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Imagens inéditas geradas pelo Lensa, que usa inteligência artificial para criá-las a partir de outras fotos do usuário

Como nos defender das armadilhas da inteligência artificial

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Se alguém ainda tinha dúvida de como a IA (inteligência artificial) está disseminada em nossas vidas, dois sistemas movidos por essa tecnologia possivelmente acabaram com ela ao inundar as redes sociais nos últimos dias com conteúdo que produzem. O primeiro foi o Lensa e seus retratos estilizados de nossos amigos, e o outro foi o ChatGPT com textos incríveis que escreve a partir de simples comandos. De quebra, ambos escancararam como podemos pautar escolhas pessoais pelas sugestões da IA, às vezes sem ter plena noção disso. E essa nossa inocência esconde um grave problema, pois, apesar de os resultados dessa tecnologia parecerem incríveis, podem embutir falhas graves, que nós engoliremos alegremente.

Sou um entusiasta do que a inteligência artificial pode nos brindar nos diferentes campos do saber. Se bem utilizada, ela pode trazer ganhos que nos levarão a um nível de produtividade inédito. Mas precisamos dosar a euforia e entender que não existe almoço grátis.

Tudo porque a inteligência artificial não é inteligente de fato! Sim, esses sistemas efetivamente aprendem à medida que são usados e com seus próprios erros. Mas a qualidade de suas entregas depende do material usado para sua “educação” e até da índole de seus usuários. Assim como acontece com uma criança, se ela for mal instruída, repetirá tudo de ruim que tiver aprendido.

A diferença é que, ao contrário da criança com seu alcance limitado, plataformas com inteligência artificial mal instruídas podem influenciar negativamente milhões de pessoas com isso.


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Em setembro, a IBM divulgou um estudo global que indicou que 41% das empresas brasileiras já adotam IA. Ironicamente, muitas não sabem disso, porque ela está por trás de aplicações que se tornaram corriqueiras. E, da mesma forma que a inteligência artificial se presta a criar inocentes retratos a partir de outras fotos, pode ser o motor de sistemas empresariais para se tomar decisões de milhões de reais.

Há um outro aspecto que não pode ser ignorado: a IA também está no coração de incontáveis aplicativos em nossos smartphones e nas redes sociais. E, como já debatemos nesse espaço incontáveis vezes, essas plataformas têm um incrível poder de nos influenciar.

Em outras palavras, uma IA “mal orientada” pode não apenas nos fazer perder muito dinheiro, como ainda provocar diferentes danos no âmbito pessoal.

Não entendam isso como uma visão apocalíptica da tecnologia. Pelo contrário, a inteligência artificial quase nos dá “superpoderes”, ou pelo menos habilidades que nós eventualmente não tenhamos, como tirar uma foto incrível, escrever um texto brilhante ou evitar grandes riscos nos negócios. Entretanto, precisamos estar atentos para não achar que ela é infalível.

Há ainda um aspecto profissional a ser considerado. Com sistemas tão sofisticados cuspindo sensacionais fotos, textos ou contratos (só para ficar em alguns poucos exemplos), fotógrafos, escritores e advogados estão com seus empregos sob risco?

Por enquanto, isso não acontecerá por dois motivos. Em ambientes corporativos, essas plataformas acabam sendo usadas principalmente para mastigar grande quantidade de informações específicas para produzir um resultado de qualidade. Mas ainda é necessário um profissional que entenda do assunto para dar os comandos aos sistemas e confirmar suas entregas, fazendo eventuais correções de rumo. São necessárias ainda pessoas que produzam os conteúdos “originais” que os alimentarão.

Na verdade, uma nova profissão pode surgir disso: os “prompt designers”, capazes de extrair o melhor dessas plataformas. E eles também precisam de conhecimento na área do saber que o sistema trabalho. Fazendo uma analogia, é como comparar alguém que sempre consegue boas respostas do Google porque sabe fazer boas perguntas com a maioria dos usuários, que só recebem as páginas mais óbvias.

 

Máquinas preconceituosas

Há ainda um ponto de atenção central nessa tecnologia: os vieses que ela pode desenvolver. Sim, uma máquina pode verdadeiramente se tornar preconceituosa! Tanto que esse foi um dos temas centrais do World Summit AI Americas, um dos maiores eventos do setor no mundo, do qual participei em maio, em Montréal (Canadá).

Como disse anteriormente, para sistemas de IA oferecerem boas respostas, eles precisam ser ensinados com bons conteúdos e por bons usuários. Quanto pior qualquer um deles for, piores serão os resultados. E isso vale também para preconceitos.

Um exemplo clássico são sistemas de recrutamento profissional com inteligência artificial. Eles analisam milhares de currículos e escolhem poucos candidatos que seriam os mais adequados para que o RH os entreviste. Se, a cada contratação, o sistema identifica que os recrutadores humanos nunca escolhem alguém com mais de 40 anos, ele passará a indicar apenas candidatos até essa idade. Ou seja, o sistema terá incorporado o preconceito dos recrutadores contra profissionais mais velhos.

Outro tipo de viés desses sistemas pode ter efeitos nefastos na autoimagem das pessoas. Filtros do Instagram e do TikTok, e o próprio Lensa já foram acusados de gerar imagens com a pele mais clara e lisa do que as pessoas realmente têm, com rostos mais simétricos e magros, com narizes mais finos e lábios mais carnudos e até com aparência mais jovem. Dessa forma, reforçam ideais de beleza, às vezes inatingíveis.

Muitas pessoas, especialmente mulheres, têm pedido a cirurgiões plásticos para ficarem como vistas nesses aplicativos, mas isso não é possível, podendo causar enorme frustração com o próprio corpo. E isso dispara sinais de alerta e abre muitas reflexões.

Pode parecer irônico que uma tecnologia nos faça avaliar muito de nossa própria humanidade. Afinal, por que tanta gente criou suas imagens com o Lensa? Foi só um “efeito manada”? É um movimento egocêntrico ou narcisista? Foram mais uma vez controladas pelas redes sociais? Ou estão, de alguma forma, querendo “reescrever” sua própria realidade?

Qualquer que seja a resposta, a inteligência artificial ocupará um espaço cada vez maior em tudo que fizermos, conscientemente ou não. Ela realmente tem o potencial de fazer nossas vidas mais fáceis, divertidas, rápidas. Apenas não podemos usá-la para distorcer a realidade ou –pior ainda– sermos vítimas desses vieses e preconceitos. Precisamos conhecer e nos apropriar da tecnologia para algo bom, sem nos afastar do que somos!

Afinal, por mais que a realidade possa ser dura às vezes, é nela que temos nossas melhores experiências, que desencadeiam as verdadeiras transformações em nós mesmos. E é a partir delas que crescemos como indivíduos.

 

Inteligência artificial ajuda 41% das empresas brasileiras, mas muitas nem sabem disso

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Uma boa tecnologia é aquela que entrega o prometido de maneira tão integrada ao cotidiano, que as pessoas nem percebem sua existência (pelo menos até que ela falhe). É o caso, por exemplo, da rede de energia elétrica. Com a digitalização galopante da vida, a IA (inteligência artificial) começa a ocupar também essa categoria, com enormes benefícios para pessoas e empresas. Mas justamente por ser tão poderosa, precisamos estar atentos a seu crescimento.

Na quarta passada, a IBM divulgou um estudo global que indicou que 41% das empresas brasileiras já adotam IA em seus negócios. Considerando que o levantamento engloba representantes de todos os segmentos e portes, inclusive os pequenos, a porcentagem impressiona.

Ainda assim, não é absurda. Muitas companhias adotam essa tecnologia sem saber. Isso acontece porque a inteligência artificial está por trás de muitas aplicações que se tornaram corriqueiras no que fazemos. Nós a carregamos para todos os lados em incontáveis aplicativos em nossos smartphones, que só existem graças à inteligência artificial. Nas empresas, diferentes automações também bebem nessa fonte.

Não é pouca coisa! Tomamos decisões importantes apoiados nas informações oferecidas por essa tecnologia. Isso reforça a necessidade de não apenas estarmos conscientes de sua ação, como também de compreender seu funcionamento.


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A pesquisa global foi realizada pela consultoria americana Morning Consult para a IBM. Foram ouvidos 7.502 executivos com alguma influência sobre a área de TI de suas empresas, entre 30 de março a 12 de abril. Na América Latina (especificamente Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru), foram 1.000 entrevistas.

“Todo mundo teve que acelerar a digitalização com a pandemia, foi uma necessidade”, explica Marcela Vairo, diretora de software da IBM Brasil. “O uso de inteligência artificial foi um destaque, e o Brasil está bem, até se comparado a países mais avançados.”

Na América Latina, as empresas vêm usando a inteligência artificial para sistemas de segurança cibernética, e de conversação (linguagem natural), ambos indicados por 44% dos entrevistados. A tecnologia também aparece em 30% das empresas em plataformas de marketing e vendas, mesma porcentagem das que a usam para melhorar suas próprias operações de TI. A IA também está sendo aplicada para criar negócios mais sustentáveis. O estudo indicou que ela pode fornecer informações mais precisas ​​sobre fatores de desempenho ambiental (43%) e conduzir processos de negócios e operações mais eficientes (37%).

Além dos 41% das empresas brasileiras que já a adotam, 34% estão explorando seu uso. Isso vem sendo impulsionado por avanços que a tornam mais acessível às empresas (56%), sua crescente incorporação em aplicativos de negócios (48%) e a necessidade de reduzir custos e automatizar processos-chave (39%). Por outro lado, 29% dos entrevistados indicaram que os custos atrapalham sua adoção, seguidos pela dificuldade em implantar esses projetos (20%), a complexidade na gestão dos dados (17%) e o conhecimento na área (17%).

“A principal barreira hoje, não só para inteligência artificial, mas para todas as tecnologias, é mão de obra: tem muita gente aprendendo a programar, mas, mesmo assim, falta gente”, afirma Vairo. Essa observação está em linha com um estudo da Brasscom, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais, divulgado em dezembro passado. Segundo a entidade, o Brasil terá uma demanda de 797 mil profissionais de tecnologia até 2025, mas forma apenas 53 mil deles por ano.

“O segundo ponto principal é o dado em si”, explica Vairo. “O dado é o combustível da inteligência artificial: se ele não estiver bem filtrado, o resultado final também não será tão bom.”

 

“Garbage in, garbage out”!

A inteligência artificial não faz milagres: se os sistemas não forem concebidos ou alimentados com dados de qualidade, suas conclusões serão ruins, levando a erros nas decisões cotidianas de empresas e de pessoas. Como se diz desde os primórdios da computação, “se entra lixo, sai lixo”.

A situação se agrava no caso da inteligência artificial, que tem, como uma de suas premissas, absorver gigantescas quantidades de informações para identificar e analisar padrões. “A máquina não é um ser humano, mas ela não só digere padrões”, explica a diretora da IBM. “Ela consegue aprender a partir dali, está evoluindo para o que a gente chama de ‘reasoning’, de ‘raciocinar’, algo mais que a análise fria do dado, com contexto.”

Aí reside a beleza e o problema da inteligência artificial. A máquina processa grande quantidade de informação, aprendendo o que é considerado o “certo” e oferecendo resultados cada vez mais assertivos a partir disso. Mas, para tanto, precisa ser programada e alimentada com bons dados. Caso contrário, ela pode desenvolver vieses ou preconceitos, que farão com que tire conclusões ruins.

