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Por que colaborar é melhor que competir, até entre concorrentes

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Cena de “The Wall”, ópera rock do Pink Floyd: escolas massacrando alunos, matando sua criatividade e colaboração, e promovendo a competitividade – Imagem: reprodução

Cena de “The Wall”, ópera rock do Pink Floyd: escolas massacrando alunos, matando sua criatividade e colaboração, e promovendo a competitividade – Imagem: reprodução

Se você costuma me acompanhar aqui no LinkedIn, provavelmente sabe que estive em Boston (EUA) na semana passada, participando do Red Hat Summit. Quando me perguntam qual foi a coisa mais bacana que vi lá, eu respondo: o conceito de colaboração que permeava o evento. Fiquei impressionado como até mesmo concorrentes podem fazer isso com grande sucesso! Então eu lhe pergunto: você e sua empresa conseguiriam fazer isso hoje?

Não chega a ser uma surpresa ver tanta colaboração em um evento de uma companhia que é a líder mundial em software open source. Mas o que me chamou a atenção é como essa filosofia transcendeu o desenvolvimento de software e está modificando a maneira como empresas de qualquer ramo fazem seus negócios, de uma maneira mais moderna, ágil e eficiente.


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Para quem não sabe o que open source, trata-se de uma modalidade de desenvolvimento em que alguém baixa um software cujo código-fonte está “aberto” (pronto para ser editado), realiza modificações no produto e o republica para que outros possam fazer outros incrementos a partir dessa versão melhorada. Entre as vantagens disso, estão produtos com mais recursos e muito mais estáveis, pois, ao invés de ser desenvolvido apenas pela equipe de uma empresa, é melhorado por uma boa parte de toda a comunidade de seus usuários. O exemplo mais emblemático dessa modalidade é o Linux, um sistema operacional que rivaliza com o Windows, especialmente em servidores corporativos.

No caso de negócios, a colaboração pode surgir de diferentes maneiras, como, por exemplo, no compartilhamento de recursos. Um exemplo interessante é o do Estadão e da Folha, que entregam seus jornais com os mesmos caminhões já há alguns anos. Concorrentes ferozes nos anos 1990, inclusive para ver quem chegava primeiro às bancas, a crise dessas empresas fez com que elas percebessem que era muito mais vantajoso juntar forças nessa questão operacional e continuar concorrendo naquilo que é realmente o seu negócio: a produção de conteúdo.

Aliás, a concorrência cada vez mais acirrada é hoje uma grande impulsionadora para a colaboração. Mas nem sempre foi assim. O ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro” explica o pensamento ainda dominante no mundo empresarial, que preconiza que, se o mercado está pequeno, se os recursos são escassos, o melhor a fazer é pisar na cabeça do concorrente e, se possível, tirá-lo do negócio.

Nada mais equivocado!

 

Colabore no essencial, concorra no diferencial

Empresas que já aprenderam a surfar nesse novo mundo colaboram até mesmo no desenvolvimento de seus produtos. E, como disse anteriormente, isso é viável até mesmo entre concorrentes! Isso é possível porque produtos semelhantes costumam ter características básicas iguais entre si. O que os diferencia é o refinamento que surge acima disso.

Apesar disso, em muitos casos, a construção desse alicerce comum acaba tomando a maior parte do tempo e dos recursos de desenvolvimento. Oras, se ele é indiferenciado entre concorrentes, por que então não juntarem suas forças nessa etapa?

Os benefícios imediatos são uma considerável redução nos custos e aumento na agilidade no desenvolvimento. Além disso, o produto final será potencialmente melhor que se fosse feito individualmente por cada empresa, pois ele será resultante de companhias diferentes, o que minimiza potenciais vícios empresariais de cada participante, que podem limitar bastante o escopo do produto. Além disso, cresce a base de clientes dessa solução e suas demandas, o que o torna mais atraente do ponto de vista comercial.

Claro que será necessária a criação de mecanismos para evitar que segredos industriais e comerciais vazem. Mas isso já faz parte do negócio, e a criação de processos bem definidos pode eliminar esse risco.

Mas há quem vá ainda além.

 

Negócios abertos e compartilhados

Algumas companhias vão além disso e adotam o conceito de “open business”. Derivado do “movimento open”, essas companhias possuem uma gestão colaborativa, onde funcionários e até mesmo consumidores participam da tomada de decisões em uma escala inimaginável para empresas tradicionais. Até mesmo as finanças são apresentadas de maneiras transparente.

Parte desses conceitos podem ser encontrados em empresas da chamada economia compartilhada, que tem no Uber e no AirBnB algumas de suas maiores estrelas. Essas companhias e seus modelos de negócios disruptivos estão redefinindo alguns pilares do capitalismo.

