Google

Mais um round entre a mídia míope e o futuro

By | Jornalismo, Tecnologia | No Comments
Logos da Rede Globo em 1965 e hoje

Logos da Rede Globo em 1965 e hoje: o grupo está perdendo a capacidade de olhar para o futuro?

Os profissionais dos diferentes veículos das Organizações Globo estão proibidos de colocar links nas fan pages dos próprios veículos no Facebook. Continuam fazendo chamadas, mas nada de link, apenas frases toscas como “Leia a reportagem no site de ÉPOCA”. O G1 radicalizou: usa uma imagem padrão agrupando indiscriminadamente seus títulos, três a três, sem qualquer outra preocupação: uma “antichamada”.

Chega a ser patético o apelo para que os usuários entrem no site do veículo e saia procurando pelo conteúdo que quer ler, uma tentativa medíocre e desesperada de aumentar a audiência valendo-se de um desserviço ao próprio usuário. A iniciativa só não é mais ridícula que a falta de raciocínio que levou a ela: para os executivos da Globo, o Facebook “rouba” audiência de seus portais, assim como agregadores ou leitores de RSS. Segundo essa visão com miopia beirando a cegueira, usuários estariam se “satisfazendo” com as chamadas criadas pelos próprios jornalistas e as três primeiras linhas do texto que o Facebook automaticamente replica na chamada.

Se isso fosse verdade, tiraria algumas conclusões. A primeira seria que o conteúdo de todos os produtos da Globo seria uma porcaria tão rasteira, que ninguém se interessaria em ler nada além daquelas poucas palavras na chamada. Também poderia concluir que os responsáveis pelas fan pages seriam tão incompetentes que nada que eles produzissem convenceria os usuários a visitar suas páginas.

Felizmente não é nada disso: os conteúdos da Globo normalmente são bons, e os únicos incompetentes nessa história são os que propuseram essa iniciativa lamentável. Esse é apenas o mais recente capítulo da briga entre a mídia tradicional, que, apesar de ainda ser capaz de produzir bom jornalismo, tem uma visão de negócios cada vez mais decadente. Diante de sua constatação de ser incapaz de controlar o futuro, tente impedir sua chegada, parando de dar corda no próprio relógio.

Por que o Facebook incomoda tanto esses arautos do ostracismo? Porque ele, assim como o Google, agregadores e outros produtos e serviços que ditam as tendências de distribuir conteúdo de uma maneira inteligente e pensando no usuário, diminui ainda mais a relevância das home pages de portais e sites desses veículos. Até havia alguns anos, quando eles ainda detinham o poder sobre a produção e distribuição do conteúdo jornalístico, a melhor maneira de se informar era entrando nessas home pages. Com elas, as empresas promoviam o conteúdo que consideravam pertinentes e dirigiam os usuários dentro de sua estrutura de navegação. De quebra, geravam dezenas de milhões de page views nesse processo, o que significa dinheiro extra entrando no caixa. E até hoje elas ainda representam uma porcentagem muito considerável no total de page views desses sites. Portanto, para eles, qualquer coisa que ameace essa vaca leiteira deve ser combatido.

Mas o mundo mudou. Desde que “o Facebook se tornou o jornal e seus amigos os editores”, as home pages deixaram de ser importantes. Para as pessoas, é muito mais interessante ler o que seus amigos estão promovendo que as escolhas feitas pelos editores. Por isso, atitudes retrógradas como essa adotada pela Globo só demonstram como os executivos das empresas de mídia estão descolados do mundo que seus veículos cobrem. Não reverterão em nada a linha descendente de sua audiência e ainda desestimularão as pessoas a dar links para seus conteúdos.

Ao invés de continuar combatendo o futuro, os executivos das empresas de mídia precisam aprender a tirar proveito do que ele tem a oferecer, incluindo aí o Facebook, o Google, os agregadores e tantas outras coisas que eles insistem em demonizar. Não é “dar de graça” seu trabalho, e sim apresentá-lo da maneira que seus clientes querem, para assim continuarem sendo seus clientes.

Ah, normalmente eu daria links para fan pages de veículos da Globo. Mas não farei isso.

A eleição que os jornais quase não cobriram

By | Jornalismo | 4 Comments

A home page do Estadão anunciando a vitória de Haddad e a página de resposta do Google sem link para qualquer jornal

Com 100% das urnas apuradas no segundo turno, o Estadão não cobriu a eleição para a prefeitura de São Paulo. Calma, não se trata de uma reação maluca diante da vitória de Fernando Haddad. É apenas a impressão que o internauta teve se procurou pelo assunto no Google, que responde por mais de 90% das buscas no Brasil. Sua resposta a “resultado eleição são paulo” traz um link para o Estadão apenas em sua segunda página, na 17ª posição, atrás de links para o UOL, a Agência Notícias, o R7, o Terra, o Globo.com, o G1, o Yahoo!, a Veja, e até um site oportunista totalmente baseado em SEO, chamado eleicoes2012.info. A primeira menção à Folha surge só na terceira página de respostas. Se o usuário então clicar na seção “notícias” do Google, os jornais desaparecem por completo.

Isso é um resultado péssimo, já que a maioria dos internautas se satisfaz com os resultados da primeira página de respostas do buscador. Graças a esse mau posicionamento, os sites dos jornais perdem milhões de page views ao final do mês, podendo chegar a 10% de sua audiência global, o que certamente tem um impacto muito considerável em sua receita publicitária online.

Esse posicionamento só não foi pior porque as eleições representam o assunto mais importante do ano para os jornais, superando até mesmo as Olimpíadas de Londres. E, ao contrário da provocação do primeiro parágrafo, eles, sim, cobriram  –e muito bem– o pleito municipal. Com isso, subiram na classificação do Google. Mas se o mesmo internauta procurasse por “último capítulo de avenida brasil”, outro tema que causou comoção nacional recentemente, o único grande jornal a aparecer nas cinco primeiras páginas de resposta é a Folha, e timidamente com um link na quarta delas, na 48ª posição, atrás de sites absolutamente inexpressivos.

Em um primeiro momento, pode parecer que o Google está falhando ao trazer as páginas mais relevantes para seus usuários. Mas os resultados são igualmente ruins no Bing e na busca do Yahoo!. E não se trata de uma falha nos algoritmos dos buscadores. Na verdade, os jornais foram praticamente banidos porque explicitamente pediram isso.

A discussão já dura uns oito anos, e começou com os jornais internacionais acusando o Google de estar roubando as reportagens desses veículos para construir seus serviços, especialmente o Google News (ou Notícias). Desde então, muita discussão vem acontecendo. No Brasil, desde o ano passado, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) recomenda a seus 154 associados que deixem o serviço, o que vem sendo seguido por todos.