Podemos fazer uma analogia com o aprendizado de uma criança. Se ela for constantemente exposta a exemplos ruins, aprenderá e reproduzirá isso quando crescer. Por exemplo, se ela for criada em uma família racista, existe chance de se tornar um adulto racista, pois o preconceito terá sido normalizado no seu cotidiano.

A preocupação da comunidade de tecnologia com os vieses na inteligência artificial é tão grande, que foi um dos assuntos que mais ouvi durante o World Summit AI Americas, um dos maiores eventos do setor no mundo, que aconteceu em maio em Montréal (Canadá). Na palestra de abertura, Cassie Kozyrkov, cientista-chefe de decisões do Google, sugeriu que essas plataformas precisam de regras para corrigir o rumo se algo der errado. “Você precisa testar rigorosamente e construir redes de proteção”, sugere.

Vairo destaca dois pontos a serem observados para minimizar o problema. O primeiro é a “explicabilidade” dos dados, para entender e cuidar da sua natureza. O outro é ter diversidade nas equipes que cuidam da inteligência artificial, para diminuir os vieses.

Essa questão ética é fundamental, até mesmo para balizar boas práticas e legislações. A partir do momento que a inteligência artificial determina os rumos dos mais diversos sistemas, e eles, por sua vez, são usados para que empresas e pessoas tomem decisões críticas, a máquina precisa dessa supervisão.

“A inteligência artificial não é mágica, não pode ler sua mente”, provocou Kozyrkov no Summit. Ela precisa dos seres humanos. Criamos uma parceria com as máquinas. Se quisermos que ela nos ajude, precisamos ajudá-la a aprender com bons exemplos, ou seja, dados de qualidade.

Se fizemos a nossa parte nesse acordo, a inteligência artificial pode nos oferecer grandes ganhos. Mas, se formos negligentes com a sua “educação”, ela pode aprender e propagar todo tipo de preconceito na sociedade.

 

Cassie Kozyrkov, cientista-chefe de decisões do Google, na palestra de abertura do World Summit AI Americas, no dia 4 de maio

Uma inteligência artificial sem ética pode arruinar a sociedade

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Graças a crescente simbiose com sistemas digitais, nossas decisões cotidianas são influenciadas por eles. O que pouca gente sabe é que, da mesma forma, nós influenciamos as máquinas. Na verdade, graças à inteligência artificial cada vez mais disseminada nesses sistemas, elas efetivamente aprendem conosco. Mas será que estamos sendo bons professores?

A pergunta pode parecer sem sentido, mas embasa um dos temas mais quentes hoje para quem trabalha com inteligência artificial: a ética desses sistemas. Plataformas de IA desenvolvidas de maneira displicente podem ser mais suscetíveis a aprender e a perpetuar coisas ruins. A ironia –e possivelmente o grande risco disso– é que, se elas aprenderem isso de gente preconceituosa, passarão adiante o erro para outras pessoas, por sua vez influenciadas por esses sistemas.

Em outras palavras, uma inteligência artificial cheia de vieses e preconceitos pode piorar –e muito– a sociedade.


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Isso obviamente não quer dizer que a inteligência artificial seja ruim ou perigosa. Mas a preocupação da comunidade científica e de desenvolvimento com os vieses na inteligência artificial é tão grande, que foi um dos assuntos que mais ouvi na semana passada, durante minha visita a Montréal (Canadá) para participar do World Summit AI Americas, um dos maiores eventos do setor no mundo. Além do congresso, também fiz trocas muito ricas sobre o assunto em visitas a várias empresas e instituições de pesquisa, organizadas pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá e pela Empathy Company.

Na palestra de abertura do Summit, Cassie Kozyrkov, cientista-chefe de decisões do Google, questionou o que faz da inteligência artificial uma tecnologia potencialmente mais perigosa que outras. Segundo ela, “sempre que você fica maior, é mais fácil você pisar nas pessoas a sua volta”. E a IA já está bem grande. “Não seja negligente na escala”, alertou.

Kozyrkov explicou que, ao contrário de uma programação convencional, em que o desenvolvedor determina explicitamente tudo que a máquina deve fazer em incontáveis linhas de código, na inteligência artificial, a plataforma recebe regras amplas para oferecer boas soluções para um problema. Para conseguir isso, ela é alimentada com conjuntos de dados, que servirão para que tome suas decisões.

O problema é que, se esses dados forem ruins, as decisões também serão ruins. Por isso, a plataforma precisa ter outras regras para corrigir o rumo se algo der errado. Segundo a cientista, quando os exemplos apresentados à máquina forem inadequados, sem uma validação de sua qualidade, a plataforma desenvolverá vieses. “Você precisa testar rigorosamente e construir redes de proteção”, sugere.

Podemos fazer uma analogia com a maneira como uma criança aprende. Se ela for constantemente exposta a exemplos ruins, ela aprenderá e reproduzirá isso quando crescer. Por exemplo, se uma criança cresce em uma família racista, existe grande chance de se tornar um adulto racista, pois esse preconceito terá sido normalizado em sua maneira de pensar.

Um dos exemplos mais emblemáticos do problema foi a ferramenta Tay, lançada pela Microsoft em março de 2016. Ela estava por trás de uma conta no Twitter, que simulava uma adolescente criada para conversar com os usuários. Mas a conta ficou no ar por apenas 24 horas! Tudo porque, nesse curto período, depois de conversar com milhares de pessoas (muitas delas mal-intencionadas), ela desenvolveu uma personalidade racista, xenófoba e sexista. Por exemplo, Tay começou a defender Adolf Hitler e seus ideais nazistas, atacar feministas, apoiar propostas do então candidato à presidência americana Donald Trump e se declarar viciada em sexo.

A Microsoft tirou o sistema do ar, mas o perfil no Twitter ainda existe, apesar de ser agora restrito a convidados, não ter mais atualizações e de os piores tuítes terem sido excluídos. Sua manutenção visa promover a reflexão de como sistemas de inteligência artificial podem influenciar pessoas, mas também ser influenciados por elas.

 

IA enviesada nos negócios

A inteligência artificial está presente em dezenas de sistemas que usamos todos os dias, melhorando suas capacidades. Sem ela, os benefícios que nossos smartphones nos oferecem seriam bem mais limitados. Da mesma, forma, ela está presente em plataformas empresariais. E os vieses também podem surgir nesse caso.

Uma das empresas que visitei em Montréal foi o escritório local da agência Thomson Reuters. No encontro, Carter Cousineau, vice-presidente de Data & Model Governance, e Glenda Crisp, líder de Data & Analytics, trouxeram problemas conhecidos da IA nos negócios, como os de sistemas de recrutamento. Ao analisar milhares de currículos para uma vaga, eles podem deixar de fora os melhores profissionais, por vieses que desenvolveram, por exemplo, sobre idade, gênero ou raça dos candidatos.

Para tentar minimizar casos como esse, o Conselho da Cidade de Nova York criou, no fim de 2021, uma lei que exige auditorias externas de algoritmos usados por empresas para contratação ou promoção de funcionários. Também passa a ser obrigatório informar o uso de inteligência artificial nos processos seletivos. Leis semelhantes em diversos países estão sendo criadas, abrangendo também áreas como educação, saúde e habitação.

A adoção da inteligência artificial é um caminho sem volta, que pode trazer grandes resultados para empresas e pessoas. Em outra palestra no Summit, Krish Banerjee, diretor de Data, Analytics & Applied Intelligence da consultoria Accenture, afirmou que 84% dos executivos sabem que precisam investir em IA para atingir seus objetivos e que 75% acreditam que, se não fizerem isso nos próximos cinco anos, podem ser colocados para fora do mercado.

É claro que sim! A inteligência artificial permite a qualquer um ter incrível ganho na velocidade e na qualidade das informações para seu cotidiano. Para indivíduos, isso pode representar uma vida melhor em diferentes aspectos. No caso de empresas, isso pode se refletir em produtos mais alinhados às necessidades do mercado, melhores métodos de produção e clientes mais satisfeitos.

A inteligência artificial precisa, portanto, dos seres humanos! Ela deixa claro a parceria que criamos com as máquinas. Se quisermos que ela nos ajude, precisamos ajudá-la a aprender com bons exemplos, ou seja, dados de qualidade. Nem mesmo a plataforma mais bem desenvolvida será capaz de dar resultados satisfatórios se pessoas não atuarem ativamente na curadoria das informações que a alimenta, eliminando os vieses.

“A inteligência artificial não é mágica, não pode ler sua mente”, provocou Kozyrkov no Summit. Se fizemos a nossa parte nesse acordo, a tecnologia pode nos oferecer grandes ganhos. Mas, se não instruirmos bem essa criança, ela pode arruinar a sociedade.

 

Inteligência artificial avança sobre o destino do seu emprego

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O papel da Inteligência Artificial cresce de maneira galopante em todos os segmentos do mercado. A área de Recursos Humanos também se beneficia dela, naturalmente. Já há algum tempo, esses sistemas são usados para fazer a peneira em um oceano de currículos que concorrem a vagas de trabalho. Agora algumas empresas também estão usando esse recurso para decidir quem será demitido.

Se algumas pessoas já questionavam a capacidade de a inteligência artificial escolher os melhores candidatos para uma vaga, essa dúvida tende a ficar ainda mais cruel quando se imagina um frio computador decidindo quem será mandado embora. A máquina será justa na sua análise?

A preocupação é pertinente. Afinal, poucas coisas impactam a vida de alguém como uma contratação ou uma demissão, especialmente em um cenário de desemprego nas alturas, como o que vivemos. Mas precisamos colocar em perspectiva o uso dessa ferramenta: será que ela pode ser “culpada” por suas escolhas, se é que dá para atribuir culpa a uma máquina?


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A demissão por inteligência artificial ganhou manchetes em agosto, depois que a empresa russa de promoção de games Xsolla demitiu 150 de seus 450 colaboradores. A decisão de quem seria mandado embora ficou totalmente a cargo do sistema, com base em critérios de produtividade e comprometimento com os objetivos da empresa.

A repercussão foi tão grande que seu CEO, Alexander Agapitov, explicou à edição russa da revista Forbes que não concordava totalmente com as escolhas do sistema, mas que tinha que aceitá-las por determinação da assembleia de acionistas. Mesmo assim, ele se comprometeu a ajudar os demitidos a encontrar trabalho logo, pois, segundo ele, são “bons profissionais”.

O caso é emblemático, mas não é único. O uso da inteligência artificial em demissões já acontece há alguns anos e vem crescendo. Em alguns casos, o sistema não apenas decide quem será mandado embora, como cuida de tudo. Em outras palavras, nesses casos, não há o envolvimento de profissionais de Recursos Humanos nem na decisão, nem na execução do processo.

Isso o torna ainda mais doloroso. Em junho do ano passado, a Uninove demitiu cerca de 300 docentes por um pop-up exibido quando eles entraram na plataforma para dar a aula a distância, já que a escola estava fechada por conta da pandemia. Não houve uso de inteligência artificial nesse caso, mas a mensagem extremamente lacônica, sem incluir qualquer justificativa ou explicação, foi chocante para professores e alunos.

A pergunta “por que eu” sempre surge, especialmente entre profissionais que acreditam estar realizando um bom trabalho, dando o melhor de si, comprometidos com a empresa. E talvez estejam mesmo! Mas, no momento de uma demissão, eles serão comparados com todos na mesma situação ou serão considerados critérios que desconhecem ou sobre o qual não têm nenhum controle. E, nesses casos, um sistema de Inteligência Artificial pode ser uma ferramenta poderosa para os gestores, pois justamente tomará a decisão sem qualquer influência emocional.