Talvez a mudança mais dramática que isso promova seja a construção de uma consciência de que não é mais necessário ter algo para usufruir de seus benefícios. O exemplo clássico disso é a furadeira. Quem tem uma em casa sabe que ela é usada muito, muito raramente. Então por que precisamos comprar uma?

O Uber partiu desse princípio para criar um negócio com milhares de pessoas que têm um recurso ocioso (no caso, um carro) e decidem ganhar algum dinheiro com isso. Por outro lado, um número ainda maior de consumidores pode usufruir de um serviço de transporte diferenciado sem precisar comprar um automóvel. Só para ficar no exemplo dos carros, quem quiser conseguir um sem motorista, pode recorrer ao PegCar, em que indivíduos colocam seus veículos para alugar. Bom para os clientes, bom para os donos dos carros. Ruim para as locadoras convencionais.

 

Mundo exponencial

A verdade é que hoje vivemos em um mundo exponencial. Quem tem mais de 30 anos aprendeu a pensar de uma maneira linear: fazemos uma coisa, depois outra, depois outra, todas elas encadeadas e com uma relação de dependência entre si. Fomos educados dessa forma!

É como construir um muro colocando um tijolo ao lado do outro, até completar uma linha, e só então partir para a de cima. Mas o que se vê, cada vez com mais força, são empresas e pessoas (especialmente entre as mais jovens) que descobriram maneiras melhores para se levantar esse muro. E isso acontece de uma maneira que poderia ser considerada anárquica pelos métodos convencionais, pois vários indivíduos trabalham no muro juntos, ao mesmo tempo, cada uma colocando o tijolo onde acha melhor. Em alguns casos, cada um traz o seu próprio tijolo! Mas longe de ser uma bagunça, isso representa a inventividade e a capacidade de colaboração, resultando em um muro melhor e concluído mais rapidamente.

É interessante observar que as crianças nascem colaborativas. Elas gostam de fazer coisas com outras crianças (e até adultos). Mas então por que, quando ficam mais velhas, as pessoas não são mais assim?

A resposta provavelmente está nos bancos escolares. Nosso sistema educacional tem uma estrutura que é essencialmente a mesma desde o século XIX. As escolas ainda formam indivíduos com a cabeça na Revolução Industrial, onde, mais importante que questionar ou inovar, era obedecer e executar. Uma visão digna da ópera-rock “The Wall”, do grupo Pink Floyd, que ilustra esse artigo.

E isso é um crime contra as crianças e contra toda a sociedade!

 

Escolas e iniciativas do futuro

Felizmente, muitas escolas, inclusive no Brasil, estão conseguindo se libertar dessas amarras com o passado e promovendo uma revolução no ensino, formando cidadãos capazes de viver no mundo atual de uma maneira construtiva e colaborativa. Em alguns casos, a mudança é realmente imensa, como no da escola nova-iorquina Quest to Learn, em que todas as aulas acontecem a partir de jogos, com resultados acadêmicos impressionantes! Aqui mesmo, neste espaço, falamos sobre ela, criando um ótimo debate.

Mas não só as escolas podem ajudar a incentivar as habilidades de colaboração e inventividade de crianças e adultos: as empresas também podem fazer isso. Nessa minha visita à Boston, tive a oportunidade de conhecer o projeto Co.Lab, realizado pela mesma Red Hat. Resumidamente, trata-se de uma iniciativa para aproximar meninas da tecnologia e de conceitos de colaboração. Para isso, elas montaram suas próprias câmeras digitais usando um Raspberry Pi, um pequeno computador de apenas US$ 35 que também incorpora o “modelo open” em sua concepção. Depois elas tiveram oportunidade de sair pelas ruas da cidade e fotografar tudo que elas quisessem para, posteriormente, criar colaborativamente uma releitura de um poema de Emily Dickinson. O vídeo logo no início desse artigo traz detalhes dessa bela iniciativa.

Se pensarmos bem, o que estamos fazendo exatamente aqui também é um bom exemplo de colaboração. Um dos maiores prazeres que tenho no LinkedIn é justamente fomentar debates em torno de temas que sejam importantes para a sociedade.

Vejam que eu disse “debate”, pois os artigos e atualizações que publico aqui são modestamente apenas pontos de partida para discussões. Elas são construídas com a colaboração de centenas de pessoas, que generosamente oferecem parte do seu tempo para tecer comentários com informações que enriquecem ainda mais o conteúdo já existente. E o resultado disso fica disponível para todos.

Portanto, diante de tudo isso, se os negócios estão difíceis, eu sugiro fortemente que você considere a possibilidade de trabalhar com outras empresas, mesmo que sejam concorrentes. Essa divisão do fardo pode deixar todos mais ágeis. E aí todo mundo ganha: as próprias empresas, seus funcionários e a sociedade, que fica mais moderna e humana.


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