racismo

Videodebate: racismo na publicidade

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Na quinta passada, o Ministério da Educação pôs no ar propagandas com teor racista.

Por que o MEC fez isso? Como é possível que instituições e empresas de todo porte continuem dando mancadas assim?

Parece loucura que, em tempos em que tanto se discute e se incentiva a diversidade e a inclusão, ainda vejamos isso. Apesar de vários exemplos gritantes em todo o mundo, a solução para o problema não é simples, pois envolve mudar as cabeças que gerenciam os negócios, normalmente (como diria o guru da administração Tom Peters) “homens brancos de meia idade e calça de poliéster”.



Os benefícios de se resolver essa aberração histórica vão muito além da imagem pública do profissional ou da corporação.

Você sabe como? Sua empresa está salva disso? Veja no meu vídeo dessa semana! E depois deixe nos comentários o que você acha disso e exemplos de boas (ou más) práticas em torno desse assunto.

Para saber ainda mais sobre o assunto, assista também ao meu vídeo com entrevista a lideranças femininas da indústria de tecnologia explicando por que a diversidade e a inclusão são fundamentais para qualquer negócio:



NOVIDADE: quer ouvir as minhas pílulas de cultura digital no formato de podcast? Basta procurar por “O Macaco Elétrico” no Spotify, no Deezer ou no Soundcloud. Se preferir, pode usar seu aplicativo preferido: é só incluir o endereço http://feeds.soundcloud.com/users/soundcloud:users:640617936/sounds.rss

Ajude a NÃO transformar as redes sociais na nova Inquisição: pode existir uma fogueira reservada para cada um

By | Tecnologia | No Comments
Catherine Deneuve no filme “A Bela da Tarde” (1967); a atriz francesa assinou o manifesto de mulheres defendendo a “liberdade de importunar dos homens” - Foto: divulgação

Catherine Deneuve no filme “A Bela da Tarde” (1967); a atriz francesa assinou o manifesto de mulheres defendendo a “liberdade de importunar dos homens”

No dia 14, William Waack publicou na Folha de S.Paulo um artigo onde conta a sua versão dos fatos que levaram a sua saída da Globo. Foi a única vez que li sua posição, desde que o escândalo de racismo inundou as redes sociais no dia 8 de novembro, culminando em sua demissão da emissora, no dia 22 de dezembro. Longe de ser uma curiosidade entre jornalistas, esse desequilíbrio entre acusação e defesa me chamou a atenção, pois é reflexo de um preocupante comportamento impulsionado pelos meios digitais: todos ganharam o direito de ser juízes e algozes de qualquer caso, mas também podem se tornar vítimas num piscar de olhos.

O caso acima começou quando um ex-funcionário da Globo vazou um vídeo em que Waack aparece cochichando ao comentarista Paulo Sotero uma frase racista, quando estavam fora do ar. A gravação se espalhou feito rastilho de pólvora, tanto pelas redes sociais, quanto pela própria imprensa. No mesmo dia, a emissora afastou o jornalista de suas funções e publicou uma nota dizendo ser “visceralmente contra o racismo”. Seis semanas depois, Waack foi demitido. Poucas pessoas se posicionaram em sua defesa, e essas também foram veementemente desqualificadas nas redes.

Waack errou? Sim. Sua punição foi adequada? Há controvérsias. Ele merecia ter sua reputação jogada na lama por um julgamento sumário nas redes sociais? Certamente não!

Analisemos um outro caso recente: o dia 9 de janeiro, a francesa Catherine Deneuve, uma das atrizes mais respeitadas do mundo e ícone de sua geração, publicou no prestigiado Le Monde, junto com outras 99 mulheres artistas e intelectuais do país, uma carta em que criticam o “puritanismo” de campanhas contra assédio sexual, e defendem o que chamaram de “liberdade de importunar” dos homens, considerada pelo grupo como “indispensável para a liberdade sexual”.

“O estupro é crime. Mas o flerte insistente ou desajeitado não é um delito, nem o cavalheirismo uma agressão machista”, afirmaram no manifesto. Elas também disseram que “não se sentem representadas por esse feminismo que, além das denúncias dos abusos de poder, adquire uma face de ódio aos homens e sua sexualidade”.