Para quem está “do lado de cá do balcão”, aspectos como esforço, ética, dignidade têm peso maior que o considerado pelas empresas, mais preocupadas em métricas de produtividade mensuráveis. Mesmo muitos anos de trabalho excelente para a companhia perdem valor diante da necessidade de cortar friamente, por exemplo, quem ganha mais.

Aspectos intangíveis interessam apenas a seres humanos. Em um mundo cada vez mais focado em resultados, eles perdem espaço. Por isso, a “culpa” não é da inteligência artificial: ela apenas reflete como as empresas se reorganizaram no relacionamento com sua força de trabalho.

O “emprego para a vida toda” está em extinção.

 

Contratando e paquerando com IA

Da mesma forma que demite, a inteligência artificial contrata. A versão mais recente da pesquisa State of Artificial Intelligence in Talent Acquisition, publicada pela consultoria americana HR Research Institute em 2019, indica que, naquele ano só 10% das empresas faziam um uso alto ou muito alto de IA no recrutamento, mas que 36% dos gestores esperavam fazer isso em até dois anos.

E isso foi antes da pandemia de Covid-19, que acelerou ainda mais esse processo.

O estudo traz outra importante conclusão: entre os entrevistados, os maiores temores do uso dessa tecnologia são a desumanização do recrutamento e possíveis discriminações no processo, por vieses surgidos por uma programação falha.

As empresas que já usam esses recursos afirmam que eles permitem contratações de melhores candidatos e de maneira muito mais rápida e eficiente. O risco de discriminações seria minimizado por uma inteligência artificial bem construída e por profissionais de RH capacitados, que ensinam à máquina o que realmente importa.

Se extrapolamos esse conceito, percebemos que a inteligência artificial já nos ajuda a escolher muitas coisas em nossa vida, até mesmo parceiros românticos ou sexuais. Diversos sistemas no mercado aprendem com nossas escolhas de quem nos interessa, para que as próximas sugestões sejam mais assertivas.

Esse processo pode ser extremamente complexo, para que os resultados não sofram vieses inconscientemente ensinados pelos próprios usuários. “Hang the DJ”, quarto episódio da quarta temporada da série “Black Mirror” (disponível na Netflix), que sempre traz questões morais envolvendo usos da tecnologia, ilustra isso de maneira inusitada e até inesperada.

É um fato que estamos sendo sempre rastreados. O que fazemos, dizemos, compramos, comemos, onde e com quem andamos, tudo isso será usado para traçar nosso perfil. E sistemas como os das redes sociais têm ficado tão eficientes nesse processo, que fica muito difícil impedir que eles “extraiam nossas verdades”.

Por isso, apesar de recrutadores afirmarem que os candidatos devam criar currículos e páginas em sites de empregos que estejam alinhados com as vagas e as empresas que desejam, esses documentos acabam se tornando apenas mais um elemento no processo de contratação ou de demissão. É possível que um belo artigo publicado no LinkedIn seja o responsável por uma contratação, enquanto uma foto infeliz no Facebook resulte em uma demissão. Ou, quem sabe, na escolha de alguém com quem se dividirá os lençóis em breve.

Isso pode ser aterrorizante para muita gente! Estamos nus e expostos para olhos digitais, que nos fazem praticamente uma “autópsia de pessoa viva”. Por isso, não se deve perder muito tempo em criar personagens que sejam muito diferentes de quem realmente a pessoa é, para objetivos específicos. Talvez seja mais interessante buscar objetivos mais em linha com sua realidade.

Em outras palavras, mentir no currículo nunca foi tão difícil. Por outro lado, para quem está trabalhando, vale prestar atenção se as exigências e o estilo da empresa se alinham com suas crenças. Se não for o caso, é melhor pensar em mudar de emprego antes de ser demitido por uma máquina.

Apesar de tanta eficiência, penso que tudo tem um limite. Lidar com pessoas sempre foi uma tarefa difícil, especialmente em momentos em que se toma uma decisão que impactará fortemente suas vidas. Ignorar isso completamente desumaniza tanto uma contratação e principalmente uma demissão que, na prática, desumaniza o próprio indivíduo. Nem a busca pela eficiência pode reduzir seres humanos a meros “recursos” com o mesmo peso de uma máquina, que será substituída porque ficou obsoleta.

Processos como esses exigem reflexões responsáveis. Se o RH terceirizar não apenas suas decisões, como também a operacionalização dos processos, ele mesmo pode ser substituído com vantagens por um sistema.

Devemos, portanto, nos preocupar menos em humanizar as máquinas e mais em humanizar as pessoas.

 

O premiado cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que teve o cartaz de seu novo filme, “Madres Paralelas”, censurado pelo Instagram

As pessoas podem emburrecer a inteligência artificial

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Nesse exato momento, um sistema de inteligência artificial pode estar tomando uma decisão em seu nome! Mas, apesar de sua incrível capacidade computacional, não há garantia de que esteja fazendo a melhor escolha. E, em muitos casos, os responsáveis pela falha são outros usuários.

Vivemos isso diariamente e o exemplo mais emblemático são as redes sociais. Essas plataformas decidem o que devemos saber, com quem devemos falar e sugerem o que devemos consumir. E são extremamente eficientes nesse propósito, ao exibir sem parar, em um ambiente em que passamos várias horas todos os dias, o que consideram bom e ao esconder o que acham menos adequado.

Alguns acontecimentos recentes reforçam isso, demonstrando que esses sistemas podem tirar de nós coisas que, na verdade, seriam muito úteis para nosso crescimento. Não fazem isso porque são “maus”, e sim por seguirem regras rígidas ou por estarem sendo influenciados por uma minoria de usuários intolerantes. E pessoas assim podem ser incrivelmente persistentes ao tentar impor suas visões de mundo, algo a que esses sistemas são particularmente suscetíveis.

No final das contas, apesar de a inteligência artificial não ter índole, ela pode desenvolver vieses, que refletem a visão de mundo das pessoas a sua volta.


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Um exemplo recente disso foi a censura pelo Instagram do cartaz do novo filme do premiado diretor espanhol Pedro Almodóvar. O pôster de “Madres Paralelas” traz um mamilo escorrendo uma gota de leite dentro de um contorno amendoado, dando ao conjunto a aparência de um olho derramando uma lágrima. O autor da peça é o designer espanhol Javier Jaén.

O algoritmo do Instagram identificou o mamilo, mas não foi capaz de interpretar a nuance artística envolvida. Como há uma regra nessa rede que proíbe fotos em que apareçam mamilos, para combater pornografia, a imagem foi sumariamente banida da plataforma. Depois de muitos protestos, incluindo de Almodóvar e de Jaén, o Facebook (que é dono do Instagram) se desculpou e restaurou os posts com o cartaz, explicando que, apesar das regras contra a nudez, ela é permitida “em certas circunstâncias, incluindo quando há um contexto artístico claro”.

Não é de hoje que o Instagram cria polêmicas ao bloquear imagens e até suspender usuários por decisões equivocadas de seus algoritmos. Um caso recorrente há anos são fotos de mulheres amamentando. Oras, amamentação só é pornografia na cabeça de pervertidos… e de alguns algoritmos.

O sistema é bastante inteligente para identificar um mamilo entre milhões de fotos, mas muito burro para interpretar os contextos. Ironicamente vemos baldes de fotos com proposta altamente sexualizada no mesmo Instagram, que “passam” porque os mesmos mamilos são cobertos, às vezes com rabiscos grosseiros sobre a foto.

Ou seja, quem age naturalmente, com algo que está dentro do que a humanidade considera normal e até positivo pode ser punido. Por outro lado, quem “joga com o regulamento debaixo do braço” (como se diz nos torneios esportivos) pode driblar o sistema para atingir seus objetivos impunemente.

 

Ferramenta de intolerância

Em um programa de computador convencional, o desenvolvedor determina que, se uma condição A acontecer, o sistema deve executar a ação B. Nesse modelo, o profissional deve parametrizar todas as possibilidades, para que a máquina opere normalmente.

Na inteligência artificial, não se sabe de antemão quais condições podem acontecer. O sistema é instruído a tomar ações seguindo regras mais amplas, que são ajustadas com o uso.

A máquina efetivamente é capaz de aprender o que seus usuários consideram melhor para si. Com isso, suas ações tenderiam a ser mais eficientes segundo o que cada pessoa aprova e também pela influência do grupo social que atende.

O problema surge quando muitas pessoas que usam um dado sistema são intolerantes ou têm valores questionáveis. Nesse caso, elas podem, intencionalmente ou não, corromper a plataforma, que se transforma em uma caixa de ressonância de suas ideias.

Um dos exemplos mais emblemáticos disso foi a ferramenta Tay, lançada pela Microsoft em março de 2016. Ela dava vida a uma conta no Twitter para conversar e aprender com os usuários, mas ficou apenas 24 horas no ar.

Tay “nasceu” como uma “adolescente descolada”, mas, depois de conversar com milhares de pessoas (muitas delas mal-intencionadas) rapidamente desenvolveu uma personalidade racista, xenófoba e sexista. Por exemplo, ela começou a defender Adolf Hitler e seus ideais nazistas, atacar feministas, apoiar propostas do então candidato à presidência americana Donald Trump e se declarar viciada em sexo.

A Microsoft tirou o sistema do ar, mas o perfil no Twitter ainda existe, apesar de ser agora restrito a convidados, não ter mais atualizações e de os piores tuítes terem sido excluídos. A ideia é promover a reflexão de como sistemas de inteligência artificial podem influenciar pessoas, mas também ser influenciados por elas.

 

Tomando decisões comerciais

Em maio de 2018, o Google deixou muita gente de boca aberta com o anúncio de seu Duplex, um sistema de inteligência artificial capaz de fazer ligações para, por exemplo, fazer reservas em um restaurante. Na apresentação feita no evento Google I/O pelo CEO, Sundar Pichai, a plataforma simulava com perfeição a fala de um ser humano e era capaz de lidar, em tempo real, como imprevistos da conversa.

O produto já foi integrado ao Google Assistente na Austrália, no Canadá, nos Estados Unidos, na Nova Zelândia e no Reino Unido. Mas, diante da polêmica em que muita gente disse que se sentiria desconfortável de falar com um sistema pensando que fosse outra pessoa, agora as ligações do Duplex informam ao interlocutor, logo no começo, que está falando com uma máquina.

No final de 2019, fui convidado pela Microsoft para conhecer o protótipo de um assistente virtual que ia ainda mais longe, sendo capaz até de tomar decisões comerciais em nome do usuário. Muito impressionante, mas questionei ao executivo que a apresentou qual a certeza que eu teria de que a escolha feita pelo sistema seria realmente a melhor para mim, sem nenhum viés criado por interesses comerciais da empresa.

Segundo ele, o uso de uma plataforma como essa implicaria em uma relação de confiança entre o usuário e ela. O sistema precisa efetivamente se esforçar para trazer as melhores opções. Caso contrário, se tomar muitas decisões erradas, ele tende a ser abandonado pelo usuário.

Essa é uma resposta legítima, e espero que realmente aconteça assim, pois o que vi ali parecia bom demais para ser verdade, apesar da promessa de que estaria disponível no mercado em um horizonte de cinco anos. Mas infelizmente o que vemos hoje nas redes sociais, que nos empurram goela abaixo o que os anunciantes determinam, coloca em xeque a capacidade de as empresas cumprirem essa promessa.