Para isso, basta incluir um simples comando em todas as páginas de seu site, para que o Google deixe de exibi-las no Google Notícias e na seção “notícias” do buscador. O problema é que essa ação também derruba a relevância dessas mesmas páginas na busca orgânica, o que é a causa da situação descrita nos primeiros parágrafos deste post.

Os jornais são os detentores legítimos de seu conteúdo, ninguém questiona isso, nem mesmo os buscadores. Dessa forma, eles têm o direito legítimo de “proteger” seus produtos de quem estiver fazendo uso indevido deles.

Já os buscadores sempre argumentaram que os seus serviços são construídos com base no “uso justo”, ou seja, usariam pequenos trechos do conteúdo dos veículos, retribuindo-lhes com links diretos e crédito. Dessa forma, ninguém deveria nada a ninguém.

Os dois lados têm, portanto, argumentos defensáveis. Mas façamos uma análise meramente monetária. Por ter seguido recomendação da ANJ, é razoável supor que um grande jornal brasileiro tenha “perdido” 10 milhões de page views em um mês, que não vêm mais do Google. Sendo muito conservador, podemos supor que as receitas médias com publicidade, somando todas as inserções, cheguem a R$ 0,05 por página, depois de todos os descontos. Ou seja, esse veículo vem deixando de faturar R$ 500 mil por mês.

Não me parece pouco. Ainda mais porque os jornais estão passando por tempos bicudos, demitindo e até encerrando títulos (o “Jornal da Tarde” parece ser o próximo da lista de defuntos, possivelmente deixando de circular em novembro, segundo o burburinho do mercado).

Mas o mais grave não é a perda financeira: é a incapacidade (ou seria teimosia?) de os jornais aceitarem que seu modelo de negócios, forjado no século 19 e sustentado pela publicidade e pela assinatura de um produto “consolidado” (onde o cliente paga por tudo, mesmo que consuma apenas uma parte), não encontra mais lugar no mundo.

Além de perderem a dinheirama acima, assistem praticamente imobilizados às mudanças da mídia, que os condena cada vez mais ao ostracismo. Sim, porque o Google Notícias é mídia, assim como o Flipboard e os outros agregadores, os blogs e tantas outros. Players que, se não “roubam” seus conteúdos, certamente levam embora seu público (que procura alternativas mais modernas e adequadas), e para os quais as empresas de comunicação tradicionais torcem o nariz e batem o pé, ao invés de aprender algo com eles.

Isso me lembra a fábula “A Raposa e as Uvas”, de La Fontaine. Mas me dá muita pena que, neste caso, as empresas de comunicação tradicionais são raposas que poderiam perfeitamente usar escadas para alcançar suas uvas. Mas se recusam a isso.

Dá para ser cliente quando o mundo o quer como produto?

By | Jornalismo, Tecnologia | No Comments

Imagem: reprodução

No Estadão de ontem, Eugênio Bucci se baseou em uma charge que tem circulado pelo Facebook para fazer uma interessante análise sobre como a atividade jornalística deveria ser financiada. Ele defende algo que já foi tratado aqui no dia 7 de novembro: para uma imprensa realmente livre, o financiamento deve vir de seu público.

Mas não é apenas com dinheiro que esse financiamento pode ser feito, como o próprio jornalista explica. E justamente aí entra a charge, reproduzida acima e publicada originalmente no site Geek and Poke (sem a pertinente crítica ao Facebook). Resumidamente, se você não está pagando em cash pela notícia, está aceitando que o veículo venda uma parcela da sua atenção aos anunciantes. E aí você deixaria de ser o cliente e passaria a ser o produto.

Isso não é nada novo: toda a TV aberta (e não apenas seus produtos jornalísticos), com seus custos de produção altíssimos, sempre foi mantida pela publicidade. Nesse caso, o público sempre foi o produto, consciente disso. A novidade é que esse modelo está extrapolando suas formas tradicionais.

Dá para ser cliente quando o mundo o quer como produto? Temos, por exemplo, o Positivo, fabricante de computadores que se firmou no mercado com uma imagem de equipamentos com preços baixos. Como forma de ampliar os seus ganhos, a empresa agora quer colocar anúncios na área de trabalho do Windows de seus consumidores e até nas caixas de seus computadores.

A gigantesca Microsoft também embarcou nessa onda, inspirada no seu rival Google, que espalha seus microanúncios pelos seus produtos. O Office Starter, versão light do seu pacote de escritórios com apenas o Word e com o Excel, vem pré-instalado em computadores e pode ser usado gratuitamente, desde que o usuário não se importe com os anúncios que exibe.

Aplicativos para smartphones, mesmo os que custam um mísero US$ 1, também costumam oferecer uma versão completamente gratuita, subsidiada pela exibição de anúncios. Pagando pelo produto, os anúncios desaparecem.

O fato: em maior ou menor grau, as pessoas parecem não se importar muito com essa invasão publicitária, principalmente em produtos que foram concebidos com a presença dos anúncios. Dessa forma, se incomodam mais com os anúncios ocupando espaço na sua tela do Word que com anúncios em produtos jornalísticos.

Será esse o caminho que o jornalismo deve seguir para se sustentar?

Separação Igreja-Estado

É uma possibilidade a ser considerada, com serenidade. Outros modelos já discutidos aqui, como o “soft paywall” do The New York Times, também podem render frutos. Mas as empresas de comunicação precisam aceitar o fato de que o público resiste em desembolsar seus cobres pelo noticiário.

Caso decidam ampliar o caminho da publicidade, os publishers precisam reforçar o conceito da “separação Igreja-Estado”. Ou seja, decisões comerciais não podem influenciar o noticiário, e vice-versa. Dessa forma, a Redação deve ter liberdade para criticar uma empresa, mesmo que ela seja seu maior anunciante.

Bucci explica o motivo em seu artigo: mesmo em um ambiente financiado por publicidade, o público deve ser considerado como o verdadeiro cliente, pois é apenas por causa dele que os anunciantes colocam dinheiro nos veículos. Dessa forma, tem o direito de receber um produto jornalístico isento e focado em seus interesses.

As empresas estão dispostas a fazer isso? No mundo ideal, sim; na prática, poucas são capazes de levar esse conceito até o fim.

Os publishers devem avaliar esses dois conceitos –maneiras criativas de financiamento por publicidade e a garantia da independência editorial– com muita atenção. O mundo quer o público como produto e as próprias pessoas parecem topar essa situação. Mas os jornalistas nunca devem deixar de encará-las como os seus verdadeiros clientes. Qualquer que seja o modelo de financiamento, a essência do jornalismo passa por garantir um noticiário isento.