Resultado: as signatárias do documento foram apedrejadas nas redes sociais, sendo inclusive acusadas de fazer apologia ao estupro. Oras, elas disseram exatamente o contrário disso na carta! Mas, em um mundo cada vez mais intolerante, viabilizado pelas redes sociais, “se você não está comigo, você está contra mim”.

Isso é perigosíssimo, pois a vida não é preta e branca: tem incontáveis nuances de cinza.

 

Não misturemos os canais

De forma alguma, estou aqui defendendo racismo, assédio sexual ou moral, ou qualquer outra forma de crime, contravenção ou atitude condenável. Mas não podemos entrar nessa onda de ódio e intolerância que vem tomando as redes e a sociedade como um todo, em que pessoas são acusadas, julgadas, condenadas e executadas em ritos sumários, sem a menor possibilidade de defesa. Especialmente porque, em muitos casos, a origem é apenas a palavra de uma pessoa que se sentiu, de alguma forma, ofendida ou desprestigiada pelo suposto agressor, sem qualquer prova, ou porque discorda de algo que alguém disse de forma legítima.

Isso é uma afronta e um seríssimo risco a uma sociedade organizada! Se todo mundo que se sentir incomodado tiver o poder de um canhão para alvejar seus desafetos, viveremos um cenário de caça às bruxas! Mas como prevê a Constituição Federal (e o bom senso), todos são inocentes até que se prove o contrário.

Fico muito preocupado com o fato de estarmos iniciando um ano eleitoral. Com base no que vi há dois anos, nas eleições para prefeitos e vereadores, temo que as redes sociais se transformem em um banho de sangue, cheias de insultos, destruições de reputação, “fake news” e amigos de longa data se tornando inimigos viscerais. Apenas porque agora todos podem emitir suas opiniões e os algoritmos de relevância agruparão os que tiverem os mesmos preconceitos em uma mesma bolha de ódio.

Que caminho estamos trilhando?

 

Poder sem responsabilidade

Todo fã de histórias de super-heróis conhece a icônica frase “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, dita por Ben Parker, tio de Peter, o Homem-Aranha, pouco antes de ser assassinado, na gênese do herói mais amado da Marvel.

É tudo o que não temos visto nas redes sociais!

O conceito foi brilhantemente explorado no episódio “Odiados pela Nação”, o último da terceira temporada da série “Black Mirror”. No roteiro, pessoas passam a ser misteriosamente mortas depois que seus nomes são associados à hashtag #DeathTo no Twitter. A pessoa com mais “votos” no dia acabará morta. Cria-se então um perverso jogo em que qualquer um pode literalmente determinar a morte de alguém que não goste, qualquer que seja o motivo, simplesmente twittando seu nome.

(AVISO: se não quiser saber o fim dessa história, pule para o parágrafo seguinte). As investigações acabam descobrindo que as mortes estão sendo causadas por abelhas-robôs espalhadas por todo Reino Unido, que foram hackeadas para encontrar e atacar a vítima do dia. Mas a grande surpresa que a história reserva para o final é que, quando um comando for acionado, todas as pessoas que participaram do jogo, votando em alguém para ser morto, acabarão também assassinadas pelas abelhas. Isso resulta na morte de mais de 300 mil pessoas em poucas horas, no melhor estilo de que “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Ou seja, as palavras têm grande poder, por isso, precisamos usá-las com critério. Reitero: coisas como racismo, assédios e outras práticas criminosas ou imorais são condenáveis e devem ser combatidas. Mas não se pode usá-las como desculpa ou cortina de fumaça para se atingir outros objetivos, alguns igualmente condenáveis.

Quando a massa ganha um poder sem limites para expor suas insatisfações, legítimas ou não, resultando em condenações sumárias que lhes agradam, rumamos para o fascismo. O exemplo máximo disso foi o nazismo! Apesar de ter surgido de mentes doentias, ele só prosperou porque a população alemã da época o abraçou e praticou. Não fizeram isso por alguma espécie de surto psicótico coletivo, mas sim porque -por mais absurdo que fossem- os valores pregados pelo partido pareciam então legítimos e corretos. E porque todas as ações tomadas em seu nome, mesmo as mais irracionais, eram apoiadas amplamente.