O fato é que a inteligência artificial está totalmente integrada ao nosso cotidiano, e isso só aumentará. Com seu crescente poder de influência sobre nós, os desenvolvedores precisam criar mecanismos para garantir que esses sistemas não abandonem valores inegociáveis, como o direito à vida, à liberdade e o respeito ao próximo, por mais que existam interesses comerciais ou influências nefastas de alguns usuários.

Quanto a nós, os humanos que se beneficiam de todos esses recursos e que têm o poder de calibrá-los para que nos atendam cada vez melhor, precisamos ajustar nossos próprios valores, para que não caiamos nesse mesmo buraco moral.

A inteligência artificial pode ser a máquina perfeita de sedução

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O personagem Theodore, do filme “Ela”, e sua amada Samantha: o sistema do celular que carrega em seu bolso - Foto: divulgação

O personagem Theodore, do filme “Ela”, e sua amada Samantha: o sistema do celular que carrega em seu bolso

Você se apaixonaria por uma máquina? É uma pergunta séria! Portanto, antes de mandar um sonoro “não” como resposta, deixe-me fazer outras indagações: o que é necessário para se apaixonar por alguém (ou por algo), e quanto a inteligência artificial já pode influenciar nisso?

Acha tudo isso maluquice? Pois saiba que estamos bem próximos de isso se tornar realidade! E pode ter impactos incríveis em sua vida pessoal e profissional.

O tema já foi amplamente explorado pela ficção, em filmes e livros. Um dos melhores exemplos é o filme “Ela” (“Her”, 2013), em que o protagonista Theodore (Joaquin Phoenix) se apaixona pelo sistema operacional inteligente de seu computador e de seu celular (chamado de Samantha), personificado pela voz de Scarlett Johansson.


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O filme é construído com grande sensibilidade por Spike Jonze. Mas, apesar de Theodore estar passando por uma fase depressiva, o que o faz se apaixonar por Samantha não é sua carência. O que o conquista é o fato de que o sistema sabe tudo sobre ele, pois tem acesso a todo tipo de banco de dados sobre o sujeito. Mais que isso: os dois sempre conversan, e Samantha aprende continuamente do que ele gosta. Resultado: ela sempre oferece o que ele precisa, mesmo coisas inesperadas.

Trazendo para nossa realidade, qual foi a última vez que você foi seduzido por um sistema?

 

O vendedor perfeito

Não, não me refiro no sentido romântico ou sexual, mas, por exemplo, para comprar algo. Afinal, uma boa venda também é uma forma de sedução. E, se até então isso era privilégio dos bons vendedores, cada vez mais a tecnologia ocupa esse espaço, seja por sistemas de autoatendimento no e-commerce, seja como suporte para vendedores humanos.

Quem trabalha com CRM, sabe que os quatro pilares para conseguir uma boa venda combinam a oferta certa, para o cliente certo, no momento certo e no canal certo. Se qualquer um deles não for atendido, a venda ainda pode acontecer, mas será mais difícil. Por outro lado, se os quatro estiverem presentes, é quase certo que o consumidor fará a compra.

Os departamentos de marketing e comerciais sempre trabalharam duro para isso. Mas essa tarefa está cada vez mais complexa, porque nós, os consumidores, também estamos sendo modificados pela tecnologia, que nos dá um incrível poder de escolha e acesso ubíquo a informações e serviços. Em um fenômeno que está sendo chamado de “pós-consumidor”, queremos tudo do nosso jeito, na nossa hora, de um jeito fácil e, ainda por cima, barato.

A melhor (e possivelmente em um futuro próximo, será a única) maneira de se manter nesse jogo é usando a tecnologia para compreender esse consumidor. A exemplo do que Samantha fez com Theodore, tecnologias como machine learning, Internet das Coisas, big data, análises preditivas e linguagem natural já permitem que empresas conheçam, de maneira cada vez mais profunda, seus consumidores, para atender, com incrível precisão, os pilares do CRM acima.

Esse, aliás, foi o tema da minha apresentação no “Colóquio de Inteligência Artificial e Redes Sociais”, realizado no dia 13 de dezembro pelo grupo de pesquisa Sociotramas, do qual faço parte na PUC-SP. Se quiser assistir à minha fala de 15 minutos, ela está no ponto no vídeo abaixo (aproveite para ver também toda a íntegra do evento: discussões de alto nível).


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Discutimos, inclusive, alguns exemplos, como as “vitrines inteligentes” da SAP. Com esse sistema, câmeras captam a imagem de uma pessoa que estiver diante da vitrine de uma loja, tentando identificar algumas informações suas essenciais para a venda, como sexo, faixa etária, como se veste e até mesmo o humor do indivíduo. Toda essa informação é cruzada com diversas bases de informações, sejam estatísticas, vindas de big data, ou do próprio indivíduo, para sugerir a melhor oferta para ele.

Falei também da tecnologia de “remessa antecipada” da Amazon, em que a gigante do varejo tenta “adivinhar” o que um consumidor quer. O objetivo é ter o item no centro de distribuição mais próximo dele antes mesmo de o pedido ser feito, para que possa ganhar da concorrência no prazo de entrega.

Se a coisa for bem-feita, é um cenário em que todos ganham. Afinal, o consumidor receberá uma boa oferta de algo que quer, na hora que busca aquilo. Portanto, suas necessidades estarão sendo bem atendidas. Do lado do varejo, ao prestar esse ótimo atendimento, suas vendas tendem a crescer. Mais que isso: há uma boa chance de aquele consumidor ser ainda fidelizado.

Mas fica sempre a dúvida: as empresas não podem passar dos limites e invadir a nossa privacidade além do razoável –e permitido? Na verdade, no colóquio acima, foi perguntado para mim quem nos protege disso.

Quais são os riscos a que estamos expostos nessa história?

A privacidade morreu?

É claro que existem limites éticos e morais nisso tudo. Aliás, nesse ano foi sancionada a Lei Geral de Proteção de Dados , que trata do assunto.

Mas precisamos ter clara uma coisa: a privacidade como conhecíamos até havia bem pouco tempo, já não existe mais. Como disse no colóquio a minha orientadora Lúcia Santaella, a partir do momento em que tornamos públicas (e, na maioria das vezes, de maneira irrestrita) nossas informações pessoais, fica difícil querer exigir garantias de privacidade.

O que existem são boas práticas, tanto para empresas quanto para nós, consumidores. Para elas, a primeira recomendação é usar os dados das pessoas apenas para os fins concedidos. Ou seja, se o usuário lhe entregou dados para ganhar descontos nas farmácias, isso não deve ser usado para definir o preço de planos de saúde (ou ainda vender um carro!). Da mesma forma, esses dados não devem ser compartilhados com terceiros. Por fim, as empresas não devem enganar o usuário para coletar dados, como acontece muito nesses infames joguinhos no Facebook, que roubam um monte de nossas informações para, por exemplo, dizer apenas com qual celebridade nos parecemos.

Quanto a nós, o que precisamos fazer é aceitar que esse é o jogo atual. Somos continuamente rastreados, das mais diferentes formas, e não há como escapar disso. Mas precisamos ter, pelo menos, consciência de que isso está acontecendo, para não entregarmos alegremente tudo o que somos a qualquer um. Da mesma forma, considerando que estamos nessa “para valer”, aprendamos a aproveitar todos esses recursos para conseguirmos o que buscamos, com as melhores vantagens disponíveis.

Não vamos nos apaixonar pelo e-commerce, mas, se todos fizerem bem a sua parte, realmente é um cenário em que todos podem ganhar. No final, nossa vida fica melhor.

Só não estamos ainda na pele de Theodore.

Ainda.


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A inteligência artificial só roubará o seu emprego se você deixar

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“Harry Potter”: fãs traduziram livro em apenas 45 horas há 13 anos; hoje isso poderia ser feito instantaneamente por um software - Foto: divulgação

“Harry Potter”: fãs traduziram livro em apenas 45 horas há 13 anos; hoje isso poderia ser feito instantaneamente por um software

Em julho de 2005, milhares de fãs usaram a Internet para traduzir para o alemão as mais de 600 páginas do livro “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” em apenas 45 horas e 22 minutos após o lançamento do original em inglês. Isso enfureceu a Carlsen, detentora dos direitos dos livros do bruxinho na Alemanha, que precisou de três meses para fazer a mesma coisa para a edição oficial. Hoje, 13 anos depois, a mesma tradução talvez fosse feita quase instantaneamente e sem cansar nenhum fã: um sistema com recursos de “machine learning” se encarregaria da tarefa.

Quer dizer que o trabalho dos tradutores está com os dias contados? E o seu trabalho –qualquer que seja– também está ameaçado pela inteligência artificial?

Calma: não precisa entrar em pânico! Mas não dá para ficar deitado em berço esplêndido.


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O fato é que, em uma janela de três anos, diversas tecnologias emergentes ganharam o mercado em velocidade galopante. Estão incrivelmente poderosas (especialmente quando combinadas) e muito acessíveis. “Machine learning”, “Internet das Coisas”, “big data”, “análises preditivas” saíram dos laboratórios e dos roteiros de ficção científica, graças a enormes avanços nos equipamentos e no software.

Há ainda outro fator absolutamente determinante nessa mudança que vivemos: o público. Graças ao crescente poder de escolha e ao acesso ubíquo à informação, viabilizado pelos smartphones e pelas redes sociais, todos nós estamos nos tornando mais exigentes e, de certa forma, mais ansiosos. Assim queremos que produtos e serviços sejam, cada vez mais, personalizados para nossas necessidades particulares, oferecidos do nosso jeito e no nosso tempo.

Como lidar com esse nível de demanda inédito? Valendo-se justamente das tecnologias acima. Isso nos leva à questão que dá títulos esse artigo: como se manter relevante no mercado profissional, se a tecnologia se faz cada vez mais necessária para as empresas atenderem as novas demandas do público?

Durma com um barulho desse!

 

Substituindo o que uma pessoa pode fazer

Uma verdade é inevitável: o que puder ser automatizado será.

É por isso que algumas profissões correm mais risco que outras: quanto mais mecanizadas e repetitivas as tarefas do profissional, mais delicada é a sua situação em um futuro próximo. É o caso, por exemplo, dos motoristas.

Carros autônomos já vêm sendo desenvolvidos e testados há anos por gigantes como Google e Uber, além da própria indústria automobilística. A tecnologia já está madura e a expectativa é que eles se tornem um produto comercial em apenas cinco anos. O fato é que a tarefa de dirigir, por si só, é bastante automatizável. Com o avanço da capacidade de processamento, do software e dos sensores embarcados nesses veículos, eles acabam ficando mais seguros que um carro dirigido por uma pessoa.

Isso não quer dizer que eles sejam a prova de acidentes. Em março desse ano, um carro autônomo do Uber em testes matou uma mulher nos EUA. Assistindo às imagens do acidente, nota-se que a vítima atravessou em um local escuro e que provavelmente também teria sido atropelada por um motorista. Mas também é verdade que o carro aparentemente não tentou frear nos dois segundos anteriores ao choque, quando a vítima ficou finalmente visível.

A culpa é do carro? Mais que isso: dá para imputar culpa a um carro?