Olha quem está falando

By | Jornalismo, Tecnologia | No Comments

Novo recurso do Facebook: "falando sobre isso"

O Facebook lançou há alguns dias o recurso “falando sobre isso” nas “fan pages”, páginas criadas por pessoas e empresas para promover o que fazem e o que gostam. A novidade mostra quantos usuários da rede social se relacionaram com cada página nos últimos sete dias. Por “se relacionar”, entenda-se compartilhar qualquer conteúdo publicado ali, fazer comentários, posts, incluir ou marcar fotos, responder a um evento ou simplesmente clicar no botão “curtir”. Na pratica, o que o Facebook espera é medir o “engajamento” em torno do assunto da “fan page”.

Por trás de mais uma métrica social aparentemente inocente, o “falando sobre isso” esconde a intenção do Facebook de criar um novo modelo comercial com valor um tanto intangível: o relacionamento das pessoas com qualquer marca. A empresa fatura alto com os pequenos anúncios que coloca em todas as suas páginas, alinhados com o perfil de cada usuário. Mas, para isso, depende que esses mesmos usuários cliquem nas peças. Com seu novo lançamento, a rede de Mark Zuckerberg quer tentar minimizar a importância dos cliques nos anúncios e mostrar ao mercado publicitário que é capaz de trazer valor sem eles, algo que, de quebra, ninguém consegue hoje fazer tão bem quanto o próprio Facebook.

Ninguém discute que o engajamento em torno de uma marca tem um enorme valor. Ele é uma das chaves para o que o mercado publicitário chama de “mídia espontânea”, ou seja, a exposição de uma marca em notícias e outros formatos não pagos, em oposição à “mídia paga”, que são os anúncios. Mas quanto o “falando sobre isso” realmente mede disso? Além do mais, o engajamento indicado pela novidade pode incluir pessoas fazendo comentários negativos sobre a marca.

Essa característica “etérea” do engajamento é o principal obstáculo para que o novo modelo seja aceito pelo mercado publicitário. É difícil de medir resultados nisso, ao contrário dos cliques nos banners, claramente identificados, justamente uma das maiores vantagens que a Internet oferece ao mercado publicitário diante de outras mídias, incapazes de dar um retorno tão precisamente identificado.

Dois coelhos

Para o Facebook, conseguir tal convencimento mataria dois coelhos com uma cajadada só. Primeiramente o colocaria em ampla vantagem sobre toda a indústria, pois ninguém conhece os gostos dos usuários como ele, nem mesmo o Google.

O gigante de buscas também faz fortuna entregando pequenos anúncios publicitários espalhados por sites próprios e de terceiros. Os anúncios do Google estão sempre associados ao assunto da página em que aparecem. Segundo seu raciocínio, que tem dado certo, se o usuário se interessa pelo assunto da página, deve se interessar pelo anúncio, se ele tiver assunto semelhante. Ele se foca, portanto, mais na página que no usuário. Já o Facebook segue o caminho contrário. Com seu inigualável banco de dados sobre gostos dos usuários, os anúncios que entrega são focados sempre no próprio usuário, não se importando com o conteúdo da página.

Todo esse conhecimento sobre as pessoas vem justamente das ações e do engajamento de cada um com seja lá o que for. Clicar no botão “curtir” em uma notícia não é só um jeito fácil e bacana de se dizer aos amigos que se gosta daquilo: o usuário também diz o mesmo ao Facebook, que assim constroi o seu perfil de cada um de nós. Dessa forma, ninguém pode oferecer informações sobre engajamento ao mercado publicitário como eles. Se o pessoal do marketing comprar a ideia, eles ficam por cima da carne seca.

O segundo motivo chega a ser quase paradoxal para quem conhece tão bem os usuários. Estudos, como esse, da Webtrends, sugerem que a taxa de cliques nos anúncios do Facebook é muito baixa, mesmo quando comparadas ao que se pratica nessa indústria (especialmente o Google). Pior que isso: ela vem caindo. Pelo estudo, a taxa de cliques (CTR, “click-through rate” ou “taxa de cliques”) caiu de 0,063% para 0,051% de 2009 a 2010. Em direção contrária, o que o Facebook cobra, em média, por clique (CPC, “cost per click” ou “custo por clique”) subiu, no mesmo período, de US$ 0,27 para US$ 0,49. E o quanto cobra por simplesmente exibir os anúncios (CPM, “custo por mil”) também subiu, de US$ 0,17 para US$ 0,25 a cada mil impressões.

Por isso, enfraquecer a importância do CTR enquanto fortalece o engajamento são críticos para o Facebook. Representariam o enfraquecimento da concorrência (especialmente do Google) e o fortalecimento do Facebook. Seus executivos têm uma árdua tarefa junto ao mercado publicitário. Se tiverem sucesso, merecerão gordos bônus por alterar a maneira como as empresas anunciam seus produtos e serviços.

Alguém pode parar o iPad?

By | Tecnologia | No Comments
O TouchPad, que passou de "iPad killer" para "queima de estoque", pela própria HP - Foto: divulgação

O TouchPad, que passou de "iPad killer" para "queima de estoque", pela própria HP

No dia 18, a Hewlett-Packard surpreendeu o mercado ao anunciar que estava abandonando o seu recém-lançado tablet, o TouchPad, que chegou a ser anunciado como um “iPad killer” e o primeiro passo de uma longa linha de produtos da empresa. Mas, com seu sistema operacional proprietário, o webOS, ele decepcionou nas vendas e foi sepultado pela companhia depois de míseros 67 dias no mercado.

E então uma coisa inusitada aconteceu: para queimar os estoques encalhados, a HP decidiu derrubar seu preço de US$ 499,99 para US$ 99,99 na versão com 16 GB de armazenamento, e de US$ 599,99 para US$ 149,99, no modelo de 32 GB. Instantaneamente o produto se transformou em um hit, com enormes filas sendo formadas nas lojas. Vendeu tudo! O próprio sistema de e-commerce da HP entrou em colapso com a inesperada enorme procura.

O valor percebido explica essa aparente contradição no comportamento dos usuários. O pessoal não topou pagar pelo TouchPad o mesmo que a Apple cobra pelo iPad 2. O webOS também parece ter jogado contra o tablet da HP, tanto que alguns usuários estão tratando de encontrar uma maneira de instalar o Android no TouchPad adquirido na bacia das almas.

Afinal, alguém pode bater a Apple e seu aclamado iPad? Nos últimos meses, pude experimentar vários concorrentes, todos rodando Android: pela ordem, Samsung Galaxy Tab e Galaxy Tab 2, STI myPad, Motorola Xoom e Lenovo ThinkPad Tablet. Todos eles tinham alguma (ou muita) coisa melhor que o iPad 2, alguns tinham um hardware claramente superior ao da Apple. Por que não conseguem então rivalizar em vendas com o iPad?

