações como temperatura dentro do transporte público, se tem sistemas de segurança, sua acessibilidade e, no caso de metrô e trens, se há vagões exclusivo para mulheres.

O meio digital pode lhe deprimir ou curar: depende de você

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Vivemos uma corrida para nos destacar nas redes sociais. Alguns fazem isso por trabalho, outros para satisfazer o ego, e há ainda aqueles que simplesmente querem aceitação do seu grupo social, ainda que inconscientemente. Nem sempre as coisas saem como queremos. Em uma sociedade já bastante digitalizada, esse “fracasso” pode gerar tristeza, angústia, ansiedade e até depressão.

Nesse cenário, uma das principais ferramentas para construirmos nossa imagem digital é o que publicamos nas redes. Isso gera uma avalanche de conteúdo, com a qual não conseguimos lidar, aumentando ainda mais os sentimentos acima. Para piorar, as “fake news” aparecem como alternativa, pois, como normalmente têm grande apelo, acabam seduzindo aqueles que não conseguem aparecer com seu próprio conteúdo e, por isso, as espalham.


Saiba mais sobre esse assunto no vídeo abaixo:


Em uma aula em 2018 com a professor Lucia Santaella, que foi a orientadora do meu mestrado e é uma autoridade internacional em semiótica, ela disse uma coisa que me marcou muito: “As redes sociais não criam nada novo, mas fazem tudo acontecer de maneira mais intensa e em um tempo menor.”

Ou seja, os fatos acontecem no seu ritmo. Mas, com o meio digital, somos bombardeados com uma quantidade enorme e crescente de informações. Antes de assimilarmos uma notícia, já temos que lidar com outras três. E esse volume cresce assim exponencialmente.

Daí vem a ansiedade.

A crise do coronavírus é um ótimo exemplo. Trata-se de uma doença perigosa e precisa ser observada com seriedade. Mas não é o apocalipse zumbi! A crise da SARS, em 2002, por exemplo, foi mais grave e a humanidade não pereceu.

O problema é como isso chega nas redes sociais. Tenho observado muita gente acreditando e espalhando todo tipo de notícia falsa, especialmente no Facebook e no WhatsApp. Nessas horas, aparecem os vivaldinos que querem ter ganhos econômicos ou políticos, distorcendo os fatos a seu favor. E há aqueles que simplesmente passam informações erradas ou inócuas, por ignorância ou má fé mesmo.

Vi gente conclamando a população a aumentar o consumo de vitaminas, para evitar a contaminação. E alguns “figurões” (estão mais para figurinhas mesmo) espalharam até que a Fundação Bill e Melinda Gates, do fundador da Microsoft, teria patenteado o coronavírus em 2014, com o objetivo de redução populacional!

Sério mesmo?

Crescimento da intolerância

Vivemos um momento triste da história, de polarização extrema, de violência, de intolerância e de donos da verdade pipocando de todos os lados. E todos esses sentimentos e essa percepção são alimentados por nós mesmos nas redes sociais!

A sensação que dá é que o mundo está piorando ao longo do tempo. Mas, na verdade, está melhorando! Não me refiro a esse ano, ao ano passado, aos últimos cinco anos: estamos em um momento de crise, de piora mesmo. E isso contamina a nossa percepção, porque estamos literalmente vivendo todos esses problemas na nossa pele, todos os dias.

Eu quero dizer que está melhorando ao longo de décadas!

Por exemplo, segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer chegou a 76,3 anos em 2018. Em 1900, esse indicador era de míseros 33,4 anos! Isso acontecia porque a medicina era muito pior, não havia remédios e vacinas como hoje (nem antibióticos), as pessoas não se alimentavam tão bem, e as condições de trabalho também eram muito piores.

Mas essa melhora não foi exatamente linear. Teve altos e baixos. Se olharmos de longe o gráfico, eles não aparecem tanto. Mas, se aproximamos com uma lupa, vemos que existiram anos de mais sofrimento e outros de mais bonança. A diferença é que essa percepção, no passado, era menos intensa, inclusive porque não havia tantos veículos de comunicação. Hoje vivemos tudo isso com muito mais intensidade.

Por isso, digo que os jornais hoje contam os fatos do dia, mas, quando olhamos um noticiário consolidado do passado, eles se tornam “livros de história” incrivelmente detalhados. Isso ficou muito claro quando eu tive o prazer de ser o gerente do projeto que criou o Acervo Estadão, digitalizando todas as páginas do jornal, fundado em 1875.

Então, para que todos vivam melhor, precisamos cuidar de como usamos o meio digital. Sem falar que o que publicamos, mesmo que seja uma singela foto, constrói a nossa imagem digital. E, em uma sociedade permanentemente online, a nossa imagem digital é a nossa principal imagem!

Portanto, “não alimente os trolls”! Não acredite em qualquer coisa, especialmente se vier de pessoas que vivem de atitudes extremas e radicais, de “fake news” e cortinas de fumaça. Não se informe pelo WhatsApp!

Precisamos usar esse incrível poder que todos nós temos, nas redes sociais, para construir algo que não seja bom só para nós mesmos. Quando aproveitamos o meio digital para construir algo que ajude muita gente, que busque uma sociedade mais justa, equilibrada e verdadeira para todo mundo, nós não apenas melhoramos a nossa imagem, como também diminuímos essa ansiedade imensa em que vivemos.

E aí, prontos para isso?