Apesar dessa fatalidade e de uns pouco acidentes, todas as estatísticas demonstram que os carros autônomos são incrivelmente mais seguros que os dirigidos por pessoas. Além disso, a possibilidade de o carro nos levar aonde quisermos, enquanto nos dedicamos a outras tarefas no trajeto, é tentador, especialmente em cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro, em que as pessoas perdem muitas horas todas as semanas dirigindo no trajeto de casa ao trabalho.

A inteligência artificial também brilha em atividades mais analíticas, como na avaliação de riscos. É o caso de documentos jurídicos, que já estão sendo automatizados, inclusive no Brasil. Por exemplo, a Urbano Vitalino Advogados, de Recife, contratou o IBM Watson para tarefas repetitivas do escritório a fim de concluir processos com mais eficiência e com maior índice de vitória. Já o banco JPMorgan está usando o sistema COIN (Contract Intelligence) para analisar acordos de empréstimos, que antes sobrecarregavam batalhões de seus advogados.

 

Vamos conversar?

As tecnologias emergentes também estão popularizando outro recurso que, até havia bem pouco tempo, era ficção científica: a linguagem natural, ou seja, a possibilidade de dar comandos e receber respostas como se estivéssemos conversando com uma pessoa.

No ano passado, um homem foi preso no Novo México (EUA) por bater em sua namorada e ameaçar matá-la. O crime só foi descoberto porque o Alexa, um equipamento da Amazon que fica sobre a mesa aguardando comando para tarefas simples, ligou para a polícia durante a agressão. Os policiais ouviram o que estava acontecendo e foram até o local, prendendo o homem.

Acha que estou exagerando? Faça um teste agora mesmo. Fale ao assistente do Google em seu celular o seguinte: “quando é o próximo jogo do Timão”. O sistema entenderá que “jogo” se refere a uma partida de futebol e “Timão” se refere ao Corinthians. E lhe dará a resposta correta, também por voz.

Ah, você é palmeirense? Tudo bem: pergunte ao Google “quando é o próximo jogo do Campeão do Século” e se surpreenda.

Mas a tecnologia de linguagem natural já pode fazer muito mais! Veja o exemplo no vídeo abaixo, do Google Duplex, apresentado em maio na conferência Google I/O, em que o sistema liga para estabelecimentos comerciais e conversa com atendentes humanos para realizar agendamentos. E o outro lado não percebe que está falando com um sistema impulsionado por “machine learning”:


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Ironicamente (e espantosamente), na segunda conversa, o sistema demonstrou mais habilidade na fala que a pessoa com quem estava interagindo!

 

Entregando o que uma pessoa não pode fazer

No começo de junho, estive no Sapphire Now, o maior evento mundial da gigante de software SAP, nos EUA. E lá vi soluções baseadas em inteligência artificial surpreendentes e que estão à disposição de empresas, mesmo pequenas.

Um deles estava em um estande que simulava uma loja de produtos esportivos. Se qualquer pessoa pegasse um tênis ou uma mochila das prateleiras, a loja identificava o produto e mostrava informações sobre ele em uma tela ao lado. Vale dizer que não havia qualquer sensor na mercadoria: a loja estava efetivamente “vendo” o produto na mão do cliente.

Mas a mágica realmente acontecia se a loja também fosse capaz de identificar o cliente, por reconhecimento facial. Nesse caso, a partir de informações de compras anteriores ou até mesmo coletadas do “big data”, a loja poderia inferir se aquele produto era o ideal para aquela pessoa, e, caso contrário, sugerir outro item da loja.

Na conferência, também vi Michael Voegele, CIO da Adidas, demonstrando como a empresa está tomando decisões sobre suas novas coleções a partir de tendências identificadas por “machine learning” em milhares de fotografias de diferentes partes do mundo. O sistema deduz quais as cores, que tipo de roupas, entre outras informações, as pessoas estão preferindo em cada cidade que lhes interessa. Ou seja, a máquina faz a leitura e a análise massiva das informações de maneira totalmente automatizada, em velocidade e volume que pessoas jamais conseguiriam. E com resultados mais eficientes.

Na área da saúde, uma solução da SAP com a gigante farmacêutica Roche monitora continuamente informações médicas, como o nível de glicose, de pessoas diabéticas ou com risco de desenvolver a doença. Esses indicadores são coletados por um “wearable” e transmitidos ao sistema central pelo smartphone do paciente. Isso oferece às equipes médicas análises qualitativas sobre a doença e sobre as populações atendidas, permitindo a criação de programas de saúde mais assertivos. Mas talvez o ganho mais incrível seja o sistema identificar alterações nos indicadores de cada indivíduo para que seus médicos sejam avisados a tempo de agir contra uma eventual crise. O controle da doença fica muito mais eficiente em cada indivíduo e pode até mesmo evitar seu surgimento em quem ainda não a desenvolveu.

 

Quando todos ganham

Tradutores, motoristas, advogados, secretários, vendedores, pesquisadores de mercado, médicos… Todos eles e todos nós, não importa qual seja nossa profissão, já estamos sendo impactados pela tecnologia digital e a inteligência artificial em maior ou menor escala. E a coisa só tende a aumentar! Mas longe de isso ser algo que vai nos tirar o emprego, pode ser uma tremenda oportunidade. Mas temos que sair da nossa zona de conforto.

É… A mudança dói, mas traz evolução.

A tecnologia impacta decisivamente o mundo do trabalho pelo menos desde a Revolução Industrial. Todos nós estudamos como ela provocou, em um primeiro momento, graves problemas sociais, com categorias profissionais inteiras sendo extintas e exploração abusiva de mão de obra. Mas, apesar disso, alguém ousaria dizer que a Revolução Industrial não trouxe avanços inestimáveis para a humanidade?

Voltando à nossa realidade cada vez mais inundada de inteligência artificial, esses sistemas, muito mais que ameaças, são incríveis ferramentas para melhorar o trabalho. Até mesmo em funções que devem ser inteiramente automatizadas, como a dos motoristas, isso pode provocar o surgimento de outras atividades, como a de uma espécie de “comissário de bordo” para melhorar ainda mais a experiência do cliente em um táxi autônomo.

Além disso, a automação de tarefas repetitivas ou a possibilidade de oferecer subsídios inimagináveis de outra forma, para que profissionais realizem bem seus trabalhos, abre possibilidades para que se dediquem a atividades mais nobres e interessantes.

Para profissionais e empresas que estiverem dispostos a usar criativamente tudo isso que a tecnologia já nos oferece, vejo um belo caminho adiante, em que poderão entregar produtos mais adequados às necessidades individuais de cada consumidor superexigente, com um custo de produção menor e resultados mais satisfatórios para todos.

Aqueles que insistirem em fazer as coisas do jeito antigo, receio que –esses sim– serão substituídos pelas máquinas. Como luditas do século 21, perderão seu espaço, não para a tecnologia, mas para sua própria falta de visão.

Em qual grupo você ficará?


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Como viver bem -e não se tornar vítima- quando todos sabem nossos dados

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A animação “Os Jetsons”, de 1962: apesar de seus carros voadores, nossa realidade superou largamente a ficção no uso inteligente de dados - Foto: divulgação

A animação “Os Jetsons”, de 1962: apesar de seus carros voadores, nossa realidade superou largamente a ficção no uso inteligente de dados

Não olhe agora, mas tem uma multidão de olho nas suas informações! E provavelmente você nem sabia disso…

Calma! Isso pode parecer assustador em um primeiro momento. Essa é a realidade em que vivemos, e a coisa só vai aumentar nesse sentido. Entretanto, longe de ser um futuro aterrorizante, isso pode trazer benefícios incríveis a todos: pessoas e empresas. Mas precisamos conhecer e entender esse movimento, para nos apropriarmos de todos esses recursos a nosso favor.

Vi uma excelente mostra disso há alguns dias, quando participei do Sapphire Now, o maior evento mundial da gigante alemã de software SAP, que aconteceu em Orlando (EUA). Estive lá a convite da empresa, e pude ver, com um olhar crítico, o que companhias de todo mundo já têm à disposição para melhorar a experiência de seus consumidores.


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Como disse no vídeo acima, gravado ao final do evento, a palavra que, para mim, resume tudo o que vi lá é “dados”. Pois eles estão em todo lugar, sendo produzidos por uma automação crescente e sendo usados de maneiras cada vez mais criativas por empresas, organizações, governos e nós mesmos.

Hoje tudo produz informação que pode ser usada para os mais diferentes fins: empresas, objetos e pessoas. Ficou muito claro também que qualquer ação, mesmo aparentemente sem nenhum vínculo a sistemas informatizados, também pode gerar informação que será usada por algum programa. Mais que isso: geramos e compartilhamos dados até mesmo sem executar qualquer ação aparente.

Como? Aplicativos como o WhatsApp, que rodam o tempo todo em nossos smartphones, identificam continuamente onde estamos. Combinando com a mesma informação de outras pessoas a nossa volta, é possível inferir se há algum relacionamento entre esses indivíduos e até mesmo qual é o seu tipo. Por exemplo, se um grupo de pessoas está sempre junto (pois seus celulares estão sempre juntos) em horário comercial em uma localização que é uma empresa, é razoável supor que elas trabalhem juntas.

E veja que nenhuma ação foi tomada por qualquer uma delas. A menos que o simples fato de estar em um lugar já possa ser considerado uma ação.

Por mais passiva que isso seja.

 

O consumidor no centro

A questão, portanto, não é como se obtém os dados, e sim o que se faz com eles depois. E isso abre questões éticas importantes. Se as empresas têm acesso a tanta informação nossa, é bom que elas não abusem desse poder imenso em suas mãos. Se jogarem limpo, essa é uma troca justa.

Tanto é assim que um dos slogans da SAP no seu megaevento era algo como “tornar o mundo melhor ajudando empresas a entregar melhor”. Não por acaso um de seus principais lançamentos foi a plataforma de experiência do usuário C/4HANA, que permite às empresas tomar decisões muito mais assertivas para oferecer produtos e atendimento adequados às necessidades específicas de cada indivíduo.

Sim, nesse novo mundo inundado de informações, cada consumidor pode esperar que suas necessidades individuais sejam cada vez mais atendidas. E isso é incrível!

Até bem pouco tempo atrás, isso seria ficção científica. Na verdade, é interessante observar que obras de ficção com grande carga de futurologia, como “Star Trek” ou “Os Jetsons”, nunca previram uma sociedade onde tudo e todos estivessem conectados permanentemente, em uma relação quase simbiótica entre pessoas, empresas, organizações e governos.

Entretanto, graças a tecnologias como machine learning (inteligência artificial), big data, análise preditiva, cloud computing, combinadas a uma capacidade brutal de processamento, hoje tudo isso é perfeitamente possível!

Vi uma demonstração de um varejo de produtos esportivos, com prateleiras com tênis e bolsas ao lado de uma TV exibindo informações da loja. Quando um cliente pegava um dos produtos, a loja identificava qual era e mostrava informações sobre o item na tela, para que o cliente tomasse uma decisão de compra melhor para si. Não havia qualquer sensor no produto: a loja “enxergava” o item e o identificava. Da mesma forma, a loja também pode “enxergar” o cliente para sua identificação e, caso já tenha alguma informação sobre ele, pode combinar os dados da pessoa com os do produto, para certificar-se que ele atende às necessidades daquele cliente. Essa ação também pode servir para que vendedores fechem vendas melhores, pois podem automaticamente receber informação adicional em tablets, seja do produto, seja do cliente.