O problema está no Android. Não, o sistema operacional do Google é muito bom, em muitos aspectos superior ao iOS da Apple. Mas ele –especialmente a versão 3 (Honeycomb), criada para tablets– demorou a chegar, dando tempo para o iPad abrir uma enorme vantagem de mercado. Como resultado, os aplicativos para iOS estão muito mais maduros que os de Android, além de uma ter oferta mais ampla. Além disso, todos os principais produtores de conteúdo já abraçaram o iPad (muitos até o veem até como a tábua de salvação para uma indústria de mídia em crise), e só agora começam a pensar em produtos para os tablets Android.

Por conta disso, a Apple está sozinha demais nesse jogo. Dita regras draconianas para a comunidade de desenvolvedores de software e de conteúdo. Até mesmo seus usuários são obrigados a fazer as coisas do seu jeito (alguém aí já tentou colocar –sem pagar– sua música preferida como toque em um iPhone, algo ridiculamente simples em qualquer outro celular?).

Por isso, o movimento da HP foi um balde de água fria para aqueles que –como eu– esperam pelo surgimento de concorrentes que enfrentem o iPad de igual para igual. O hardware dos mais recentes tablets Android já chegaram lá. O Android em si também. Falta melhorar a oferta de aplicativos e de conteúdo.

Não podemos esquecer do Google, com Larry Page de novo no timão. Acaba de comprar a divisão de mobile da Motorola pela bagatela de US$ 12,5 bilhões. Não há dúvida que coisa boa sairá disso. A briga dos tablets ainda vai esquentar. Que bom! Tomara que derreta metal!

O Google+ superará o Facebook?

By | Tecnologia | No Comments
A nova rede social do Google traz inovações interessantes, mas ainda precisa preencher lacunas antes de ameaçar o Facebook

A nova rede social do Google traz inovações interessantes, mas ainda precisa preencher lacunas antes de ameaçar o Facebook

Você já aderiu ao Google+? Quando ouvi falar da nova rede social do gigante de buscas pensei: “mais uma…” Pois bem: ela ainda não completou seu primeiro mês no ar e nem foi lançada oficialmente -o que está previsto para o dia 31 de julho- mais de 10 milhões de pessoas, inclusive eu, já aderiram a ela.

As comparações com o Facebook aparecem em toda parte e a mais comum é afirmar que a rede de Mark Zuckerberg demorou cerca de dois anos para atingir a mesma marca. Mas elas não são justas, pois o Facebook surgiu a partir de um conceito de exclusivismo elitista, em contraste com o de completa abertura inicial do Google+. Além disso, esse último foi para o ar empurrado pela gigantesca expectativa em torno de um produto dessa natureza na família do Google, enquanto o Facebook nasceu das mentes de um bando de estudantes então desconhecidos.

A pergunta que realmente merece ser feita é: o Google+ superará o Facebook? Por enquanto, a carteira de 10 milhões de usuários do Google+ está longe de ameaçar a de 750 milhões do rival. Pesa contra o Google também um Orkut, que fez sucesso apenas no Brasil e uns poucos países sem muita expressão, e dois fracassos em produtos da mesma natureza: o Google Wave e o Google Buzz.

Mas a turma de Larry Page parece ter aprendido com os seus erros: o Google+ tem recebido muitos elogios da imprensa especializada e de seus entusiasmados primeiros usuários. Soube aproveitar o melhor dos concorrentes: como li por aí, “se o Facebook e o Twitter tivessem um filhote, ele seria o Google+”.

Apesar de boas idéias e uma construção esmerada, a nova rede ainda tem, entretanto, muito pouco a oferecer. O Google está se apressando em integrar todo o seu portfólio ao novo produto: já fez isso muito bem com o Google Talk e com o Picassa (agora Google Photos), além do próprio buscador; na sequência, virão o Blogger (rebatizado de Google Posts) e o Google Docs.

Mas mesmo quando todos os produtos estiverem bem costurados, o problema do Google+ é que ele será “apenas” uma rede social bem concebida e com recursos interessantes. E isso está longe de ser suficiente para ameaçar o Facebook. Isso só acontecerá quando o Google fizer o mesmo que seu concorrente, que se transformou em uma plataforma de desenvolvimento de aplicativos de toda natureza. Desde os aclamados jogos sociais da Zynga, como FarmVille ou CityVille, até inofensivos aplicativos, o Facebook ofereceu a uma legião de milhares de desenvolvedores a possibilidade de terem acesso a informações de seus 750 milhões usuários, que graciosamente as oferecem em troca de funcionalidades que tornam a sua experiência online mais divertida e poderosa. Isso sem falar nos recursos de integração do Facebook aos sites de qualquer pessoa, tornando-os mais funcionais.

Não há nenhuma dúvida que esses são os grandes responsáveis pelo sucesso do Facebook, o que dá mais sabor e cor à rede de Zuckerberg. Sem eles, seria apenas mais uma rede social das “antigas”, como o decadente MySpace ou o finado Friendster. Se o Google+ não seguir essa linha, não superará  o Facebook, ficando restrito a um “nicho” de alguns milhões de usuários.

As revistas querem mostrar que não estão mortas

By | Jornalismo, Tecnologia | One Comment
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=aGVniqgWSc0]

No dia 1º de março, cinco dos publishers mais importantes do mundo, Charles Townsend, da Condé Nast, Cathie Black, da Hearst Magazines, Jack Griffin, da Meredith Corporation, Ann Moore, da Time Inc., e Jann Wenner, da Wenner Media, anunciaram um campanha publicitária para mostrar ao seu público –e ao mercado publicitário– que as revistas não morreram e que ainda são um excelente negócio para os anunciantes.

A iniciativa, batizada de Magazines: the power of print, foi lançada durante a conferência da Associação Americana de Agências de Publicidade, que aconteceu em San Francisco (EUA). A um custo de US$ 90 milhões, circulará durante sete meses em cerca de uma centena de revistas desses grupos e seus sites, além de publicações de terceiros. O vídeo acima é parte dessa campanha, estrelado pelos executivos das revistas.

O objetivo da campanha é claro: dizer que as revistas trazem o melhor custo-benefício publicitário. O “inimigo” também está bem definido: a Internet, praticamente materializada em torno do Google. E a mensagem gira em torno do fato de que uma nova tecnologia não mata a anterior. Ou seja, as revistas continuam existindo, apesar da Internet, contrariando os arautos do apocalipse.