As redes sociais deram voz a todos, e isso é maravilhoso! Mas não podemos usar esse direito para criar uma nova versão dos tribunais da Santa Inquisição. Ou em breve estaremos queimando mulheres em praça pública apenas por serem ruivas. E, assim como acontecia naqueles tempos sombrios, quem em um dia condena poderá ser queimado no dia seguinte. Basta um desafeto lançar uma suspeita.

E os inquisidores nem tinham as redes sociais ao seu dispor.


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Não olhe agora, mas você pode estar financiando um terrorista

By | Jornalismo | One Comment

Imagem: montagem sobre reprodução

Há alguns dias, cerca de 250 grandes empresas, como McDonald’s, Volkswagen, L’Oreal, e HSBC, disseram que estavam deixando de anunciar em produtos do Google, como o YouTube. O motivo: seus anúncios estavam aparecendo em vídeos que promoviam terrorismo, racismo e outros conteúdos para lá questionáveis. Você pode estar se perguntando: “e o que eu tenho a ver com tudo isso?”

Muita coisa!

Longe de ser apenas uma questão comercial, essa crise potencialmente pode mudar a Internet como a conhecemos. Em uma situação extrema, muitos serviços comuns em nosso cotidiano, que hoje são gratuitos, poderiam passar a ser pagos. Mas algumas atitudes simples nossas podem evitar isso.


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Para quem não sabe do que se trata tudo isso, uma breve explicação. Pelo método criado pelo Google e largamente adotado é copiado por empresas na Internet, os anunciantes não sabem exatamente em que conteúdo sua publicidade aparecerá. Eles cadastram suas peças e dão diretrizes ao sistema sobre assuntos aos quais as peças devem ser associadas. Mas quem define esse destino, em última instância, são os algoritmos do Google e das outras empresas que vendem publicidade digital, pois se trata de um processo automatizado.

Justamente nisso reside o maior poder do marketing digital. Graças a esses algoritmos, a chance de um anúncio aparecer associado a um conteúdo que tem forte relação com ele aumenta muito. E existem literalmente milhões de páginas e vídeos disponíveis para isso. Consequentemente a probabilidade de o anúncio ser relevante para a pessoa que está vendo tal conteúdo aumenta muito! Logo, as vendas do anunciante tendem a ser muito maiores que as feitas com uma publicidade tradicional.

Mas os algoritmos não são perfeitos. Muitas vezes, o anúncio acaba sendo exibido junto a conteúdos que não têm relação com ele. Pior que isso: pode ser exibido associado a conteúdos que nem deveriam estar na plataforma, como os que estão causando toda essa celeuma.

Mas qual é o real tamanho desse problema?

 

Tempestade em copo d’água

A retirada das campanhas do Google vazou para a imprensa, que botou a boca no trombone. Ao meu ver, a reação desses anunciantes é um tanto exagerada. Pode-se argumentar que é uma questão de princípios: nem um único banner deve ser associado a uma atividade ilícita. Até aí, tudo bem. Mas a repercussão na imprensa deu a entender que o Google é inundado de conteúdos pró-terrorismo e que os banners dos seus anunciantes estariam viabilizando atividades do Estado islâmico e sua turma, o que evidentemente é um despropósito.

Porém isso foi suficiente para criar possivelmente a maior crise de reputação que o Google já teve. E isso pode colocar em risco todo o seu modelo de negócios e a internet como a conhecemos. Afinal, podemos usar gratuitamente os seus diversos produtos justamente porque eles são bancados pela publicidade. E quanto mais os usamos, mais banners são exibidos, gerando mais dinheiro para o Google.

Em outras palavras, ao usar, por exemplo, o YouTube ou o próprio buscador, nós não somos os clientes do Google: somos parte do produto! Os clientes são os anunciantes. E isso vale para todas empresas que vendem publicidade de maneira semelhante, como o Facebook.

Para piorar a confusão, nessas horas sempre aparecem oportunistas.

 

Solução no passado?