Esse tipo de loja inteligente também pode ajudar a manter as prateleiras organizadas: se o cliente devolver o produto fora do lugar, um vendedor pode ser avisado para que arrume a bagunça. Também serve como um sofisticado sistema de inventário, pois o produto não deixa de estar disponível para outro cliente apenas quando o pagamento é feito, e sim quando é retirado da gôndola, o que faz bastante sentido. O Boticário esteve presente no Sapphire Now demonstrando uma solução nessa linha.

E a única coisa que foi feita foi tirar o tênis da prateleira.

 

Negócios inteligentes

As informações de cada indivíduo também podem ser usadas para tomar grandes decisões, que podem afetar a operação de uma multinacional ou de toda a comunidade.

Foi o que mostrou, por exemplo, Michael Voegele, CIO da Adidas. Segundo ele, para a empresa tomar decisões que serão usadas para criar novas coleções de material esportivo, a empresa hoje se vale de milhares de fotografias de diferentes partes do mundo para tentar identificar, por meio de machine learning, quais as cores, que tipo de roupas, entre outras informações, as pessoas estão preferindo em cada cidade que lhes interessa. Ou seja, a máquina faz a leitura e a análise massiva das informações de maneira totalmente automatizada, em velocidade e volume que pessoas jamais conseguiriam. E com resultados mais eficientes.


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Esse, aliás, é um dos pilares de outro conceito bastante destacado no Sapphire Now, o “intelligent enterprise” (ou “negócio inteligente”). De acordo com esse conceito, as empresas já podem obter grandes vantagens competitivas ao entregar às tecnologias acima tarefas que possam ser automatizadas. Em outras palavras, a combinação de inteligência artificial e análise preditiva de quantidades gigantescas de dados obtidos continuamente das fontes mais diversas permite que as empresas tenham ideias que jamais teriam de outra forma, ou tomem decisões muito mais assertivas e rápidas. Sem falar que, apesar de tanto poder, os sistemas ficam cada vez mais fáceis de se usar, aceitando até comandos de voz em linguagem natural.

Nessa hora, outro medo que surge é a substituição de profissionais por robôs. Essa é uma preocupação legítima: afinal as máquinas conseguem realizar tais tarefas muito mais eficientemente. Então gostaria de mencionar outro termo que ouvi bastante lá: a “humanidade aumentada”.

Esses sistemas não vieram para substituir profissionais, e sim para tornar suas tarefas mais eficientes. Em outras palavras, as máquinas cuidam de tarefas rotineiras, repetitivas e que exijam grande volume de análise, liberando os profissionais para tarefas mais nobres. Além disso, as análises que os sistemas oferecem em tempo real podem ajudar as pessoas a executar tarefas que exijam o melhor de seu lado humano.

Evidentemente que isso exige profissionais cada vez mais capacitados, e empresas cada vez mais inovadoras. Por isso, por mais chocante que isso possa parecer para alguns, é importante que fique claro que a tecnologia nunca eliminou empregos. Quem elimina postos de trabalho e fecha empresas é seu próprio consumidor, quando encontra alternativas mais interessantes. E tais alternativas vêm sempre de empresas que verdadeiramente abraçam a inovação tecnológica e privilegiam profissionais de alto nível.

Não adiante espezinhar nem querer tapar o sol com a peneira: o novo sempre chega. Sim, e muitas vezes, isso significa ter que deixar a nossa zona de conforto e abandonar modelos de negócios e métodos de produção que funcionaram bem por décadas.  Ficar agarrado a eles implica em ser passado para trás por concorrentes capazes de abraçar a mudança.

Do lado do consumidor, cada um de nós também precisamos aceitar que essas mudanças estão aí. Não devemos temê-las, mas devemos estar conscientes do que está acontecendo, inclusive para exigirmos de empresas, organizações e governos um uso ético e claro dos dados que lhes fornecemos continuamente.

Se todos fizerem a sua parte, o futuro certamente será melhor que o de “Os Jetsons”.


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Garanta seu trabalho transformando sua humanidade em um “produto”

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O personagem Theodore (Joaquin Phoenix) do filme "Ela" (2013): é possível se apaixonar por uma máquina e ser correspondido? - Foto: divulgação

O personagem Theodore (Joaquin Phoenix) do filme “Ela” (2013): é possível se apaixonar por uma máquina e ser correspondido?

Nos últimos dias, participei de animadas discussões com profissionais de diversas áreas sobre o futuro do trabalho. Inevitavelmente tocamos no ponto mais sombrio desse tema, que é a extinção de profissões inteiras, potencialmente criando hordas de desempregados. Não compartilho de visões apocalípticas de que as máquinas ficarão com todo o trabalho e as pessoas morrerão de fome. Mas é um fato que muitos ofícios acabarão mesmo, ou pelo menos serão fortemente transformados. Talvez isso já esteja acontecendo no seu segmento. Daí vem a pergunta que não quer calar: o que você está fazendo para se proteger dessa onda?

Naturalmente algumas profissões estão mais em risco que outras. A má notícia é que ninguém está totalmente a salvo.  A BBC criou um infográfico interativo a partir de uma pesquisa da Universidade de Oxford, que, já em 2013, avaliou os riscos de automação de 365 profissões nos próximos 20 anos. Apesar de usar dados do Reino Unido, as conclusões podem ser facilmente extrapoladas para profissionais de todo o mundo. Mais cedo ou mais tarde, a automação impactará todos, mas a pesquisa de Oxford demonstrou que, para algumas profissões, isso já acontece e de uma maneira determinante, forçando categorias inteiras de profissionais a se reinventar.


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Segundo os pesquisadores, as profissões que estão mais em risco são operadores de telemarketing, digitadores, assistentes jurídicos, gerentes financeiros e profissionais de estoque. Já entre as profissões menos ameaçadas estão profissionais de hotelaria, educadores, fonoaudiólogos, profissionais de serviço social e psicólogos.

Analisando a lista completa, surge afinal uma boa notícia!

O que se observa é que os ofícios com um alvo bem no meio da testa executam muitas tarefas repetitivas e que podem ser antecipadas e, portanto, facilmente automatizadas. Por outro lado, o pessoal que pode relaxar um pouco mais caracteriza-se pelo forte uso de relacionamento interpessoal nas suas funções.

Portanto, ser cada vez mais humano é um caminho interessante para não ser substituído por uma máquina.

 

Máquinas humanizadas

Nessas horas, é muito comum ver profissionais se recusando a acreditar que eles podem ser os próximos a ser passados para trás pelas máquinas. Entretanto, fechar os olhos para o problema é a pior coisa a se fazer, pois ele continuará existindo, mesmo que nos recusemos a olha para ele.

Entre os argumentos usados por essa turma para se defender, estão decisões que as máquinas não são capazes de tomar, justamente por lhes faltar “humanidade”. De certa forma, isso está de acordo com as conclusões da pesquisa de Oxford citada acima. Mas não se pode abraçar isso como uma tábua de salvação garantida, pois as máquinas também avançam em tarefas em que se acreditava ser necessário um ser humano para sua realização.

Por exemplo, quem se lembra das partidas de xadrez entre o então campeão mundial Garry Kasparov e o supercomputador da IBM Deep Blue? No primeiro match, realizado em 1996 Kasparov venceu a máquina por 4 a 2. Na revanche, em 1997, com o Deep Blue reprogramado, a máquina venceu o confronto por 3 ½ a 2 ½, fazendo com que Kasparov acusasse a IBM de trapaça, graças a um movimento inusitado do computador na primeira partida do match.

Isso aconteceu há 20 anos!

As máquinas também vêm demonstrando incrível capacidade de compreensão de texto, uma atividade tradicionalmente associada a características humanas. Em janeiro, dois sistemas independentes, um da Microsoft e outro da gigante de e-commerce chinês Alibaba, empataram em primeiro lugar no SQuAD, um sofisticado teste de compreensão de texto da Universidade de Stanford (EUA). O placar do sistema da Microsoft foi de 82,65, enquanto o chinês foi de 82,44. O placar humano foi de 82,30

Além de ler, as máquinas também são capazes de escrever textos. Vários sistemas de “jornalistas robôs” já produzem noticiário a partir de dados que eles coletam de fontes confiáveis, e estão abastecendo redações importantes no mundo todo, inclusive de veículos de comunicação tradicionais, como o francês Le Monde.

Até mesmo materiais jurídicos já estão sendo produzidos por robôs, inclusive no Brasil. A Urbano Vitalino Advogados, de Recife, contratou o IBM Watson (descendente atual do Deep Blue) para realizar as tarefas repetitivas do escritório a fim de concluir processos com mais eficiência e também com um maior índice de vitória. Já no banco JPMorgan, um robô  chamado COIN (Contract Intelligence) analisa acordos de empréstimos, que antes sobrecarregavam equipes jurídicas inteiras.

Ainda assim, todos esses são exemplos da combinação de sistemas cada vez mais incríveis de inteligência artificial com uma capacidade de processamento obscena. Mas as máquinas ainda não conseguem demonstrar emoções.

Ou conseguem?

 

Apaixonado pelo computador

A ficção explora há décadas a ideia de que chegará o dia em que humanos se relacionarão com máquinas, até mesmo amorosamente. Em 2013, o diretor de cinema Spike Jonze criou uma incrível história a partir disso: “Ela” (“Her”), protagonizado por Joaquin Phoenix e pela voz de Scarlett Johansson. Sim, a voz, pois ela dá vida ao sistema operacional do computador do personagem Theodore (Phoenix). Com o desenrolar da história, ele acaba se apaixonando pelo sistema, que parecia ser a mulher perfeita, exceto pelo fato óbvio de que era uma máquina. Mas talvez o mais incrível é ver o sistema também se apaixonar pelo humano.

“Ela” é uma obra-prima porque nos leva a questionar o que é necessário para se apaixonar por alguém (ou algo). Samantha, a assistente pessoal que personifica o sistema, sabe tudo sobre Theodore (afinal, é um computador com acesso irrestrito a seus dados), é inteligente e demonstra uma sensibilidade que as mulheres verdadeiras aparentemente não têm na história.

Como não se apaixonar?

Mas Samantha não tinha um corpo. E, no final das contas, continuava não sendo humana. Por mais que sistemas de todo tipo tornem nossas vidas cada vez mais fáceis, produtivas e até divertidas, o contato humano tem um incrível valor.

Por isso, é uma pena ver como muitas pessoas acabam se comportando como máquinas, abafando sua humanidade em favor de uma suposta “produtividade”, achatados pela nossa vida moderna. Exemplos clássicos desses profissionais: atendentes de telemarketing e de fast food. Não por acaso esse pessoal está na lista do estudo de Oxford para ser substituído pelas máquinas primeiro.

Mas não tem que ser assim!

 

“Fritas para acompanhar?”

Lembro-me de uma experiência pessoal que tive em 1999, em uma Wendy’s nos EUA, mais uma cadeia de fast food inspirada no modelo do McDonald’s. Mas o atendimento foi tão incrível, que me lembro dele depois de quase duas décadas!

O motivo? O atendente demonstrou uma incrível humanidade em uma tarefa em que estamos acostumados a profissionais robotizados.

O atendente já era um senhor de uns 70 anos de idade, que fazia parte de uma iniciativa da Wendy’s de contratar pessoas mais experientes. E eles estavam absolutamente certos! Como o sanduíche acabou demorando um pouco para sair, fui comendo as batatas fritas que já estavam na bandeja, enquanto tinha uma agradável conversa com aquele senhor. Quando o sanduíche finalmente ficou pronto, lembro-me claramente de ele me dizer: “vou trocar suas batatas, pois elas já podem ter esfriado um pouco”.