Puxa vida, eles descobriram isso sozinhos ou precisaram ajuda? Ok, claro que a ideia é sensibilizar as agências de publicidade, mas o tom da campanha chega a ser revanchista, colocando as revistas em franca defensiva. Apresentam várias métricas (de entidades ligadas à mídia impressa) que indicam aumento do leitorado, mas, em nenhum momento citam que revistas e jornais perdem, ano após ano, fatia do bolo publicitário, enquanto a Internet aumenta a sua. Será que precisa de tudo isso? Além do mais, se a coisa está tão boa assim, por que tanta preocupação em mostrar ao mundo tamanha obviedade?

Todas essas publicações possuem a sua versão online. Mas o fato é que essas empresas têm sido, até agora, incapazes de conter o rombo no budget de suas revistas –a cash cow de todas elas– com os crescentes (porém ainda proporcionalmente minguados) ganhos com suas iniciativas digitais. E isso acontece especialmente porque elas insistem em migrar para uma nova realidade o mesmo modelo de negócio que funcionava tão bem para o papel.

Infelizmente não funciona. A Web desafia a todos a criarem modelos totalmente novos. Ao invés de combater o Google, deveriam aprender algo com ele. E isso significa parar de querer adaptar o que já fazer e pensar MESMO fora da caixa.

Há alguns dias, estava conversando em off com o diretor de uma editora de livros didáticos, e ele disse que esse grupo –que ainda está com um pouco mais de tempo que as editoras de revistas e jornais para cair de cabeça na Internet– precisa agora começar a se aventurar com seriedade em produtos verdadeiramente digitais. Inclusive porque ainda têm fôlego para cometer erros. Na sua análise, se começarem a tentar –e errar– apenas daqui a dez anos, poderão ser postos para fora do negócio, pois então ninguém mais precisará deles. Exatamente a situação em que a indústria fonográfica está hoje: quem precisa deles ainda?

Acho que esses US$ 90 milhões poderiam ser mais bem usados estudando modelos de negócio alternativos. Afinal, a Internet não vai matar as revistas, mas certamente fará com que elas mudem sua forma, em um sentido bastante amplo.

Até onde vai o vale-tudo na China?

By | Tecnologia | No Comments
David Drummond, principal executivo jurídico do Google - Foto: divulgação

Drummond botou a boca no trombone, mas o que realmente há por trás da reação do Google?

Pergunte a qualquer grande empresário se ele gostaria de ter uma operação na China e a resposta provavelmente será sim. Entrar no gigante vermelho é quase como uma medalha de mérito, pois representa acesso a um mercado gigantesco e ainda com muito espaço, com custos de produção muito baixos que levam também a exportações para todo mundo de maneira muito competitiva.

Mas, há seis dias, David Drummond, principal executivo jurídico do Google publicou o post “uma nova abordagem para a China” no blog oficial da empresa, informando que a empresa e dezenas de outras foram alvos de ataques de hackers chineses. Até aí, nada demais. Mas o vice-presidente afirmou categoricamente que os ataques tinham, como alvo, contas de e-mail de ativistas de direitos humanos daquele país. Ainda que não tenha dito explicitamente, ficou no ar a ideia de que o governo chinês poderia estar por trás daquelas ações.

O Google afirma que, diante disso, mudará a postura de sua operação local, não mais aceitando a interferência e as regras do governo de Pequim, que obriga a empresa, por exemplo, a censurar os resultados de seu buscador, eliminando links para páginas que o governo considera contrárias a seus interesses. Quando foi anunciada, essa censura causou grande desconforto entre os usuários, inclusive maculando o mote informal do Google, “don’t be evil” (“não seja mau”).

Algumas empresas declararam apoio ao Google –como o Yahoo!– e outras nem tanto –como a Microsoft. E, apesar de a secretária de Estado do EUA, Hillary Clinton, ter dito que as acusações do Google “motivam preocupações e questionamentos muito sérios”, é pouco provável que o incidente provoque alguma crise política entre Washington e Pequim.

Vamos aos fatos! Qualquer empresa que quiser operar no mercado chinês tem que aceitar as regras e a interferência do governo local, e isso não vai mudar. Yao Jian, porta-voz do ministério do Comércio chinês já reiterou isso, após negar que o governo tenha relação com os ataques. Todas as empresas, de qualquer indústria, aceitam essa regra e os computadores vendidos no país vêm com um software-espião, batizado de Green Dam (“barragem verde”).

MAS… será que a China é a única “malvada”? Com toda essa gritaria, alguém se lembrou que as mesmas empresas também colaboram com o governo americano, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001? O próprio CEO do Google, Eric Schmidt, sugeriu publicamente, no fim do ano passado, que ninguém deve colocar na Internet algum tipo de informação da qual possa se arrepender, pois a privacidade total não existe. No final das contas, há mesmo uma diferença nas investidas dos governos dos EUA e da China contra a privacidade? E tem ainda o nosso senador Eduardo Azeredo e seu famigerado projeto de lei, que quer “regular” a Internet brasileira.

Como se pode ver, tá todo mundo com o rabo preso.

Como a maior fusão da história fez água

By | Jornalismo, Tecnologia | No Comments
Enquanto eu descansava nos Andes, a coisa pegava fogo

Enquanto eu curtia a paisagem (merecidamente), a coisa pegava fogo pelo mundo

Voltei de férias pelo interior dos Andes (vide foto), onde pude realmente me desligar do mundo, e me deparei com um clima enlouquecido, Daniel Dantas livre, tentativas de cerceamento da imprensa e ideia loucas de mexer no vespeiro da anistia. É também o momento em que o Google assume que sofreu ataques de hackers chineses, com seu advogado sugerindo que teriam sido patrocinados pelo próprio governo chinês e ameaçando encerrar a operação local (falarei sobre isso mais tarde).

Mas é também o momento em que a maior fusão -e um dos maiores fracassos- da história acaba de completar dez anos: a compra da Time Warner pela America Online. E desde que eu deixei a operação brasileira, poucos meses antes do seu fechamento, ouço recorrentemente duas perguntas: por que o negócio não deu certo no Brasil e como a fusão acima fracassou.

Realmente a coisa tinha tudo para dar certo… mas deu errado. A explicação extra-oficial da época -e ela realmente explica muito- é que o negócio ruiu devido a diferenças culturais entre as duas empresas e seus respectivos funcionários e a uma crescente animosidade entre os grupos, que não só não foi controlada pela direção do grupo, como foi amplificada por ele.