No meio da tempestade, o UOL resolveu publicar uma “carta aberta” em que se coloca como a solução para o problema. No documento, o portal joga mais lenha na fogueira, colocando em xeque o modelo da publicidade digital do Google. Pior que isso: usa muita desinformação para confundir ainda mais o público e os anunciantes, como quando sugere que, no marketing digital, o conteúdo deixa de ser relevante. Oras, mas é exatamente o contrário disso! O conteúdo é essencial no processo, pois os algoritmos tentam vincular cada anúncio a um conteúdo semelhante a ele.

Claro que o site se coloca como a solução para o dilema, pois garantiria todo o conteúdo criado por ele e suas centenas de parceiros. Isso é uma falácia, pois o UOL não tem controle editorial sobre nenhum deles, nem pré-aprova o que publicarão. Logo, não pode garantir nada.

Isso me lembra um outro documento, publicado apenas um dia antes pela Folha de S.Paulo, principal acionista do mesmo UOL, em que se coloca como a solução para a crise de notícias falsas que as redes sociais vivem. Segundo a Folha, apenas o jornalismo profissional poderia garantir que tudo o que lemos é confiável e tolerante.

Seria verdade, se o tal jornalismo tradicional praticasse esses valores sempre. Desgraçadamente, vemos, dia após dia, veículos de comunicação tradicionais protagonizando vergonhosos exemplos de imprecisão e distorções causadas por interesses políticos e econômicos. A cobertura da “Operação Carne Fraca”, da Polícia Federal, foi um patético exemplo de como a imprensa profissional pode fazer um péssimo trabalho, desinformando todo o país.

Portanto, muito cuidado com aqueles que promovem soluções oportunistas em algo que estão perdendo feio de concorrentes que estão sob os holofotes no momento.

 

Para onde podemos correr?

É bom que fique claro que esse artigo não pretende defender o Google ou as demais empresas que distribuem grandes volumes de mídia digital de maneira automática, como o Facebook ou a AOL. A ideia aqui é apenas discutir os fatos e propor caminhos para essas empresas, anunciantes e cada um de nós, internautas.

Naturalmente Google e afins têm que dar seus pulos para tentar melhorar dois aspectos essenciais. O primeiro é melhorar os sistemas que varrem automaticamente conteúdos publicados em suas plataformas, como o YouTube, para banir aqueles que são inadequados. Sistemas semelhantes já existem para evitar, por exemplo, que sejam publicados conteúdos que violem direitos autorais, e eles são bastante eficientes.

A outra coisa que precisa ser feita é calibrar os algoritmos que associam os anúncios nele cadastrados a qualquer conteúdo, inclusive àqueles que não estão em suas plataformas (qualquer site pode exibir anúncios vendidos pelo Google e ser remunerado por isso). Dessa forma, o problema seria controlado nas suas duas pontas.

Como se pode ver, existem soluções. É improvável que essa crise se agrave ou mesmo se prolongue por muito tempo. Rapidamente os anunciantes que pularam fora do barco perceberão que esse modelo de publicidade digital é o mais eficiente para que tenham melhor retorno de suas campanhas, resultado de uma evolução contínua de 22 anos de mídia digital.

Portanto, não matemos a vaca para acabar com o carrapato! É claro que banners legítimos não devem ser usados para financiar o terrorismo ou qualquer outra iniciativa moral ou legalmente condenável. Ocorrências assim devem, portanto, ser combatidas, mas não acabando com uma plataforma que redefiniu o mundo da publicidade e do conteúdo, tornando-o um espaço muito mais democrático e eficiente.

Cada um de nós, como usuários, temos o poder e o dever de combater não apenas o mau conteúdo, mas também a má publicidade, que sempre existiram e sempre existirão. Para isso, as próprias plataformas oferecem recursos. Além disso, devemos cobrar que essas mesmas se empenhem para, de seu lado, criar mecanismos ainda mais eficientes para eliminar essas laranjas podres assim que surjam.

Só não podemos cair nessas conversinhas moles de quem está querendo só se promover em cima da crise, propondo uma volta a um passado. Um passado que os próprios usuários já enterraram.


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