É uma “bobagem”? Talvez. Mas foi o melhor atendimento que tive em um fast food na vida! Tanto que eu voltei outras vezes àquela lanchonete na mesma viagem. O fator humano foi absolutamente determinante! E ele apareceu em uma atividade cujo diálogo entre o consumidor e o atendente não costuma ir muito além de “fritas para acompanhar”.

Como diz o ditado, “em terra de cego, quem tem um olho é rei”. No nosso caso, em uma sociedade cada vez mais automatizada –e que nos traz muitos benefícios, não nego– os profissionais precisam aprender que sua humanidade tem valor. Temos que resistir aos scripts escravizadores, à pressão insensível por resultados e à indiferença de colegas de trabalho e até mesmo dos clientes.

Se sucumbirmos a essas tentações, caímos em uma vala comum de profissionais indiferenciados, pedindo para serem substituídos por robôs que realizarão nossas funções de maneira igualmente fria, porém muito mais eficientemente.

Um atendimento humanizado não se trata, portanto, de uma visão saudosista de um passado que jamais voltará, nem de um movimento de resistência a máquinas “malvadas”. É a percepção de que isso pode ser um incrível diferencial para qualquer um. Muitas pessoas pagam e continuarão pagando por isso!

A humanidade tem valor! Portanto, não importa qual seja a sua profissão, comece a pensar em como pode realizá-la de maneira cada vez mais eficiente, claro, mas sem jamais esquecer que você não é uma máquina.


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Foto: Ronald Douglas Frazier / Creative Commons

Você sabe o que é “previsibilidade”? É um dos maiores benefícios que a tecnologia pode oferecer ao agronegócio. Ela permite que o produtor consiga antecipar, com boa margem de precisão, a incrível quantidade de variáveis envolvidas no seu cotidiano. Como resultado, consegue produzir mais, melhor e gastando menos, engordando sua margem feito boi. “Mas no que isso me interessa”, você pode estar se perguntando.

Acontece que a previsibilidade é algo que interessa a qualquer negócio, de qualquer porte ou segmento. Cada vez mais, os desenvolvimentos tecnológicos do campo, da indústria e do setor de serviços conversam entre si. E o que se aprende em um se aplica no outro. Portanto, temos que aprender com os nossos amigos do setor Primário. Além disso, para um rapaz conectado da cidade (como eu), descobrir como a tecnologia está revolucionando o agribusiness é incrível e até surpreendente!


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Para começar, se você acha que negócios no campo ainda são só aquelas coisas empíricas, com tratorzinhos, boi solto no pasto sem controle, plantio feito com enxada e o lavrador olhando para o céu, está na hora de repensar seus conceitos. Tratores imensos e automatizados fazem praticamente o trabalho sozinhos, depositando os insumos na quantidade e no lugar certo, sem falhas, com base em informações coletadas por satélites, drones e todo tipo de sensores. Essas informações são combinadas com diferentes bancos de dados e até big data. Tudo isso para maximizar a produtividade por hectare e reduzir perdas.

No HSM Expo, que aconteceu há alguns dias, participei de um painel muito interessante no estande “Futuro Fértil”, com diferentes especialistas do agronegócio e da indústria de tecnologia, lado a lado. Tudo que foi falado acima gera uma quantidade imensa de informação em tempo real, extremamente valiosa para o produtor. O grande desafio apresentado ali foi: como integrar toda essa informação, que vem de fontes desconexas, de fabricantes diferentes, de naturezas distintas, em um sistema capaz de extrair inteligência para o negócio?

Na hora pensei: “mas isso acontece em todo lugar!”

 

Um bando de dados

O problema que o agronegócio –e a maioria das empresas de qualquer segmento que coleta informações de diferentes fontes– enfrenta é justamente transformar esse “bando de dados” em um banco de dados.

Um erro que muitas empresas cometem é sair investindo em tecnologia sem saber exatamente onde querem chegar com aquilo. Tecnologia por si só não resolve nada! Produzem esse monte de dados, que podem ser muito interessantes individualmente, mas eles não falam entre si. “E, se isso não é feito de maneira estruturada e organizada, você tem um aglomerado de dados completamente desconexos, o que não permite que você os correlacione”, explica Luis Cesar Verdi, Chief Customer Officer da SAP América Latina e um dos participante do painel. “É da correlação que você consegue tirar muito valor.”

Quando o produtor rural consegue fazer essa integração com sucesso, ele aumenta a produção. E não porque se aumenta a área plantada, mas porque se produz mais no mesmo espaço. Um exemplo que achei muito interessante é que, graças a isso, os produtores não precisam mais pulverizar herbicidas em toda a plantação: hoje fazem isso em menos de 5% da área, exatamente e apenas onde estão as ervas daninhas. Como resultado, tem-se um produto mais barato e mais saudável.

Transpondo isso para outros negócios, podemos inferir que a transformação do “bando de dados” em um “banco de dados” permite ao empresário racionalizar seus meios para criar produtos e serviços melhores. O que é essencial em uma época em que os consumidores têm, a sua disposição, uma oferta crescente de praticamente tudo.

A diferenciação deixa de ser, portanto, uma produção mais complexa (e normalmente cara) para se tornar uma produção mais inteligente e adequada às necessidades de um consumidor mais e mais exigente.

 

Máquinas que executam e que aprendem

Além da automação de tarefas e do uso eficiente das informações, outra estrela digital chegou ao campo: o ”machine learning”. Essa tecnologia permite que os algoritmos sejam capazes de literalmente aprender com os dados disponíveis. Dessa forma, o sistema começa a decidir de maneira autônoma, melhorando o processo por sua própria conta, em áreas que antes apenas seres humanos conseguiam atuar.

Em um exemplo dado no painel acima, as máquinas foram capazes de realizar escolhas relativas ao crescimento do milho na lavoura a partir de imagens das espigas. Quando entrou o funcionamento, o nível de acerto das decisões era inferior a 50%; apenas três semanas depois, passou de 90%! E o sistema foi melhorando por sua conta, apenas aprendendo quais das suas decisões davam melhores resultados.

Na prática, isso liberar os trabalhadores para realizar tarefas mais nobres, que a máquina (ainda) não consegue fazer. Isso traz para o campo um desafio que já existe nas cidades: qualificar a mão de obra para isso. Não é uma tarefa simples, inclusive porque gera desconfiança nas pessoas, que temem ser substituídas pelas máquinas.

Esse medo é legítimo. Tanto no ambiente rural quanto no urbano, a automação ameaça empregos, especialmente os de menos capacitação. Qualquer tarefa muito repetitiva pode ser facilmente automatizada. E agora isso atinge até mesmo a tomada de decisões, uma seara exclusiva dos humanos até havia bem pouco tempo.

 

O poder da interface

A inteligência artificial também leva ao campo outro benefício cada vez mais comum nos sistemas de negócios urbanos: a integração entre o homem e a máquina está cada vez mais simples. Já não é preciso mais ser um técnico para operar os sistemas, que se relacionam com as pessoas em uma linguagem cada vez mais natural.

Muito da gestão administrativa e de produção hoje pode ser feito pela tela de um celular, um equipamento extremamente difundido, com o qual as pessoas estão acostumadas e que carregam em seu bolso o tempo todo. Diminui-se, assim, a curva de aprendizado e as informações para tomada de decisão ficam disponíveis de maneira simples a qualquer hora e em qualquer lugar.

Isso leva à zona rural um problema velho conhecido dos usuários urbanos: a conectividade ruim. Afinal, no campo, o sinal do celular costuma ser ruim. Mas essa tecnologia se tornou tão essencial ao negócio, que algumas grandes propriedades estão investindo até em torres próprias de comunicação de dados.

Toda essa tecnologia no agribusiness tem provocado um fenômeno social interessante: a reversão do êxodo rural das gerações mais novas. Muitas das famílias proprietárias de fazendas hoje estão na terceira, até mesmo na quarta geração no campo. O que vinha se observando nos últimos anos era a fuga dos mais jovens para as cidades, para estudar carreiras que não tinham nada a ver com o negócio da família, estabelecendo-se no ambiente urbano. Agora, com tanta inovação nas propriedades, muitos deles estão voltando a suas origens.

Como se pode ver, a tecnologia digital aproxima cada vez mais o campo da cidade. Ambos compartilham sistemas, desafios, benefícios e dificuldades. Por isso, o aprendizado de um pode mesmo ajudar o outro.


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Tecnologia em pequenas empresas não é luxo: é sobrevivência (e as grandes que se cuidem!)

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Imagem: reprodução

Existem algumas ideias equivocadas sobre o mundo de tecnologia digital. Talvez a mais comum seja que os investimentos nessa área são um custo para a empresa. Outra é que apenas grandes companhias têm capacidade de investir e também de ter ganhos com isso. As duas vêm de tempos em que era necessário criar grandes estruturas de equipamentos, software e pessoal de TI. Mas isso é passado! A realidade atual é completamente oposta: qualquer empresa, mesmo as pequenas, consegue investir em tecnologia de ponta e tirar grande proveito disso. E tem mais: longe de ser um custo, é uma ferramenta de produtividade crítica!

Não é papo de vendedor. A tecnologia está mais acessível que nunca. Ela permite que jovens empreendedores sonhem e executem modelos de negócios inovadores, que posicionam suas empresas como concorrentes ferrenhos de corporações centenárias. E muitos deles já estão levando a melhor sobre os modelos tradicionais em segmentos como varejo, comunicação, indústria eletrônica, finanças, transporte, hospedagem, educação, saúde, entre tantos outros. Assistimos a empresas-bebês colocando concorrentes-dinossauros para fora do mercado.


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Presenciei isso muito de perto sendo Mentor de Conteúdo do SAP Forum, na terça e na quarta passada. Para se ter uma dimensão desse evento, é o segundo maior da empresa no mundo, perdendo apenas para o Sapphire, que acontece nos EUA. O Forum reuniu mais de 8.000 profissionais, que puderam acompanhar 452 sessões de conteúdo, showcases e workshops. Apesar de tantos números maiúsculos, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a diversidade nos expositores e especialmente no público: muita gente buscando jeitos criativos de usar a tecnologia em seus negócios, mesmo os pequenos.

Tanto é verdade que Cristina Palmaka, presidente da SAP Brasil, destacou o tema na entrevista que me concedeu, transmitida ao vivo do Forum e que pode ser vista acima (10 minutos): “falar de inovação não é mais uma vantagem ou um luxo das grandes companhias.” Para a executiva, muitas pequenas empresas veem a tecnologia como seu diferencial. “Se as empresas não estiverem olhando todo esse arcabouço tecnológico, elas terão um problema sério de existência”, explica.

Isso não é ficção científica: está totalmente integrado ao nosso cotidiano, graças a empresas que foram criadas seguindo o que Palmaka disse. Por exemplo, usou o Uber nos últimos dias? Navegou pelo Facebook? Fez uma busca no Google? Comprou no Mercado Livre? Hospedou-se pelo Airnnb? Assistiu a algo no Netflix? Pagou pelo Nubank? Todas essas empresas hoje são colossais, mas surgiram de usos criativos da tecnologia para atender a necessidades ou ideias geniais de seus criadores, às vezes com investimentos mínimos. Se tivessem tentado fazer as coisas do jeito “tradicional”, sem aproveitar a tecnologia que tinham a sua disposição, provavelmente nunca teriam progredido.