Mas agora, passada uma década, podemos ver com mais facilidade que havia um outro fator decisivo: a Internet, que era quase como uma concorrente da “velha AOL”, que aglutinava seus assinantes em torno de seu gigantesco serviço proprietário, estava começando a virar de pernas para o ar os modelos de negócios vigentes tanto do lado da AOL quanto da Time Warner. Para piorar tudo, a bolha ponto-com estourou justo naquela época e a AOL ainda se viu envolvida em escândalos financeiros.

Aquilo foi praticamente a semente do tsunami que vem varrendo a mídia tradicional nos últimos anos, destruindo empresas de comunicação centenárias. E pode-se dizer que o epicentro disso é o Google, a empresa que soube mover-se com rapidez e habilidade sobre os escombros do gigantesco fracasso.

O The New York Times publicou uma excelente reportagem sobre os motivos do fracasso da fusão, depois de ouvir praticamente todas as pessoas-chave do acordo. Vale a pena a leitura!

Dos escombros, as duas empresas finalmente se separam em dezembro. A AOL tenta se reinventar para recuperar pelo menos parte do brilho que teve no passado. As empresas da Time Warner têm seus próprios problemas. Em ambos os casos, a Internet, que jogou água na festa de Steve Case e Gerald Levin, é quem agora impõe os desafios para que ambos sigam adiante.

A Microsoft consegue bancar um bloqueio ao Google?

By | Jornalismo, Tecnologia | No Comments
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=sewucH3rOPM]

Há cerca de um mês, começaram a pipocar aqui e ali rumores sobre um suposto acordo que, de tão bizarro, parecia mais um daqueles boatos disseminados pela Internet. Mas de boato, eles não tinham nada. O fato é que a Microsoft está em sérias conversações com a News Corp. O objetivo: a turma de Steve Ballmer pensa em pagar para que a de Rupert Murdoch impeça que o conteúdo de suas publicações –o que não é pouca coisa, incluindo aí o The Wall Street Journal– seja indexado pelo Google, passando a ser encontrado apenas no Bing, o novo buscador da Microsoft.

Tirar o seu conteúdo do Google para deixá-lo restrito ao Bing, que mal faz cócegas ao primeiro? Provavelmente todas as pessoas, exceto as envolvidas no acordo, diriam que isso é uma enorme estupidez. Afinal, como apontou recentemente a consultoria Experian Hitwise, 21% de TODO o tráfego de sites de jornais vem do Google, contra míseros 2% do Bing. Essa troca de conteúdo por tráfego seria o “uso justo”, que embasa a defesa do Google no assunto.

Mas, para Rupert Murdoch, a idéia parece fazer sentido. Já há bastante tempo, ele classifica os buscadores –especialmente o Google– como ladrões, com todas as letras e sem aspas. Isso pode ser visto, por exemplo, no vídeo acima. Mas, se agora um buscador quer justamente pagar pelo conteúdo, a coisa muda de figura.

Já a Microsoft parece estar disposta a usar de força monetária bruta para tentar fazer o Bing decolar. No seu raciocínio, se o internauta só encontrar conteúdos relevantes no seu produto, pode deixar de usar o Google. Tanto é assim que a turma de Redmond estaria tendo conversas de teor semelhante com outros grupos de mídia, em uma tentativa de pegar só para si o conteúdo que fosse realmente útil, deixando ao Google os “restos”.

Parece fazer sentido. Onde está a falha nesse conchavo?

Já em 2005, eu dizia aos meus alunos do curso de Jornalismo da Metodista que um dos maiores desafios que eles enfrentariam era o fato de que (já naquela época) o que nós produzimos havia virado commodity.

Do lado da News Corp. aí está a falha. Eles produzem um bom conteúdo? Certamente sim. Eles são os únicos capazes de fazer isso nesse nível? Certamente não. Ainda é preciso ter muito dinheiro para fazer jornalismo de alta qualidade? Certamente NÃO: por isso a News Corp. e a grande mídia concorrem com uma legião de indivíduos e pequenas empresas pela audiência e pelo bolo publicitário.

Já do lado da Microsoft, a falha é: a Internet é grande demais para ser comprada. Essa estratégia teria alguma chance de dar certo se todos os grandes produtores de mídia abraçassem a idéia, mas vários deles já anunciaram que não vão entrar nesse barco furado. Para eles (e para mim), as pessoas não deixarão de usar o Google se o conteúdo da News Corp e de um punhado de outros reacionários não aparecer mais em seus resultados. Se entrassem, eles não apenas não lucrariam com o inexpressivo Bing, como perderiam a chance de monetizar o tráfego que receberiam do Google.

Há ainda uma “continha básica” a ser feita. Apesar da gritaria de Murdoch, suas publicações efetivamente fazem dinheiro com os internautas que o Google lhes envia. Podem ser migalhas individualmente, mas 21% de todo o seu tráfego está longe de ser café pequeno. Perder esse tráfego do Google e o dinheiro associado para migrar ao Bing só faz sentido se a Microsoft bancar essa diferença com vantagens para a News Corp. Mesmo para a gigante de Redmond, até quando eles estarão dispostos a fazer isso, já que seus ganhos não devem ser proporcionalmente expressivos? E ainda querem fazer o mesmo para um grande número de grupos de mídia? Eu chamo isso de dumping.

Honestamente, Murdoch pode até achar o Google uma empresa bandida conduzida por moleques irresponsáveis. E daí? Em uma nova ordem mundial da mídia, onde o conteúdo por si só perdeu completamente o valor (algo que ele, como dono desse império, se recusa a aceitar), provavelmente tem muito a aprender com eles. Isso sim é fazer negócio.

O Chrome OS é o Windows killer?

By | Educação, Jornalismo, Tecnologia | No Comments
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=0QRO3gKj3qw]

Resposta simples: não, não é. Mas esses caras do Google são… danados!

Hoje foi exibido pela primeira vez o conceito do Chrome OS, a proposta do Google para um sistema operacional. Não vou entrar em detalhes sobre o que é, pois meu colega Sérgio Teixeira já fez isso muito bem neste post aqui em seu blog no Portal Exame. Leiam! Mas o vídeo acima é um bom resumo.

Voltando à pergunta-título deste post, o Chrome OS vai acabar com o Windows? Não (ainda não). Ainda há muitas coisas que só dá para fazer com um computador, digamos, “grandão”. Os próprios vídeos feitos pelo Google, dizem isso sem dizer. MAS… o que eles dizem dizendo é que a grande, a imensa maioria do seu tempo diante de um computador, você passa em tarefas que são feitas na Internet ou que já poderiam ser feitas pela Internet. Ainda mais agora que os serviços online estão ficando incrivelmente sofisticados e poderosos.

Curioso: quem faz essas coisas melhor que qualquer outra empresa é… o Google. Hmmmmm… Gmail, Gtalk, Docs, Livros, Picasa, Maps, YouTube, News, Blogger, Wave… Busca. Só para citar os mais óbvios.