Mas então é só sair usando a tecnologia digital para se dar bem?

 

Não deixe a zona de conforto matar você

Claro que a tecnologia digital por si só não resolve nada! Se fosse assim, teríamos muito mais empresas geniais por aí. Só que isso não acontece.

Tudo porque ela é apenas uma ferramenta. Um martelo –que também é tecnologia– pode ser usado para bater pregos ou quebrar pedras. Mas, na mão de um artista, serve para esculpir mármore e criar uma obre de arte.

O grande desafio, portanto, está na cabeça do empreendedor. “As resistências internas são culturais”, diz a presidente da SAP. E essa turma que prefere ficar na sua zona de conforto, mesmo sabendo que ela está com os dias contados, normalmente credita sua inércia a supostos altos custos e à dificuldade de se adotar novas tecnologias.

Nada mais equivocado! Elas estão muita mais baratas, graças a inovações como a “computação na nuvem”, que dispensa pesados investimentos em aquisição e manutenção de equipamentos. Do lado do software, a compra de caras licenças vem sendo substituída pelo conceito de “software as a service”, ou seja, agora se aluga o sistema, ao invés de comprá-lo. Até mesmo o uso e implantação foi simplificado. Empresas como a própria SAP e seus concorrentes ajudam nessa tarefa, agilizando todo o processo.

“Talvez, para começar pequeno, controlar em uma planilha está ok”, sugere Palmaka. “Mas, a partir do momento em que você sai da centralização das informações em pessoas e começa a crescer, você precisa ter a garantia de que os sistemas vão te dar essa robustez”, afirma.

Mas então o que escolher nesse vasto cardápio tecnológico?

 

Use tudo –e apenas– o que você precisa

Não é porque nova tecnologia está disponível, que temos que adotá-la, seja ela nova ou já estabelecida. O sucesso desses investimentos passa também por conhecer todas as opções e escolher tudo –e apenas– aquilo que pode agregar valor ao nosso negócio.

“Empresas diferentes vão ter ideias diferentes para avançar seus negócios e para inovar”, explica Luis Cesar Verdi, Chief Customer Officer da SAP na América Latina, e responsável na região pelo SAP Leonardo, a estrela desse Forum. Verdi também me concedeu uma entrevista ao vivo no evento, que pode ser vista logo abaixo:


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“Inovação significa fazer coisas diferentes agregando valor ao negócio, agregando valor ao cliente”, explica Verdi. “Pequenas empresas também fazem isso; médias também.”

O próprio Leonardo não pode ser caracterizado como um produto convencional. Ele é um conjunto de tecnologias –big data, machine learning, Internet das coisas, blockchain, sistemas analíticos– que funcionam de maneira integrada, mas que podem ser contratadas individualmente, de acordo com as necessidades de cada cliente.

“O cliente não compra, ele assina esses serviços”, diz o executivo. “E ele vai contratar na medida de sua necessidade: empresas pequenas vão contratar menos; empresas maiores vão contratar mais.”

É interessante notar que a SAP ou qualquer outra empresa não produz toda a tecnologia necessária para qualquer cliente. Por exemplo, os equipamentos necessários para o uso do módulo de Internet das coisas do Leonardo necessariamente vêm de outros fabricantes. E isso é uma das belezas dessa nova forma de investir em tecnologia digital: as empresas, qualquer que seja seu porte, não precisam mais ficar atreladas a um único fornecedor. É possível combinar as soluções mais adequadas para cada necessidade.

“O que chegou é justamente a necessidade de inovar e aproveitar as novas tecnologias para criar novas formas de se comunicar com o cliente, novas formas de agregação de valor, desintermediação e comunicação direta com os consumidores”, explica Verdi.

Você pode estar dizendo para si agora: “ah, mas isso não é para mim. Eu sou pequeno demais para qualquer uma dessas coisas!”

É mesmo? Você é menor que os vendedores ambulantes da areia da praia? Pois muitos deles já carregam terminais 4G para aceitar cartões. E assim não perdem mais vendas porque o cliente está sem dinheiro vivo.

E então, qual será a sua postura com relação a investimentos em tecnologia digital?


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Seus clientes estão lhe gritando o que fazer, mas você está ouvindo?

By | Jornalismo | 6 Comments

Imagem: Pixel Pro Photography South Africa / Creative Commons

Nesses tempos de “farinha pouca, meu pirão primeiro”, a concorrência está sempre em nosso encalço, e mesmo as ideias mais inovadoras parecem já estar sendo feitas para um monte de gente quando chegam ao mercado. Sobrevive quem encontra o caminho meio escondido para se destacar de maneira consistente no mar de mesmice. Isso lhe parece familiar?

Apesar de poucos terem sucesso nessa empreitada, todos nós temos excelentes consultores que nos ajudam nessa tarefa, e eles estão cada vez mais poderosos: nossos clientes. Infelizmente poucos são capazes de tirar proveito de suas dicas, porque não sabem, não conseguem ou simplesmente não querem fazer isso. E, por “ouvir o cliente”, não me refiro a se submeter àquela baboseira fundamentalista de “o cliente sempre tem razão” ou “o cliente é o rei”.


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Claro que o cliente deve ser bem tratado, mas isso não quer dizer que tudo o que ele pede deve ser lei, inclusive porque –infelizmente– muitos abusam dessa prerrogativa para todo tipo de exagero. Ao invés disso, devemos lhe oferecer um serviço cada vez mais personalizado e de alto valor agregado.

A boa notícia é que, graças à tecnologia digital onipresente, está cada vez mais fácil fazer essa entrega, fugindo dos eventuais abusos. Os clientes estão o tempo todo gritando o que devemos fazer, graças à enxurrada de informações que nos oferecem, que podem ser usadas para melhorar o nosso contato com eles, e lhes oferecer os produtos acima. O resultado são empresas faturando mais e clientes mais felizes e mais bem atendidos.

No final, é tudo relacionamento.

 

Use a tecnologia, mas seja humano

A ironia -e a beleza- disso tudo é que, apesar de devermos usar cada vez mais a tecnologia digital –Google, Facebook, aplicativos, entre tantos outros– para obtermos informações dos nossos clientes e estreitarmos nossos laços com eles, isso não quer dizer que podemos nos dar ao luxo de ser frios e impessoais. Na verdade, é exatamente o contrário: temos que tratar pessoas como pessoas, e não como números.

Apesar da aparente contradição, isso acontece porque as informações que os clientes nos fornecem permitem que os conheçamos mais que suas próprias mães! Conseguimos saber do que gostam, o que consomem, como, onde e de que forma compram, como se divertem e se informam, com quem se relacionam. Consegue-se saber onde os usuários estão, como no serviço Location History do Google Maps. Pode-se até traçar o perfil psicológico de alguém usando apenas as suas “curtidas” no Facebook, como no serviço Apply Magic Sauce,do Psychometrics Centre da Universidade de Cambridge (Reino Unido).

Nessas horas, muita gente fica de cabelo em pé, pensando nos riscos à privacidade do indivíduo. Sim, é claro que esse risco existe., e isso esbarra em limites éticos seríssimos. Se as empresas têm acesso a tanta informação do usuário, poderiam adotar práticas bastante questionáveis.

Felizmente não é necessário ultrapassar nenhum limite legal ou moral para criar um relacionamento personalizado e próximo com cada consumidor. Primeiramente porque as pessoas compartilham conscientemente (ou quase isso) grande quantidade de informação pessoal na esperança de receber serviços em troca.  Depois, graças ao “machine learning”, a capacidade de os sistemas aprenderem a conhecer melhor cada pessoa de maneira automatizada, pode-se criar e enviar ofertas incríveis e personalizadas sem comprometer a privacidade de ninguém.

Que tipo de ofertas incríveis e personalizadas podemos pensar? Inúmeras!

 

Falando sem abrir a boca

O cliente está indo à praia e seu protetor solar acabou? Envie uma boa oferta a seu celular no dia anterior da viagem, com um botão para compra imediata e entrega no mesmo dia. E, se tiver filhos, inclua também o produto infantil!

Outro exemplo: o casal vai ter um bebê? É menino ou menina? É o primeiro filho? Ajude os pais a montar o enxoval e, se necessário, comprar os móveis do quarto da criança e adaptar a casa para o futuro morador. E, quando estiver chegando o chá de bebê, participe desse momento tão importante fornecendo informações e tudo mais que for necessário.

São apenas dois exemplos simples de uma infinidade de casos associados a literalmente todo tipo de negócio. Entretanto o mais interessante disso tudo é que o cliente não precisaria ter contado isso a nenhuma empresa: as informações poderiam ter sido obtidas de diferentes bancos de dados e postagens públicas espalhadas pela Internet. É apenas uma questão de saber captar e processar todos esses dados.

Ou seja, o cliente pode lhe dizer muitíssimo sem dirigir a você uma mísera palavra. E onde isso pode chegar?

Sabe aquela sensação boa de ser atendido pelo dono da lojinha do bairro, que conhece cada um de seus clientes tão bem, que sempre acerta no que lhes oferece? Com a tecnologia digital, isso pode ser feito para milhares, milhões de consumidores: os sistemas podem indicar a cada um deles algo que realmente lhes seja relevante, no momento que eles precisam, no canal que lhe seja mais conveniente. Busca-se a situação ideal de ter o produto certo, para o cliente certo, no momento certo e no canal certo, o sonho do CRM!

Assim, não podemos ter milhares de vendedores, mas pessoas de verdade podem ensinar a máquina a tratar os clientes com empatia. Chegamos à época dos sistemas capazes de simular o dono da lojinha do bairro, com sua sabedoria e simpatia.

Se fizerem isso direito, podem até despertar emoções genuínas e positivas em pessoas de verdade.

 

Segurando o pulso do cliente

Isso não é ficção científica, nem conversinha mole de guru. Está acontecendo aqui, agora, possivelmente sendo usado pelo seu concorrente.

O excesso de oferta e essa mesma tecnologia criaram pessoas que querem tudo com melhor qualidade, mais barato, mais rapidamente e da maneira mais conveniente para as suas necessidades individuais. Mais que isso, os clientes estão menos tolerantes a falhas, e menos suscetíveis a ofertas que não se encaixem no seu perfil.

E eles fazem isso simplesmente porque podem! Então, se os clientes mudaram dramaticamente, por que as empresas, seus produtos e seu marketing continuariam os mesmos?

E-mail marketing, segmentação e clusterização de clientes, remarketing e outras bossas são ferramentas úteis e que trazer bons resultados. E pareciam tão modernas… até ontem!

A digitalização da nossa sociedade está abrindo enormes portas para que cada interação entre pessoas e pessoas, pessoas e empresas, pessoas e ideias seja valorizada e gere uma informação útil, pronta para ser usada. Hoje fazer as “perguntas certas” pode oferecer, a qualquer um, ideias para conquistar mentes e principalmente corações. Para empresas, isso significa criar ofertas mais assertivas e deixar a concorrência comendo poeira.

Não se trata de substituir pessoas por máquinas: as primeiras continuam comandando o processo. Mas os sistemas lhes permitem ganhar escala e dar a milhares de pessoas a mesma atenção que seriam capazes de dispensar a apenas algumas dezenas.

É um incrível momento em que marcas podem se conectar emocionalmente a pessoas, mantendo contato com elas desde que acordam até quando forem dormir. E isso de uma maneira leve, agradável, ética e útil para todos os envolvidos.

Que tal começar a ouvir os seus clientes agora mesmo?


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