Tenho usado constantemente um ClassmatePC Convertible, da Intel. Ok, o teclado é minúsculo, mas ser tão pequeno é uma enorme vantagem que você aprende a gostar muito rapidamente. Uso o bichinho muito! Instintivamente, não tenho NENHUM arquivo de dados nele, e isso não faz a menor falta: ou estão na “nuvem” ou em um pen drive (eles têm espaços cada vez mais generosos).

Para meu desktop no trabalho e em casa, não dá para abrir mão do Windows. Mas, para aquele netbook, o Chrome OS seria simplesmente perfeito! Ainda mais rodando o Google Wave nele.

Calcanhar de Aquiles? Claro: você tem que estar online o tempo todo, o que não é uma realidade brasileira. Mas é a realidade crescente nas escolas e nos domicílios da classe A e B, o que torna o sistema operacional um ganho inestimável para educação. E também é incrível para jornalistas, pois praticamente tudo em seu cotidiano pode ser feito com mais praticidade em um netbook conectado a sistemas já disponíveis na nuvem.

Ou seja: estamos alinhados. Food for thinking.

Se estivesse “viva”, AOL Brasil completaria hoje dez anos

By | Tecnologia | 2 Comments
Arte sobre foto

AOL Brasil, descanse em paz, até a sua volta (???)

Há exatos dez anos, tinha início uma das maiores empreitadas (e aventuras) da Internet brasileira. No dia 16 de novembro de 1999, a AOL Brasil lançou oficialmente o seu serviço, inaugurando as operações do então maior provedor de acesso do mundo na América Latina.

Seis anos e cerca de US$ 250 milhões depois, a mesma operação fechou melancolicamente as portas, vendendo sua base restante (cerca de 130 mil usuários pagantes) ao Terra.

Até hoje, diferentes pessoas me perguntam como aquilo pode ter dado errado. Afinal, dinheiro e vontade de investir não faltavam. A empresa era “o lugar para se estar” naqueles anos, algo semelhante ao que o Google representa hoje, portanto também contava com um seleto grupo de profissionais de primeira linha. A AOL trazia ainda para o país uma tecnologia inédita (a despeito de mancadas da primeira versão de seu navegador proprietário, que andou bagunçando protocolos de rede do computador de algumas pessoas).

Minha resposta a quem me pergunta isso é sempre: falta de foco nos negócios e uso irresponsável do dinheiro. Apenas como exemplo, quem em sã consciência investiria US$ 24 milhões em uma única iniciativa de marketing? A AOL Brasil investiu essa soma ultrajante no vaporware Rock in Rio 3, que lhe rendeu residual zero após seis meses.

No começo desse ano, começaram a surgir rumores que a AOL estaria se preparando para voltar ao país, contrariando os prognósticos dos usuários saudosistas mais otimistas. Mas é fato que vários produtos atuais da gigante online de Dulles já têm sua versão localizada para o Brasil. A nossa bandeira inclusive já figura de novo na página de sites internacionais do serviço americano. O que vai sair disso, só o tempo dirá.

Enfim separados

By | Tecnologia | One Comment
AOL e Time Warner, uma das fusões mais festejadas e catastróficas do mundo dos negócios, anunciaram a separação formal para que a primeira tente retomar o brilho perdido

AOL e Time Warner, uma das fusões mais festejadas e catastróficas do mundo dos negócios, anunciaram a separação formal para que a primeira tente retomar o brilho perdido

Hoje foi oficialmente anunciado o fim de um dos mais conturbados casamentos do mundo dos negócios: a America Online e a Time Warner irão oficialmente se separar. No processo, que deve ser concluído até o fim do ano, a segunda, já dona de 95% da AOL, comprará do Google os 5% restantes, convertendo tudo em ações da “nova” companhia online, que volta a ser negociada na Nasdaq.

A união durou quase uma década. Ela foi celebrada pouco antes do estouro da “bolha ponto-com”, que fez o valor dos papéis da então recém-criada AOL-Time Warner despencar, provocando a ira dos acionistas vindos do centenário grupo de mídia. Mas, muito além disso, o que tinha tudo para ser uma fusão de interesses empresariais brilhante demonstrou-se uma catástrofe corporativa por diversos motivos que não cabem aqui nesse post.

Pelo discurso oficial, a cisão dará a AOL a chance de tentar retomar pelo menos parte do seu brilho do passado. A empresa já foi maior que toda a Internet, criadora de conceitos que permeiam o nosso dia-a-dia, como mensagens instantâneas, e abriu a porta do mundo online para uma multidão em vários países. Ainda hoje, seus diferentes sites acolhem mais de 100 milhões de usuários únicos por mês, atingindo, de alguma forma, 91% da audiência online doméstica e representando o quarto destino na Internet mais visitado nos EUA. E, acreditem se quiser, ainda têm uns 10 milhões de usuários pagantes pelo serviço de acesso (!!).

Por outro lado, sua imagem ficou totalmente arranhada depois da fusão. A empresa é vista como um dinossauro digital, grande e lento, incapaz de inovar e que, por isso, come poeira dos concorrentes, mais notadamente do Google. A idéia é que, livre das amarras da Time Warner, um pessoal também não exatamente conhecido pela inovação ou arrojo em seus produtos, a empresa consiga ser mais ágil.

Algumas coisas já vêm acontecendo nesse sentido. O modelo de negócios, que à época da fusão privilegiava a assinatura de acesso, hoje migrou para a publicidade online dirigida. Por isso a empresa não pára de comprar sites e abrir outros tantos. Paralelamente, muitas cabeças estão sendo trocadas, e algumas das mais importantes vieram justamente do Google, inclusive o novo diretor de publicidade e estratégia, Jeff Levick, e o novo CEO, Tim Armstrong.

Se Armstrong, que tem nome de astronauta, conseguir reverter a espiral para baixo, ganha as estrelas merecidamente. A questão é saber se o divórcio  não veio tarde demais.

“Uso mais que justo”: remunerado

By | Jornalismo, Tecnologia | 5 Comments
O Google e a mída: quem carrega quem?

O Google e a mída: quem carrega quem?

Na última reunião anual da Associação de Jornais da América, Eric Schmidt, CEO do Google, defendeu, em sua palestra, que o Google News ajuda os jornais, conduzindo gratuitamente tráfego para seus sites. Assim, os veículos faturariam com publicidade em suas páginas. Seria, portanto, um “uso justo” de porções desses conteúdos para viabilizar o Google News, tentando diminuir a crescente gritaria de que o serviço estaria pirateando trabalho alheio em seu único benefício.

Esse é seu ponto de vista.

No meu post Limites do “uso justo”, no dia 16, analisei essa idéia. Ela é legítima e pesquisas subsidiam e idéia de Schmidt. Só há uma falha nesse raciocínio: por mais que os internautas caiam nas páginas dos veículos, isso não é suficiente para salvá-los do atual desastre econômico. Apesar de o CEO do Google ter parecido arrogante para muitos (e talvez tenha sido mesmo), sou obrigado a dizer que os responsáveis por esse fracasso da mídia na Internet são as próprias casas editoriais, que sempre menosprezaram suas publicações online. Muitas ainda fazem isso, mas agora, com a água no pescoço, bradam palavras de ordem contra a inevitabilidade dos fatos online.

Maureen Dowd, colunista do The New York Times, resumiu esse sentimento em um artigo publicado no último dia 14. Em determinado ponto, ela escreveu: “por que o Google não nos assina um gordo cheque por usar as nossas histórias, de modo que possamos manter salários e balanços e continuemos a oferecer ao buscador nossas histórias?”

Bom, esse é outro ponto de vista válido.

E então vem o renomado consultor de mídia Steve Outing, com quem costumo concordar, e sugere em seu blog que o Google News passe a exibir mais publicidade (hoje ela é bem tímida), distribuindo uma porcentagem de seus ganhos aos provedores de conteúdo que forem clicados em cada uma das páginas do serviço. Dessa forma, o Google ajudaria, segundo Outing, os jornais a saírem da lama em que se encontram e evitaria um movimento non-sense de muitos dinossauros da (grande) mídia, que querem fechar o seu conteúdo apenas para assinantes, algo que não interessaria ao internauta ou ao próprio Google.

Dessa vez, concordo apenas parcialmente com Outing. Não acho que caiba ao Google -ou a qualquer um- salvar jornais de sua própria incompetência econômica. Tampouco gostei do tom quase ameaçador do tipo “ajude-os ou você ficará sem conteúdo”. As coisas não funcionam assim.

O bom jornalismo é algo crítico para todas as sociedades. Sem ele, nossa cidadania se reduz gradativamente. Felizmente a crise atual não acabou com ele: dos recém-entregues Prêmios Pulitzer, muitos foram para alguns dos veículos mais afetados pela situação da economia. O The New York Times levou cinco deles, seu segundo melhor desempenho da história, apesar do prejuízo de US$ 74,5 milhões anunciado na semana passada.

O gigante de buscas já tem acordos com a Associated Press e com a France Presse pelos seus conteúdos usados no Google News. Os jornais podem aprender muito com a turma online sobre como ganhar dinheiro nesse novo cenário econômico. Mas precisam se despir de preconceitos e de idéias vetustas que os levaram ao buraco em que estão.

Limites do “uso justo”

By | Jornalismo, Tecnologia | 2 Comments
O CEO do Google insiste na queda de braço do "uso justo" contra os executivos da indústria de mídia

O CEO do Google insiste na queda de braço do "uso justo" contra os executivos da indústria de mídia

No último dia 7, Eric Schmidt, CEO do Google, colocou o dedo na ferida: o Google News mais ajudaria que atrapalharia jornais, revistas e outras fontes de informações. Não é bem o que eles pensam. Na verdade, cresce o coro de executivos da mídia que acha que o serviço se apropria indevidamente de seus conteúdos para gerar a sua página de notícias automática. O Google rebate, afirmando que faz apenas “uso justo” (“fair use“) desse material alheio e que os jornais se beneficiam grandemente do tráfego que ele lhes gera, já que usa apenas pequenas porções de textos e imagens, remetendo os internautas aos sites de origem das notícias.

O discurso de Schmidt aconteceu em plena reunião anual da Associação de Jornais da América e foi seguido de perguntas relativamente comedidas da platéia, formada por líderes da indústria. O momento estava cheio de ganchos para a fala do CEO: a mídia -especialmente jornais dos EUA- está atravessando uma crise sem precedentes, com a bancarrota de vários títulos tradicionalíssimos, o Google começou a veicular anúncios no Google News e a Associated Press resolveu endurecer na proteção dos direitos de propriedade intelectual do material que ela distribui.

Essa discussão não é nova: em março de 2005, a France Presse processou o buscador, pedindo US$ 17,5 milhões de indenização pelo uso de seu material no Google News. O processo foi arquivado dois anos depois com um acordo entre as partes. Os detalhes não foram revelados, mas o Google News pôde continuar publicando material da agência francesa. Um ano antes disso, um acordo semelhante já havia sido firmado com a Associated Press (que nem chegou a processar o Google). E essa briga também remete a outro assunto que já rendeu acalorados debates, mas anda em baixa: o “deep linking“, que significa um site apontar diretamente para matérias ou artigos de outros sites, ignorando suas home pages. Exatamente como fazem os links nesse post, por exemplo.

A discussão atual gira em torno do que é “uso justo” do material de terceiros. Assim como no Brasil, nos EUA é legalmente aceitável usar porções limitadas de produtos alheios (até mesmo de concorrentes), dentro de condições específicas. Um exemplo clássico é o uso de até três minutos de imagens esportivas geradas por emissoras de TV nos programas jornalísticos de outros canais.

Porém, como acontece sempre que existe um juízo de valor envolvido, o limite entre “uso justo” e uso indevido é tênue. O próprio Schmidt disse no evento que isso depende da escola que o jurista seguir, mas fez questão de acrescentar que, na dúvida, a balança deve pender para o lado do consumidor. Nas entrelinhas, jogou a batata quente no colo dos donos de jornais: se não concordassem, poderiam ser taxados de anacrônicos e  contrários aos interesses dos internautas.

Os executivos, por outro lado, sentem-se pressionados para manter suas operações -mais que rentáveis- vivas em meio à crise. Muitos pensam em fechar o seu conteúdo, indo na contra-mão da indústria, outros estudam a adoção de micropagamento ou de outros modelos alternativos. Nesse cenário de incertezas, o Google News pode, em suas visões, ameaçar o “controle” dos produtores de conteúdo.

Então vem o Google e argumenta que, qualquer que seja o modelo de negócios adotado, ele é o maior parceiro do produtor de conteúdo, pois nada lhe geraria mais tráfego individualmente que o Google News e sua tradicional busca. E ele tem razão. Estudo realizado pela empresa de pesquisas Hitwise Intelligence mostra que, de todo o tráfego dos sites de notícias em março, 21,69% foi gerado pelo Google e outros buscadores. Os executivos da mídia sabem disse e declaram que não querem perder um “parceiro” tão importante.

Apenas não querem fornecer o conteúdo para que ele crie as páginas que lhes geram esse tráfego…